Um treinador não é um adepto
Miguel Nunes/ASF

Editorial Um treinador não é um adepto

OPINIÃO09.10.202310:52

Um dia mau na carreira de Schmidt. Depois daquele jogo, a sua inaceitável explicação.

Não importa como se ganha, o que importa é ganhar, disse Roger Schmidt no final do jogo com o Estoril. Eis uma declaração perturbadora, depois de um jogo em que o Benfica mostrou um tão inexplicácel como evidente retrocesso competitivo. 

De facto, a afirmação é mais própria de um daqueles adeptos incondicionais que querem que o seu clube ganhe, nem que seja com um golo metido com a mão e em fora de jogo. Mas não é uma declaração de um treinador que respeita o jogo, a equipa, os adeptos de futebol e até, mesmo, a sua profissão. Schmidt teve, pois, um dia particularmente infeliz na sua carreira. Primeiro, porque perante as dificuldades que o adversário oferecia de forma insistente e competente, bloqueou. Ficou mais de uma hora parado a olhar o jogo como se, de facto, ele não estivesse a acontecer em frente aos seus olhos.

Não mudou, não emendou, mesmo nos momentos mais críticos da equipa, e acabou por tentar resolver com soluções óbvias que deviam ter sido tomadas em tempo mais oportuno. O facto disso não ter acontecido coloca uma dúvida que só poderá ser respondida no futuro: o que se passa com este treinador e com este Benfica para estarem tão distantes do compromisso com um sistema muito definido de jogo e, acima de tudo, com a intensidade competitiva que foram determinantes na conquista do campeonato na época passada? 

Fica-se com a sensação de que esta paragem do campeonato para os jogos da Seleção é o soar de um gongo salvador para o Benfica e para o seu treinador. Importa que use o tempo de descanso para pensar o que vai mal no reino da Luz e encontrar soluções. Perceber por que razão jogadores que chegaram a ser nucleares como Rafa ou João Mário parecem morar, agora, num outro mundo de sonho e fantasia. Entender por que razão um jogador em permanente rotação e de inesgotável energia, como Aursnes, parece, esta época, tão cansado e muito menos influente no jogo. E por que razão Arthur Cabral, que custou muitos milhões, leva tanto tempo a aparecer em condição de jogar um jogo a sério. 

Não, não acredito que Roger Schmidt acredite, mesmo, naquilo que disse. Fê-lo por poupança de ideias ou por mera conveniência na resposta aos jornalistas. Mas é bom que se detenha, a sério, na razão pela qual ganhou o jogo daquela maneira.