Solidariedade

OPINIÃO14.12.202106:00

Ninguém muda o mundo sozinho, mas se todos fizeram a sua parte muita coisa mudará

ESTES dias tendem a despertar, em cada um de nós, sentimentos mistos. Por regra sentimo-nos mais próximos dos nossos, com mais tolerância perante as coisas difíceis. Sentimo-nos mais felizes e com mais vontade de estarmos com quem gostamos. É normal, é Natal. No entanto, essas não são as sensações que todos sentem. Há muita gente que não é tocada, desta forma, nesta quadra. Há quem não tenha grandes motivos para celebrar, para abraçar festividades, para sentir o espírito natalício. Há quem esteja num lugar cinzento.
Por muitos problemas que tenhamos, por muitos obstáculos que a vida nos coloque, por muito que não nos sintamos realizados, é importante que percebamos que, ainda assim, somos uns privilegiados. E somo-lo porque não temos pela frente os desafios tenebrosos que outros têm. Refiro-me, por exemplo, àqueles que não têm saúde ou que padecem de doenças graves, àqueles que não têm um teto para se proteger do frio, àqueles que são órfãos ou que foram institucionalizados, àqueles que perderam quem mais amavam, àqueles que não estão na plenitude das suas faculdades físicas e mentais, àqueles que vivem no limiar da pobreza ou até na miséria, àqueles que são vítimas de abusos e de maus tratos, àqueles que não têm uma vida digna, com condições mínimas de subsistência. Refiro-me aos milhões e milhões, tão iguais a mim ou a si, que dariam tudo para ter o que temos e para ser quem somos.
O mundo é assim mesmo, um abismo de diferenças entre iguais. Se é verdade que muitas são potenciadas por más escolhas pessoais, também não deixa de ser verdade que outras são ditadas pela crueldade do destino. Nascer num hospital português ou num campo de refugiados na Síria não é uma opção. É sorte ou azar. Mas a convicção de que as coisas são assim não nos deve tornar conformados ou acomodados. Pelo contrário. Deve impelir-nos ao altruísmo, à partilha, à ajuda ao próximo. Deve tornar-nos mais solidários. Ajudar não custa se a ajuda que dermos for aquela que pudermos. E, na verdade, muitas vezes é isso que basta. Ajudar não implica sacrificar. Às vezes, basta oferecer um copo de água a quem tem sede ou um sorriso a quem está triste. Basta dar um cobertor a quem sente frio ou comida a quem tem fome. Quando o coração quer, a alma pode tudo. Depende do momento, da circunstância e da vontade que nos impele.
Este Natal desafiem-se. Façam alguma coisa pelos outros. Peguem nas roupas que já não vos servem e nos brinquedos que os miúdos não usam. Entreguem-nos a uma instituição da vossa área de residência. Façam-no pessoalmente. Levem os vossos filhos. Passem-lhes estes valores também. Visitem quem não tem visitas, quem se sente só. Distribuam sorrisos e palavras de incentivo a quem necessita de um sorriso ou de uma palavra de incentivo. Não o façam (só) por eles, façam-no também por vocês. Pelos vossos. Pelo retorno imensurável que isso vos trará.
Ninguém muda o mundo sozinho, mas se todos fizeram a sua parte muita coisa mudará. Comecemos pela consciência. Parece-vos bem? Então vamos a isso!