Esforço, dedicação e devoção,receita para a Taça

OPINIÃO23.05.201904:00

ESFORÇO, dedicação, devoção e glória - Eis o Sporting! É esta a divisa do clube, curiosamente o único que leva o nome de Portugal no nome, um clube que José de Alvalade, seu fundador, queria tão grande como os maiores da Europa. Há muito que o é, e em modalidades como futsal, hóquei em patins, judo, corta-mato e outras foi este ano o campeão da Europa. Mas, claro, o futebol de 11, jogado num relvado, é o que mais mobiliza e mais alegrias e tristezas traz a um clube. Por isso, a receita para a Taça de Portugal é mesmo o esforço, a dedicação e a devoção - tudo o que faltou o ano passado, contra o modesto Aves, pelas razões que se conhecem.
Na sua crónica, ontem em A BOLA, o meu amigo portista de sempre Miguel Sousa Tavares dizia que o Sporting é especialista em derrotar o Porto em finais. Na verdade, a acontecer será a sexta vez consecutiva. Miguel pedia a Sérgio Conceição várias coisas, que é lá com eles. Por mim, só posso dizer: espero que se confirme a sua falta de fé para este sábado. Caro Miguel, eu estou com fé!
Mas há algo que ele afirma com que não posso concordar, pese a nossa amizade. Diz que não esperava que Frederico Varandas viesse pressionar a arbitragem. Pressionar? Pelas imagens foi Sérgio Conceição que pressionou a sua mão contra a cara de Renan - e com convicção. Ao contrário do que disse F. J. Marques, o prestimoso porta-voz do Porto que incendeia tudo o que puder, Varandas não incendiou a Taça. O presidente do Sporting apenas pediu alguém sem medo, justo. Se isto é pressionar, apenas significa que no entender de especialistas em apitos dourados, fruta, café com leite e coisas semelhantes que nem gosto de referir, o Sporting não tem direito a arbitragens justas e sem medo.
Era o que faltava!
Um campeão ensombrado

OBenfica, por muito que me custe dizê-lo, foi um campeão justo. A segunda volta foi impressionante, e dentro da segunda volta, as segundas partes foram avassaladoras. O melhor, porém, foi o treinador, não só pelo modo como pôs a equipa a jogar, como recuperou alguns jogadores e como foi às camadas jovens trazer nomes que estão rapidamente a passar para o primeiro plano.
De realçar também o discurso de vitória de Lage, tanto logo a seguir ao jogo com o Santa Clara como, depois, na Câmara Municipal (até com a piada de ter incentivado Fernando Medina, o presidente da Câmara a dizer o nome do Sporting, quando o autarca referiu que podia haver mais uma receção depois da Taça).
E, apesar de todos estes pontos positivos, este campeonato é ensombrado, por muitas coisas e pelo processo e-toupeira que mantém muitas interrogações. É certo que o VAR trouxe à luz muitas falhas, o que seria de esperar. Se alguns casos podem resultar de pressões, a grande maioria nada tem a ver com a competência e seriedade dos árbitros.  Apenas é resultado da velocidade das jogadas e das diferentes perspetivas pelas quais podem ser observadas. Porém, e não obstante o VAR, a assombração manteve-se e até se reforçou. Demasiados lances, sobretudo envolvendo os jogos do Benfica, Porto e Sporting, não foram analisados devidamente. O benefício do Benfica em certas partidas chegou aos níveis do escândalo total. A radicalização, sobretudo entre o Porto e o Benfica foi inacreditável e mais um player entrou neste jogo, via Abel, treinador do Braga, que se quis imiscuir da pior forma neste modo de estar no futebol.
Neste aspeto tenho orgulho no Sporting. Apesar de tanta gente me dizer (alguns de forma cordial, outros, cada vez menos, de modo agressivo ou mesmo ameaçador) que precisamos de ser respeitados, querendo com isso dizer que também devemos berrar, espernear e ameaçar os outros, penso que a Direção atual optou por uma melhor atitude. Não deixar passar em claro, vincar que se percebe o que se está a passar, não se imiscuir quando o problema não nos toca e, em situações precisas e claras, com boa educação e elevação, mas com firmeza, dizer basta! Varandas já o fez algumas vezes quanto a mim de forma irrepreensível.

Para não VARiar

COM o final da época nacional ainda temos a Liga UEFA das Nações e o jogo Portugal-Suíça a 5 de junho (meias-finais), no Estádio do Dragão, e depois, no domingo seguinte, no mesmo estádio, a Holanda ou a Inglaterra, na final, como se deseja, ou no jogo para apurar o 3º e 4º classificado, nesse caso em Guimarães.
O descanso é curto, mas suficiente para se poder melhorar muita coisa no VAR. Desde logo a introdução de linhas virtuais de referência, fundamentais para avaliar os fora de jogo. As circunstâncias em que o VAR pode intervir também deveriam ser alargadas. Neste ponto, penso haver dois caminhos e não tenho a certeza de qual o melhor. Um seria a da decisão longe do escrutínio dos espectadores, como na Liga dos Campeões que não dá repetições do lance em causa enquanto o VAR não decide; outra, para a qual me inclino, mas aceito que haja objeções sérias tendo em conta as massas ululantes, seria a da total transparência. Nesse caso o lance seria repetido nos ecrãs do próprio estádio e, mais do que isso, a troca de impressões entre o árbitro e o VAR poderiam ser ouvidas. Um pouco à semelhança do futebol americano em que ouvimos a explicação do árbitro para cada lance. Ou, ainda, à semelhança do ténis, cada equipa poder desfrutar de um número limitado de pedidos para intervenção do VAR, obrigatoriamente feito nos segundos imediatos à jogada em causa; no caso de o pedido não ter sentido, perderiam o pedido. No caso de se verificar a razão de quem pediu, o número de pedidos manter-se-ia como no início. Neste caso, a transparência para o estádio teria de ser norma.
O VAR deveria poder contar com ex-árbitros que já não têm idade para arbitrar em campo, mas que têm imensa experiência pelo que viram ao longo dos anos. Isto, além de prolongar a carreira dos árbitros, permitiria sempre uma mais fácil profissionalização, que me parece desejável. Por muito que os árbitros já ganhem, não é admissível que, sendo figuras determinantes num desporto-espetáculo que movimenta milhões de euros sejam, porventura, o elemento mais mal pago em campo.
Um outro aspeto que não tem a ver com a arbitragem, mas sim com o governo do futebol, é o de passar mais jogos para as tardes, sempre mais agradáveis e mais familiares. Se a isto se somar a hipótese de não dar mais de um número restrito de bilhetes à mesma entidade, salvo o visitante (acabando com as claques, pelo menos todas a ocupar a mesma bancada), tornaria os jogos muito mais aprazíveis. Também calendarizações como a que sucedeu na penúltima jornada, nomeadamente com o jogo do Nacional contra o Porto, em que os madeirenses poderiam saber se já tinham ou não descido de divisão quando entrassem em campo, não se podem repetir. As horas dos jogos devem coincidir quando clubes rivais entre si estão em fase de decisões importantes.