Por aqui, Galenos há muitos
Não há muita diferença de qualidade entre as seleções brasileira e portuguesa. Hoje. Porque, a prazo, a aritmética voltará a impor-se
O Brasil tem a segunda seleção mais valiosa do Mundo, atrás da Inglaterra, e Portugal, a quarta, depois daquelas duas e da França mas à frente da Espanha, dos Países Baixos, da campeã do mundo Argentina, da Alemanha, da Itália e de mais duas centenas delas. Segundo o Transfermarkt, site familiarizado com o assunto, os jogadores canarinhos valem 1,07 mil milhões de euros e a equipa das quinas 939,30 milhões.
Provavelmente nunca na história das duas seleções – à exceção de 1966 e arredores, quando o Portugal de Eusébio e outros astros bateu o Brasil de Pelé e companhia por 3-1 e chegou ao fim em terceiro lugar do Mundial inglês – o equilíbrio entre os sul-americanos e os ibéricos esteve tão próximo em valor de mercado mas, como por essa altura ninguém na redação do Transfermarkt era ainda nascido, não dá para comparar.
Entretanto, esse equilíbrio, fruto de um futebol português que anda a fazer, com certeza, muita coisa bem feita nas seleções, nos clubes, na formação de jogadores e de treinadores, e de um futebol brasileiro que insiste em não tratar as suas já diagnosticadíssimas mazelas, não deve durar.
Não se trata de futurologia ou do tradicional pessimismo fadista lusitano mas de matemática, aritmética, lógica – a longo prazo não se sustenta que um país de 10 milhões de habitantes, mesmo apaixonado por futebol, consiga competir com um país de 213 milhões de habitantes, talvez ainda mais apaixonado por futebol.
A elite do futebol brasileiro, aqueles 25 ou 30 que valem os tais 1,07 mil milhões de euros, podem estar, circunstancialmente, atrás dos 25 ou 30 jogadores dos The Three Lions e apenas ligeiramente à frente dos Les Bleus ou da malta das Quinas, mas se o recorte for mais abrangente os canarinhos já dominariam.
Dito por outras palavras, se somarmos o valor dos 100, dos 200, dos 300 melhores de cada país, já só dá Brasil, com talento aos pontapés até em timecos espalhados pelos obsoletos estaduais.
Dito por outras ainda, a qualidade no Brasil, seleção onde, em 2002, coabitaram Rivaldo, Ronaldo Fenómeno, Ronaldinho Gaúcho e Kaká, ou, em 2006, os dois Ronaldos e Kaká mais Robinho e Adriano, só para dar exemplos de linhas atacantes recentes, pode estar em crise; a quantidade jamais.
Em conclusão: se Galeno, ouvindo o coração, optou mesmo pelo Brasil, fez bem porque o coração é sempre bom conselheiro; mas se ouvisse a cabeça, que também não é má conselheira de todo, talvez optasse por Portugal. Porque Galenos, aqui no Brasil, há e haverá muitos.