Quinas, olimpismo e Villas-Boas
A grandeza com que José Manuel Constantino andou pela vida foi homenageada em dois eventos distintos. O seu exemplo devia frutificar, a ganhar ou a perder…
Na última semana, dois eventos de caráter social marcaram a vida desportiva portuguesa. Na segunda-feira, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), levou a cabo, no Centro Cultural de Belém, a Gala das Quinas de Ouro, e no dia seguinte o Pavilhão Carlos Lopes, ao Parque Eduardo VII, em Lisboa, foi palco da apresentação de dois livros, da autoria dos excelentes jornalistas António Simões e Rogério Azevedo, sobre o campeoníssimo Carlos Lopes, primeiro português a ganhar ouro olímpico, em Los Angeles/84 (e na plateia estava Rosa Mota, para mim a melhor maratonista de todos os tempos, campeã olímpica em Seoul/88). O que aconteceu no CCB e no Pavilhão Carlos Lopes, teve um denominador comum, José Manuel Constantino, que foi presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), até a vida extinguir-se-lhe, exatamente ao mesmo tempo em que, em Paris, se extinguia a chama olímpica. No CCB, a FPF dedicou uma parte da cerimónia a homenagear o olimpismo e o paralimpismo, e os quatro portugueses que trouxeram ouro de Paris (Iúri Leitão e Rui Oliveira, no Madison, Cristina Gonçalves no BC2 de Boccia, e Miguel Monteiro, no lançamento de peso) e a maior ovação da noite (uma prolongadíssima ‘standing ovation’) teve por objetivo, mais do que honrar a memória, agradecer a José Manuel Constantino tudo o que fez, muitas vezes tornando-se incómodo para os poderes instituídos, pelo nosso desporto. No dia seguinte, o ex-presidente do COP, que teve a iniciativa de ‘encomendar’ os livros sobre Carlos Lopes, que foram editados pelo Comité Olímpico, foi novamente alvo de uma sentida homenagem, numa cerimónia dignificada pela presença do presidente António Ramalho Eanes. Há personalidades que, pela sua grandeza, transcendem os tempos, e são imortais na memória das gentes…
No CCB, a FPF (que pena não terem sido recordados Artur Jorge, Manuel Fernandes e João Rodrigues…) decidiu agraciar com as Quinas de Ouro os clubes que atualmente representam Portugal nas competições da UEFA e que, por sinal, também são os que têm mais presenças na Europa: Benfica, Sporting, FC Porto, SC Braga e VSC de Guimarães. Enquanto Rui Costa, Frederico Varandas, António Salvador e António Miguel Cardoso estiveram presentes em representação dos seus emblemas, André Villas-Boas delegou no gestor executivo dos dragões, Henrique Monteiro. Obviamente que comparou mal. E, repare-se, não tinha sido só o FC Porto a perder na jornada do fim-de-semana anterior: também os vimaranenses, nos Açores, e os arsenalistas, em casa, frente ao Sporting, tinham sido derrotados e não confundiram conjuntura com estrutura.
André Villas-Boas, que não só recebeu um clube financeiramente nas ruas da amargura (acaba de anunciar dois empréstimos, que andarão por 150 milhões de euros), também enfrenta uma guerrilha interna que procura miná-lo, sempre que os resultados desportivos são negativos. Compreendendo todas as dificuldades e estados de alma, há obrigações institucionais que devem estar para lá de tudo isso.