Liberté, Égalité, Mbappé
Kylian Mbappé
Foto: IMAGO

Liberté, Égalité, Mbappé

OPINIÃO09.07.202407:30

Jogadores franceses tomaram posição sobre as eleições e ‘ganharam’ ao ódio

O resultado das eleições em França - em que um bloco de partidos de esquerda relegou a extrema-direita de Le Pen para o 3.º lugar - diz muito a uma Europa que se debate com ideias de regressão e sentimentos de medo e ódio que numa História não demasiado distante conduziram este continente e o Mundo para guerras e extermínios em massa. O alívio dos defensores da democracia e dos franceses que acreditam nesta como o melhor caminho possível para a liberdade, igualdade e fraternidade foi muito além do campo da política e sentiu-se também no relvado.

É que enquanto este país aqui tão perto - e com quem partilhamos tanto - refletia sobre tudo isto, houve um conjunto de jogadores da seleção francesa que não teve receio de tomar posição. Mbappé foi o que teve mais impacto, mas Thuram, Koundé, Dembélé, Konaté e Tchouaméni foram outros dos que se posicionaram pela diversidade, tolerância e respeito numa França que tanto ganha no futebol com a multiculturalidade e com esses mesmos valores.

Na passada sexta-feira, Portugal chorou com Pepe e Cristiano com a eliminação do Euro 2024, outra vez pelos franceses, que marcaram cada penálti com pouca diversidade - todos foram excelentes - e que só em 2016 tiveram tolerância com os portugueses (com um golo marcado por um português de Bissau e um cigano a entrar para o lugar de Ronaldo, tão bom!). Desse jogo já muito se disse e escreveu, mas, dois dias depois, até nós, as vítimas de tanta qualidade em campo, podemos e devemos assinalar com todo o respeito a atitude destes jogadores, contra até a própria federação, que foi tentando mostrar nada mais do que neutralidade («Se és neutro em situações de injustiça, escolheste o lado do opressor» - Desmond Tutu).

Num futebol moderno cada vez mais distante das massas, em que os jogadores vivem em redomas de vidro desde muito jovens e os adeptos são cada vez mais vistos como clientes, e em que defender os direitos mais básicos da Humanidade pode parecer uma opinião que pode afastar patrocinadores, prémios e direitos televisivos, as palavras de Mbappé e outros não são só um exemplo de cidadania e do uso de uma plataforma que é a mais importante dentro das coisas menos importantes da vida. Foram um ato de coragem.

Portugal, infelizmente, não está assim tão distante do cenário político que agora vemos em França. Mas tenho dúvidas que os jogadores portugueses ainda pensem e falem como cidadãos preocupados com o que se passa à volta. Recentemente, Miguel Maga, do Penafiel, ousou dizer «25 de Abril sempre, fascismo nunca mais!» - e foi a intervenção política mais marcante do futebol nacional em muito tempo. Entretanto, uma deputada portuguesa publicou uma fotografia do nariz ensanguentado de Mbappé no Euro com a citação «A França aos franceses!». A melhor resposta chegou pelo voto (a beleza da democracia!): Mbappé está do lado certo, ganhou e a França é de todos! Touché!

Miguel Maga: «Jogadores têm de definir o que querem passar para o público»

10 maio 2024, 11:00

Miguel Maga: «Jogadores têm de definir o que querem passar para o público»

Se esteve nas redes sociais no Dia da Liberdade, então certamente deu de caras com Miguel Maga, que aproveitou a flash interview, após o jogo com o UD Leiria, para deixar uma mensagem de cariz social: «25 de Abril sempre, fascismo nunca mais». A BOLA viajou até Penafiel para conhecer as ambições e interesses do lateral-direito.