Para não falar sempre de futebol... falemos de futebol

OPINIÃO02.05.201901:40

Não deve haver sportinguista que esta semana não comece as suas conversas falando, não do futebol propriamente dito, mas do futsal, outra espécie não menos espetacular e emotiva da modalidade, que aliás se enquadra na mesma Federação. A vitória na Liga dos Campeões, lá longe, no Cazaquistão foi um feito impressionante de querer e de preparação. Andou bem o presidente Frederico Varandas em acompanhar a equipa, deixando o seu lugar presidencial da tribuna de Alvalade, durante o Sporting-V. Guimarães, ao presidente da AG, Rogério Alves. Acompanhar Miguel Albuquerque, diretor-geral das modalidades, Nuno Dias, o treinador principal e os jogadores capitaneados por João Matos (agora com o cabelo e barba cortados por via de uma promessa) revelou-se uma decisão acertada e que contraria, com atos e não apenas palavras, aqueles que juravam que Sporting iria deixar cair as modalidades. É certo que alguns fantasmas ainda apareceram para dizer que esta taça dos campeões europeus (depois de três tentativas malogradas) se deve ao trabalho que fizeram. Não discuto, mas sendo coerente é necessário dizer que, nesse caso, quaisquer resultados menos bons ou maus terão de ser assacados aos mesmos, o que deixa a Direção atual na simpática situação de não ter qualquer demérito, já que lhe roubam o mérito. Enfim, passemos adiante, porque a mim o que me interessa é que o atual presidente do Sporting foi vitoriado e aclamado na Câmara e no Pavilhão João Rocha. Mais do que ser este presidente, interessa-me que seja o nosso presidente e que o clube definitivamente enterre as guerras surdas que por aí andavam e perceba, de uma vez por todas, quem eram os instigadores do mal estar.
E convém recordar que o Sporting não tem sucesso apenas no futsal, no que toca a modalidades. Está na luta no hóquei em patins, no voleibol, no andebol e em muitas outras competições, que vão do atletismo ao judo. É, de facto um grande clube, o mais eclético, o mais abrangente. Há um ano tinha 29 títulos internacionais; este ano ganhou mais cinco (judo, corta mato, dois de goalball - modalidade paralímpica - e futsal). Isso não quer dizer que o futebol de 11 não continue a ser modalidade que, de longe, mais sócios e adeptos movimenta e mais paixões desperta. Mas, também aí, estamos melhor.

O que vimos contra o Guimarães

Ojogo do passado fim de semana mostrou isso mesmo. Bem sei que há a polémica de uma entrada de Acuña (fora da área) seguido de um monumental golo de Raphinha. Mas a jogada do golo não vem na sequência da falta não assinalada e uma coisa é uma coisa e outra coisa, outra coisa. Acresce, além disso, que Luiz Phellype voltou a marcar, aproximando-se de recordes dos grandes nomes do Sporting e que as oportunidades (quatro remates nos ferros) foram mais do que muitas. Dá gosto ver o Sporting jogar assim, sobretudo porque é uma equipa de recursos escassos, de alguns excecionais talentos (escuso de falar de Bruno Fernandes outra vez), mas que sobretudo parece estar com uma vontade de vencer como não se via há tempos. E isso é o mais importante.
Claro que o Sporting não depende dele próprio, mas se o FC Porto e a sua claque continuarem a desentender-se, como se viu no final do Rio Ave-FC Porto, é possível sonhar com mais algum grande tropeção da equipa de Sérgio Conceição (eu sei que é sonho, já escrevi, e difícil acontecer com o Nacional e o Aves). Chegaria, assim, o Sporting à última jornada, depois de vencer o chamado Belenenses (numa preparação a sério do Jamor) e o Tondela, no último jogo em casa, com a possibilidade de, no Dragão, vencendo, arrancar um segundo lugar e - o que é muito importante -um passaporte para a Liga dos Campeões. Claro que isto daria o campeonato ao Benfica, nossos eternos rivais, mas o mundo não é perfeito, como todos sabem.
Mais real que este sonho é no Jamor derrotarmos os portistas e ficarmos com dois troféus esta época (se assim for é natural que apareça o fantasma a congratular-se não sei com quê, mas tal ser-me-á indiferente).

Manter a serenidade, ter calma e traçar objetivos

O pior do Sporting é a nervoseira com que todos os assuntos são tratados. Enquanto o FC Porto e o Benfica se digladiam no Conselho de Arbitragem e na Liga, entre queixas e ameaças, por causa de penaltis mal e bem assinalados (para mim aquele que deu o empate ao Benfica frente ao SC Braga não existiu e o segundo é duvidoso, mas nunca tive ilusões que o Benfica perdesse em Braga…) o Sporting pode bem aproveitar para arrumar o muito que lhe falta. No primeiro texto que escrevi aqui em A BOLA afirmei que era preciso saber de onde partíamos para podermos ter a noção de para onde queremos ir. Hoje, a três jornadas do fim, com a Taça da Liga ganha, com as modalidades a correr de feição, com presença na final da Taça e - sejamos sérios - com um terceiro lugar destacado que ninguém, ou quase, vaticinava, penso estarmos melhor do que pensávamos tendo em conta de onde viemos. Por isso mesmo seria escusado que, entre aqueles que se uniram para derrubar uma direção que destruía aos poucos o nosso Sporting continuasse a existir um clima latente de guerra e de indiretas, por vezes agressivas.
Parece-me a mim que todos são homens crescidos para perceber  o que de bom e mau esta Direção tem. Sinceramente, há coisas que não faria como estão a ser feitas, mas longe de mim pensar que tenho a certeza da minha razão. Não sou cartilheiro, nem ninguém do Sporting me pede ou me oferece o que seja. Mas ao longo de mais de 40 anos de jornalismo aprendi que ser livre não é dizer apenas o que nos vem à cabeça. É, dentro dos princípios e das linhas que defendemos, dizer o que entendemos sem receios, mas tentando nunca ser injusto para aqueles a quem nos dirigimos.
Se cada um de nós partir constantemente do princípio que os outros jamais podem ter razão no que fazem, nas estratégias que delineiam ou nas opções que tomam, nunca seremos um clube unido, capaz de transmitir não só à opinião pública, como aos nossos próprios atletas a força que efetivamente temos. Se uma vitória serve (como se viu no futsal) para dar umas indiretas e atirar o manto da desconfiança sobre outros, o que não fará uma derrota.
Sinceramente, podem chamar-me ingénuo, mas sou assim. Quero sempre que o Sporting ganhe. E quando não o conseguimos quero que façamos melhor - não mudando toda a estrutura, mas experimentando mudar-nos nós próprios, na relação que cada um tem com o clube e os seus dirigentes. O limite para aceitação daqueles que foram eleitos é, como afirmei tantas vezes, o cumprimento escrupuloso do estatutos e dos regulamentos. Como já escrevi também, eu quero que os outros sejam como nós. Não quero que nós sejamos como os outros.
P.S.: Só posso desejar as rápidas melhoras e se possível rápido regresso aos relvados do campeão Iker Casillas. Penso que a sua natural simpatia e cordialidade pode ser um exemplo do que é o desporto.