O futebol e o seu reflexo

OPINIÃO19.04.202106:05

Jesus só não termina a jornada em 4.º porque o SC Braga tem sido o SC Braga de sempre

O antijogo, ainda mais do que o fair-play, é uma treta. Como desculpa, claro. Tal como a Covid. A desculpa, não a doença. O 3x4x3 não é o ‘fim da história’, seja para Sporting ou Benfica, e só por si vale pouco. Ainda menos quando o plantel foi formado para um 4x4x2 e nunca tenha deixado cair o aviso de ‘obra em construção’. O leão, antes que o céu lhe caísse em cima, tratou de mudar. Já Jesus só não muda esta jornada para quarto porque o SC Braga tem sido o SC Braga de sempre, mais do que o SC Braga que promete. Mesmo que achemos piada a Carvalhal.
O FC Porto, que na Liga continua longe, também não está mais perto dos gigantes europeus. O Chelsea nunca esteve em risco e, sem tirar mérito, houve demérito da pior Juventus em muitos anos. Depois de tanto esforço e entrega, continua a ser na criatividade e individualidade que assenta a diferença. Os orçamentos não ganham jogos, mas compram os melhores, que vencem mais jogos. Depois, se o compromisso não é negociável, também o talento não devia sê-lo. Lembro Óliver, Nakajima e Felipe Anderson. Sim, Sacchi não quis Baggio depois de ter Gullit, mas Ancelotti não quis Zola (e Baggio) até querer Zidane. A maleabilidade tática de Sérgio Conceição abre-lhe, sim, as portas de Itália. Só lhe falta criar laterais que possam jogar em ambos os flancos… ou talvez Zaidu também possa jogar à direita.
Nunca é bonito quando um jogador se transforma em instrumento de propaganda que a lógica não aconselha, tal como é feio um treinador meter-se em quinta alheia, mesmo que volte atrás. Por muito moral que cada um tenha. Também Conceição não desculpa Paulo Sérgio, que não desculpa Amorim, que não desculpa Cardoso. A Liga continua sem noção do que é proteger o produto e o país ainda não conhece o significado de ‘imputável’. O futebol é o seu reflexo.