Rui Borges aplaude um lance da equipa do Sporting na receção ao Famalicão, jogo que os leões venceram, por 3-1
Rui Borges, treinador do Sporting
Foto: IMAGO

Insegurança ou autoconfiança: a mudança tática de Rui Borges

OPINIÃO20.03.202514:25

Desportiva_MENTE é o espaço de opinião quinzenal de Liliana Pitacho, psicóloga e docente no Instituto Politécnico de Setúbal

Achegada do treinador Rui Borges ao Sporting ficou marcada pela mudança do sistema tático de 3x4x3 para 4x4x2. Esta mudança esteve associada à crença do treinador neste sistema, como já tinha demonstrado anteriormente, mas possivelmente também para afirmar a sua chegada e desmarcar-se da era Ruben Amorim que tanto marcou o clube e a equipa. O Sporting tem passado desde então por um período periclitante ao nível das suas exibições e resultados, tendo perdido o avanço pontual que possuía. Contudo, no início do mês o treinador parece ter optado por um recuo para o sistema tático de 3x4x3 anteriormente protagonizado por Ruben Amorim e que estava a gerar bons desempenhos e também em bons resultados.

Esta mudança parece ter colocado os jogadores num sistema que dominam, que é confortável para eles, levando a equipa a recomeçar a recuperar a identidade que parecia perdida.

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Para quem neste momento está a pensar que vou analisar a escolha do melhor sistema tático, desengane-se, não me sinto tão ousada. O que pretendo é analisar a mudança à luz da Psicologia.

Para alguns, tal mudança pode indicar fragilidade, sugerindo que o treinador cedeu à sombra do seu antecessor e abandonou a sua tentativa inicial de impor uma nova identidade tática.

Esta seria a ideia mais simples e de alguma forma congruente com a análise discursiva do treinador que, na minha opinião, tem demonstrado algumas inseguranças e pouca assertividade. No entanto, uma análise mais aprofundada, baseada em teorias da psicologia, sugere que essa mudança pode, na realidade, ser um sinal de força de carácter e autoconfiança.

A teoria da Mentalidade de Crescimento sugere que indivíduos com mentalidade fixa evitam mudanças por receio de parecerem fracos, enquanto aqueles com mentalidade de crescimento encaram os desafios como oportunidades de aprendizagem. Já a teoria das forças de carácter identifica seis virtudes e vinte e quatro forças, salientando que considerar a mudança como instabilidade ignora a sua ligação à flexibilidade e à inteligência emocional. Ser fiel a si próprio não significa permanecer imutável, mas sim ajustar-se com autenticidade, sem comprometer os valores essenciais. Quem resiste à mudança pode estar mais condicionado pelo medo do que pela autenticidade.

Manter crenças mesmo diante de evidências de erro não revela autoconfiança, mas insegurança em admitir falhas. A capacidade de revisão e ajustamento reflete forças de carácter como pensamento crítico, inteligência social, liderança, humildade e prudência, além de maturidade profissional e autoconfiança.

Independentemente do resultado e da concretização, ou não, dos objetivos, a coragem de reavaliar uma escolha e reconhecer a necessidade de ajuste é, por si só, um sinal de maturidade psicológica.