Golpe de Mestre: Salvador muda o jogo no SC Braga

A aposta, ousada, em Carlos Carvalhal resultou, até ao momento, em pleno. Dois jogos, duas vitórias - Palavra de Gverreiro é o espaço de opinião semanal de Pedro Sousa, Adepto do SC Braga e deputado à Assembleia da República

A arte de liderar não se mede, apenas, pelos resultados imediatos, mas, sobretudo, pelo olhar arguto que sabe ler o tempo e, nele, antever os contornos de um futuro que escapa à maioria.

Trago esta reflexão, a respeito da decisão de António Salvador, numa fase tão inicial e decisiva da temporada, abdicar de Daniel Sousa para confiar o comando da equipa técnica do SC Braga a Carlos Carvalhal, demonstrando coragem, mas, acima de tudo, revelando uma sensibilidade rara e uma argúcia própria das grandes lideranças.

Muitos, num primeiro olhar – e apesar das exibições deixarem muito a desejar – consideraram a decisão precipitada. Afinal, quatro jogos (duas vitórias e dois empates), não são, à superfície, motivo para mudanças radicais.

No entanto, a profundidade da decisão de António Salvador reside, precisamente, na sua capacidade de ver para além do óbvio, de perceber que, nas entrelinhas desses resultados, havia algo que não ressoava em harmonia.

Aqui, a experiência desempenha o seu papel mais nobre: transformar o conhecimento acumulado em intuição refinada, capaz de discernir o momento exato para intervir.

Ao escolher Carlos Carvalhal, um homem cuja ligação ao clube transcende o mero profissionalismo, António Salvador não procurou apenas um treinador. Procurou um símbolo, uma referência, um reencontro com a visão do Braga como Clube Formador por excelência, apostando num líder sem medo de lançar jovens, de os ensinar, de os potenciar e fazer crescer e, mais importante ainda, com os valores que constituem a identidade bracarense, o que revela uma estratégia que não se limita à época em curso, mas se estende, com sabedoria e ambição, para os desafios do futuro.

A aposta, ousada, resultou, até ao momento, em pleno. Dois jogos, duas vitórias. Ainda que, diga-se em abono da verdade, sem deslumbrar, o que, convenhamos, é natural.

Sem querer crucificar Daniel Sousa, não o merece, a verdade é que Carlos Carvalhal é um dos melhores treinadores portugueses, tem muito mais experiência, muito mais mundo e dá outras garantias. Ademais, é um Senhor, um verdadeiro “Gentleman” e esses atributos, tantas vezes desvalorizados, contam e contam muito.

A fechar, uma palavra de reconhecimento para o futebol “À Moda do Minho”. Braga e Vitória venceram as suas Eliminatórias para a Liga Europa/Liga Conferência pelo que mantêm viva a ambição de disputarem as respectivas fases de Liga, facto de primordial importância para a Liga Portugal no plano europeu.

Com jogos para o play-off já esta quinta-feira, deixar desejos de boa sorte, na medida em que o seu sucesso representa, por muito que demasiados disso se esqueçam, o sucesso de todo o futebol português.