'Para lá da linha' é uma opinião semanal
Ponto prévio: escrevo antes do jogo de ontem com a Dinamarca, mas depois de presença cirúrgica de Cristiano Ronaldo na conferência de imprensa da Seleção, ao lado do selecionador.
Decorria o Dinamarca-Portugal (1-0) na quinta-feira e a minha filha mais nova, que, como me diz, ainda «não se emociona» com futebol e por isso ia apenas a passar, estacou e perguntou: «Está a jogar o Ronaldo? Porquê?»
Fez a pergunta sem ter noção de que a resposta, a haver, levaria muito tempo. Ia a caminho de mais uma pintura na febre dos desenhos fofinhos, por isso resolvemos não a maçar.
Aos 40 anos, Ronaldo joga na Seleção porquê? Pode haver várias respostas: porque ele quer, porque ele pode, porque os recordes andam atrás dele. Respostas que são também perguntas. Porque há mais de 20 anos que é a força que coloca a Seleção em todas as fases finais? Algumas delas literalmente, como naquela noite na Suécia é que marcou três golos e Portugal foi ao Mundial 2014? Porque vende bilhetes para os jogos? Porque é um símbolo? O ‘goat’?
Pode também questionar-se se um símbolo passa, por isso, a ter lugar cativo. Mas como se diz ao ‘goat’ que se calhar ele já não é tão necessário?
Primeira parte foi um horror, a segunda confirmou a noite de pesadelo; Vitinha quis agitar a batuta mas as notas só saíram desafinadas; Ronaldo jogar os 90' é passar atestado de incompetência ao futuro da turma das quinas
Depois da derrota em Copenhaga não foi à zona mista – também, essas, presenças cirúrgicas - mas sábado foi à sala como capitão e símbolo. Assumiu que foi menos 'goat' - «não joguei nada, a Seleção não jogou nada», reclamando que os jogadores não são computadores. Também disse coisas menos interessantes, como que «há muita gente que quer que a Seleção perca» - supus que todos os dinamarqueses - , mas suspeito que o que queria dizer era «muita gente quer que eu perca», os tais que também acreditarão que ele manda em tudo.
Capitão da Seleção Nacional falou em conferência de imprensa na véspera da segunda mão dos quartos da Liga das Nações frente à Dinamarca
Como disse, não sei, à hora a que escrevo, o que aconteceu em Alvalade. Se foi suplente, se jogou 90 minutos, se foi assobiado. O que sei, por outro lado, é que a mesma criança, a tal que não se emociona com futebol, também ficou impressionada com a foto que ilustra o texto e quer saber quando vai ele chegar aos mil golos. Por isso se calhar aquele 'porquê' não tem resposta.