Reportagem A BOLA A histórica (primeira) Taça da Liga por quem a venceu: «Fizeram uma pizza em meu nome»
Cláudio Pitbull recorda o título conquistado pelo Vitória de Setúbal em 2007/2008. Os bastidores dessa conquista e a «união do grupo». As orações para evitar lesões nos colegas de equipa e… nos adversários
22 de março de 2008. Nesta data, escrevia-se história no futebol português: disputava-se a final da primeira edição da Taça da Liga. O Estádio Algarve engalanou-se para o jogo decisivo da recém-criada competição e estava equipado a rigor. De verde e branco, as cores dos dois contendores: Vitória de Setúbal e Sporting.
Por razões naturais inerentes ao próprio fenómeno do desporto-rei, o emblema de Alvalade era tido como favorito a vencer a prova. No entanto, e porque o futebol pode ser tudo menos uma ciência exata, quem festejou foi a formação sadina. Depois do nulo no final do tempo regulamentar, a decisão chegou por via do desempate por penáltis. Nesse particular, os comandados de Carlos Carvalhal foram mais competentes e levaram a melhor sobre o conjunto orientado por Paulo Bento (3-2).
Os vitorianos exultaram com o título ganho e houve festa de arromba do Algarve até Setúbal. O célebre Vitóóóóóóóóóória foi entoado a plenos pulmões e até de madrugada.
Agora, e no dia em que se assinalam 17 anos da conquista, A BOLA esteve à conversa com um dos grandes destaques dessa equipa sadina: Cláudio Pitbull. O antigo avançado brasileiro tem a memória bem fresca de um dia inesquecível.
«Foi um momento único, principalmente por ter sido a primeira edição desta competição. Ainda para mais fui eleito o melhor jogador da final. Foi uma conquista única e inédita. O mister Carvalhal construiu um grande grupo, embora não tivesse muitos jogadores, mas tínhamos uma união enorme e isso foi fulcral», recorda.
E houve uma velha máxima sublinhada por Carvalhal e que Pitbull também não esquece: «Eliminámos o Benfica e ele dizia sempre que as finais não são feitas para jogar, mas sim para ganhar. Fizemos um grande jogo. O Sporting tinha uma grande equipa, mas realizámos uma exibição perfeita. Não sofremos golos e também há que dar mérito ao Eduardo [guarda-redes dos sadinos], que defendeu as grandes penalidades.»
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E como o que é bom fica sempre perpetuado, Cláudio Pitbull abre o coração e recorda o melhor de Setúbal. Sem esquecer uma homenagem peculiar de que foi alvo. «Tenho saudades da cidade de Setúbal, do peixe fresco, do choco e das praias. Tenho saudades de tudo, pois tive uma época perfeita e fiquei com muitos amigos em Setúbal. Aliás, após a conquista da Taça da Liga foi feita uma pizza com o meu nome, em jeito de homenagem. A pizza tinha calabresa, mozarela, bacon e outros dois ingredientes que não me lembro, mas ficou muito boa. Perto do Estádio do Bonfim havia uma pizzaria de uma amiga minha e ela disse que se ganhássemos faziam uma pizza em minha homenagem e assim aconteceu», graceja, com carinho e orgulho.
Mesmo já afastado dos relvados, o italo-brasileiro, que em Portugal representou também o FC Porto, a Académica, o Marítimo e o Gil Vicente, recua quase duas décadas e continua nos bastidores da referida final. Sem esquecer tudo o que também foi feito nessa época.
«O mister preparou-nos muito bem, foi muito correto na palestra, dizendo que tínhamos de ser perfeitos. Entrámos extremamente bem preparados e o facto de jogarmos juntos há algum tempo também ajudou. Foi um ano fantástico. Além de termos conquistado a Taça da Liga também conseguimos chegar às meias-finais da Taça de Portugal, onde fomos eliminados pelo FC Porto, e garantimos ainda a qualificação para a Liga Europa. O mister Carlos Carvalhal conseguiu juntar uma equipa de operários e fazer um excelente trabalho», assinala, antes de fazer uma confissão a título pessoal: «Antes dos jogos, costumava ir ao relvado e gostava de ver as áreas onde atuava. Fazia também uma oração para agradecer o momento e para que não houvesse lesões na nossa equipa nem na equipa adversária.»
«Torço muito pelo mister Carvalhal»
Quando a vida permite o contacto com pessoas que deixam registos inesquecíveis, então é natural que, mesmo à distância, o mote seja apenas um: torcer pelo seu sucesso.
E este é o caso de Cláudio Pitbull e Carlos Carvalhal. As referências do brasileiro ao treinador foram uma constante ao longo desta reportagem, a começar, claro está, pelo espírito de balneário que o técnico fomentou em Setúbal, na época 2007/2008, quando o antigo avançado estava no Vitória por empréstimo do FC Porto.
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«O nosso grupo caraterizava-se pela amizade e pelo respeito que tínhamos uns pelos outros. Todas as semanas fazíamos um jantar ou outras atividades em grupo. O segredo do Carvalha foi unir-nos enquanto grupo», realça.
E do passado ao presente, os desejos mantêm-se bem presentes. Com os olhos postos, até, no futuro. Neste caso, com uma viagem ao Minho: «Torço sempre muito pelo mister. O SC Braga está a lutar pelos primeiros lugares do campeonato e esse é um trabalho difícil. Mas torço bastante para que consigam alcançar os seus objetivos.»
Brasileiro assume que técnico foi como «um pai»
«O mister Carvalhal foi um pai para mim e isso deixa saudades». A frase é forte e explica praticamente todo o sentimento de gratidão que Cláudio Pitbull tem para com o antigo treinador.
Mas o brasileiro não se coíbe de prolongar a análise sobre uma pessoa que lhe deixou uma marca tão impactante ao longo da carreira e para a vida.
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«Desde o momento em que me convidou para o projeto do Vitória disse que ia fazer com que jogasse o futebol que jogava no Brasil. Foi um pai porque conseguiu tirar o melhor de mim. Cheguei a ser considerado várias vezes o melhor jogador em campo…», analisa.
Mas o que Carvalhal extraiu, realmente, de Pitbull? «Conseguiu com que eu fizesse alguns ajustes, para ficar mais perto de golo. Fez com que eu me posicionasse de forma diferente e a partir daí o meu futebol começou a sobressair com assistências e golos. Cheguei, inclusivamente, a marcar de livre direto. Quando se tem um bom treinador, ele tira o melhor de todos os jogadores», salientou, sem reservas.