Lei da oferta e da procura
Regra importante: nunca sair de casa sem uns trocos no bolso (Foto: IMAGO)

Pontapé de Estugarda Lei da oferta e da procura

OPINIÃO20.06.202409:00

As particularidades das casas de banho na Alemanha

Já o tinha aflorado por aqui, mas à medida que vou ouvindo os relatos dos meus camaradas espalhados pela Alemanha vejo que é um tema nevrálgico a necessitar de um estudo aprofundado: as casas de banho. Não a configuração, nem as cores, muito menos a estrutura, mas o facto de serem poucas e, por isso mesmo, um serviço maioritariamente pago. É a lei da oferta e procura a funcionar no seu esplendor: os seres humanos civilizados precisarão sempre do serviço, quem o providencia sabe disso e com o passar do tempo a regra torna-se intuitiva: nunca sair à rua sem uns trocos no bolso porque nunca se sabe que tipo de apertos poderão surgir.

É um daqueles paradoxos da era contemporânea: o país que mais cedo ou mais tarde vai adotar a obrigação dos pagamentos digitais como já acontece alguns locais de Londres ou Amesterdão onde não se aceita outra coisa que não a tecnologia, continua a ter espalhadas cabines de moedinha pelo centro das cidades como única solução. Ao contrário de Portugal, onde se pode entrar numa pastelaria, pedir uma água e usar o WC, por aqui os cafés não têm casas de banho para o público. E mesmo nas galerias comerciais (pelo menos no centro de Estugarda) o esquema é semelhante, embora mais humano: é uma senhora de idade avançada à entrada do espaço que recolher os 70 cêntimos que temos de entregar em troca da utilização das instalações. Meio a brincar, ainda lhe perguntei se tinha algum terminal onde pudesse encostar o telemóvel para usar o cartão virtual da empresa, ao que me respondeu com rosto fechado e apontando com os olhos para o pires onde estavam as moedas pretas. Ainda usei o velho truque da nota mais alta para uma conseguir uma borla, mas esta gente está preparada para tudo: desarmou-me imediatamente, murmurando algo como um ‘claro que tenho troco’. «Então são €1,4 que pago o do Ivo também».

Mas depois percebemos que tudo tem uma lógica: na fan zone as cabinas são gratuitas e higiénicas (até têm espelho), incomparáveis com o que se vê nos festivais de Verão em Portugal. Talvez seja este otimismo sobre um país onde as regras fazem quase sempre sentido que ainda acredito receber o email da fatura prometida pela salsicha no pão na barraquinha de comes e bebes.