Um evangelho sem crentes

OPINIÃO03.01.202205:55

Jorge Jesus nunca conseguiu transmitir a ideia de que tinha a solução e fracassou

NÃO há maiores responsáveis pelo desgaste de Jorge Jesus do que um ano sem títulos, os resultados da época e a falência de um modelo e das suas variáveis, sobretudo no frente-a-frente com os rivais.  Os jogadores, que não são mais do que indivíduos, com todas as qualidades e defeitos que tal pressupõe - mesmo que alguns possam ser catalogados como pecados morais -, têm de ser convencidos. Até certo ponto, pelo currículo, que pode garantir margem de tolerância, depois pela estabilidade exibicional e resultados. Nenhum jogador quer perder, nem que seja porque assim se desvaloriza, enquanto, para piorar o cenário, é difícil reconhecer no ex-técnico do Benfica empatia não só para que os futebolistas se transcendam, mas também para passar na perfeição a mensagem. Quando um plantel inteiro confronta um treinador, a situação é extrema e não a consequência de um ato de indisciplina, se é que o foi, isolado. Os jogadores simplesmente deixaram de acreditar e, sinceramente, há muito que se viam motivos para tal. Jesus não é pior treinador do que aquele que chegou em 2009 para revolucionar o Benfica, porém o que o rodeia mudou. As defesas são mais imunes à pressão e os ataques mais pressionantes, e Jesus não conseguiu nunca afinar, nem com os três centrais, o momento defensivo ou o que fazer em ataque posicional. Nunca conseguiu transmitir a ideia de ter a solução e fracassou.
Nélson Veríssimo tem meia época de oportunidade. É um modelo diferente, como se viu no Dragão, assente em unidades mais próximas e num maior controlo, com bola e sem esta. O jogo trouxe-lhe incidentes que explicam parte do resultado, sem que com isso se coloque em causa a justiça do triunfo de uma equipa mais bem trabalhada, e não terá gerido as substituições da melhor forma, todavia há muito tempo que a equipa estava órfã de uma ideia.