OPINIÃO Estás feliz, Fábio Paim?
Da entrevista de Fábio Paim a A BOLA; passando pelos adeptos do FC Porto que não querem ser convencidos; ao o trabalho extraordinário dos profissionais do Hospital Amadora-Sintra. Eu sou o Jorge Pessoa e Silva e esta é a crónica semanal do meu Livro do Desassessego.
Há pessoas que não vale a pena querer mudar. Ou se aceitam por inteiro sem «mas» ou «e se?» ou tornam-se numa viagem de elevador em constantes subidas ao piso da esperança e imediatas descidas à cave da desilusão. Pessoas que apenas aprendem ao ritmo dos tombos que dão por muito que tenham quem lhes dê conselhos. E não é por maldade, é por natureza. Fábio Paim, acredito, é uma dessas pessoas. O menino que o próprio Cristiano Ronaldo considerou que era melhor jogador do que ele na formação do Sporting, mas que tendo a bola do Mundo na mão não resistiu a arriscados exercícios de malabarismo e a meter-se em atalhos que apenas lhe trouxeram trabalhos.
A excelente entrevista – mais uma - de Fábio Paim a A BOLA deveria constar de um manual sobre a vida, com leitura obrigatória para jovens estudantes de todas as áreas. Um homem que pode não ter estudado muito, mas que é extremamente inteligente. Que continua em construção de personalidade ao ritmo vertiginoso da vida. Alguém que diz dele – e eu acredito – «não sou um bandido, sou uma pessoa que errou». Alguém que dispensa a nossa pena ou o nosso moralismo, não estando isento ao justo julgamento. Aceito-o por inteiro, nas fragilidades, nas contradições, nos erros mas também no bom coração que acredito que tem e na inteligência que revela. Acolhendo o maior lamento que revelou na entrevista e que o levou às lágrimas: muitos o julgam, quase ninguém lhe pergunta se está feliz.
Li um dia que «um amigo é alguém que se cruza connosco na rua, nos pergunta se estamos bem e pára para ouvir a resposta». Eu não sou amigo de Fábio Paim, mas, juro, fico para ouvir a resposta: «Estás feliz?»
Há pessoas que não vale a pena querer mudar. Porque não querem mudar. Grande parte dos adeptos do FC Porto que insultam a própria equipa e os dirigentes enquanto entoam o nome de Pinto da Costa não querem ser convencidos do que quer que seja. Uma das principais exigências de um líder em temos de tormenta, numa transição de era que se adivinhava exigente, é precisamente identificar com quem não conta e não se desgastar com quem não quer ser convencido. Como se na era de Pinto da Costa o FC Porto também não tivesse pedido, por quatro vezes, três jogos seguidos. Como se a situação financeira fosse brilhante, como se 80 por cento dos sócios não tivessem sido claros.
André Villas-Boas só pode responder com a força das convicções. Certas ou erradas, será jugado em urna por isso. Varandas passou pelo mesmo no Sporting. Mas só colheu frutos porque a equipa passou a vencer.
Em relação aos adeptos que protestam ruidosamente, acreditam mesmo que é pelo insulto que a equipa vai passar a jogar melhor e a vencer? É que se a tese estiver certa, porque não, perdoem a ironia, umas boas pauladas no lombo de jogadores, treinador e dirigentes? Ganhavam não só o Campeonato como a Taça da Liga e a Liga Europa! Há uns anos, alguns adeptos do Sporting acreditavam nisso… Só me apetece perguntar a esses adeptos: «Estão felizes?»
Há pessoas que não vale a pena querer mudar. Porque já estão bem assim. O meu obrigado a toda a equipa da Urgência e Internamento de Pediatria do Hospital Amadora-Sintra. Pelo profissionalismo, pela dedicação, pelo acolhimento e pelo carinho. Em momentos de fragilidade, é bom saber que temos com quem contar. Pessoas que se dedicam aos outros e a quem poucas vezes se pergunta: «Estás feliz?».