Futebol com Todos: sobre a vergonha e a cidadania
Quando um pai grita que um menino de outra equipa «morreu? Enterra-se!» está tudo mal. Mesmo muito mal.
Na mesma semana, dois extremos sobre o que é o desporto (e a vida, e a sociedade), o que é andar no desporto (e na vida, e na sociedade), sobre o que é ser-se ou não, na essência, uma boa pessoa, um bom cidadão e alguém civilizado.
Comecemos pelo melhor, para não descrer de vez na Humanidade: o Sporting venceu o seu jogo do campeonato; Pedro Gonçalves foi falar à TV e as primeiras palavras que teve foram de solidariedade para com momentos difíceis que dois colegas do maior rival e maior adversário na luta pelo título passavam. Mandou um abraço a João Neves e António Silva porque «há coisas mais importantes que o futebol».
Numa excelente reportagem do Sapo Desporto, assinada pelo nosso antigo colega Afonso Trindade de Araújo, ficamos a saber que um pai, durante um jogo de infantis — vou repetir: infantis! — gritou para o relvado que aquele jogo nunca deveria ter sido adiado pela morte de um menino da outra equipa. «Morreu? Enterra-se!».
E assim se enterram, logo pela base, os valores do desporto, da vida e da sociedade.
Os casos de violência no futebol de formação: "Morreu? Enterra-se!"
De chorar por mais
[relativo à edição impressa de A BOLA, página 30 deste sábado, 24 de fevereiro] É uma honra ter aqui ao lado o João Almeida Moreira e o Nélson Feiteirona. Queremos A BOLA com mais opinião dos seus jornalistas.
No ponto
Está no texto acima, mas não é de mais realçar a excelente atitude de Pedro Gonçalves ao lembrar-se da dor pessoal de colegas de profissão.
Insosso
As redes sociais são o demónio, mas são um demónio com que todos temos de lidar. E Pinto da Costa lá apresentou a recandidatura num site.
Incomestível
Não há mortes mais importantes que outras. Mas quando desaparece alguém como Artur Jorge o mundo fica definitivamente mais pobre.