Sobre Amorim e Conceição: o desconforto é opcional
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OPINIÃO Sobre Amorim e Conceição: o desconforto é opcional

OPINIÃO30.04.202409:00

Rúben e Sérgio com opções censuráveis nos últimos dias, sobretudo fora do banco

Em seis jogos contra rivais, esta época, só uma vez é que o Sporting entrou em campo com Nuno Santos no onze. Anteontem, frente ao FC Porto, o esquerdino voltou a ficar no banco, e no final do clássico Rúben Amorim explicou que não gosta de colocar nenhum jogador num papel «completamente desconfortável».

Para Nuno Santos haverá poucos lugares mais desconfortáveis do que o banco de suplentes, mas comodidade faltou sobretudo a Gonçalo Inácio na ala, e com efeito de contágio, tendo em conta as limitações de Diomande a construir pela esquerda. Os leões perderam capacidade tanto para jogar por fora como para meter passes verticais para o tridente ofensivo, e quando se viram forçados a jogar direto até devem ter equacionado colocar a bola na direção do banco para ver se Gyokeres de lá saltava.

Com Zé Pedro muito sólido e Martim Fernandes a revelar uma personalidade fortíssima, o FC Porto foi melhor a fazer pressão e também a sair dela, até porque poucos guarda-redes do mundo têm o jogo de pés de Diogo Costa (entre outras virtudes). Gyokeres entrou logo ao intervalo, mas os golos só apareceram nos minutos finais, já com Nuno Santos na ala, insistentemente lançado por Inácio da posição adequada.

O ponto conquistado alimenta a caminhada leonina para o título, ainda que o Benfica esteja agora mais próximo, e ameniza uma semana atribulada para Rúben Amorim, que se colocou em posição desconfortável sem necessidade. Estranhamente, na era do teletrabalho e das reuniões à distância, o técnico decidiu aproveitar duas folgas dadas ao plantel para ir a Londres falar do futuro durante um par de horas, sabendo a probabilidade de ser apanhado. Correu o risco de passar a mensagem de que o título está garantido, e ainda conseguiu, de caminho, chatear o Liverpool. O erro foi assumido em conferência de imprensa, mas faltou um travão à honestidade quando Amorim reconheceu estar mais perdido do que os jornalistas relativamente ao seu futuro.

Tão ou mais incerta está a situação de Sérgio Conceição, mesmo com um acordo de renovação de contrato, derradeiro esforço pela liderança de Pinto da Costa que não evitou uma derrota pesada. Nunca terá sido tão desconfortável assistir a um clássico na principal cadeira do Dragão, ainda que Pinto da Costa tenha recebido uma ovação de agradecimento dos adeptos portistas, incluindo de Villas-Boas — que evitou um certo desconforto protocolar ao despedir-se do lugar anual — e do próprio Sérgio Conceição. Um sinal de gratidão do técnico que em nada colide com os superiores interesses do clube, ao contrário do abraço na apresentação da candidatura de Pinto da Costa, depois de ter dito que não interferia na escolha do presidente, e da renovação de contrato a apenas dois dias do ato eleitoral, e três meses depois de ter dito que não era em final de mandato que se assinavam novos contratos.

A maior dívida de gratidão de Conceição é com o FC Porto, mas personificou-a em Pinto da Costa. Compreensível mas criticável, até porque condiciona a relação com o novo presidente. Em campanha Villas-Boas só podia dizer que contava com o técnico, mas depois da eleição o discurso já mudou ligeiramente. Sérgio mostra-se disponível para conversar com André, mas colocou-se no papel de membro da oposição que tem lugar na estrutura por inerência. Estão anunciadas conversações de paz, mas fica difícil imaginar Conceição a trabalhar com Villas-Boas, Andoni Zubizarreta e Jorge Costa. Desconfortável, no mínimo.