Opinião Em defesa do capitão de Portugal
De crime lesa-Pátria, dizer mal de CR7 passou a moda. E ele não merece isso
Há pouco tempo — muito pouco tempo — escrever duas frases menos agregadoras e elogiosas sobre Cristiano Ronaldo era atitude considerada de lesa-Pátria, com direito a ofensas nas redes sociais e, pior de todos os crimes, a acusação de se ser «a favor do anão».
Se alguém saía da norma era antiportuguês, mal agradecido, invejoso do sucesso de um compatriota que subiu a pulso e à força de trabalho, mais até que do talento (o que é mentira — o talento de Ronaldo é imenso e daria sempre para ser um dos melhores).
A força dos e das Ronaldettes impôs a sua ordem na opinião pública durante quase duas décadas. Nunca percebi em que medida gostar de Messi, por exemplo, tinha de significar não gostar do capitão português. E vice-versa. É, no mínimo, ser-se cego em relação ao deslumbramento que estes dois nos proporcionaram durante tanto tempo. Felizmente, os próprios sempre foram muito mais razoáveis que os seus indefectíveis.
De repente, os astros viraram. Cristiano Ronaldo faz anos, como todos nós. E como cada um de nós vai-se tornando uma pessoa diferente à medida que a vida nos faz as contas de somar e diminuir que vêm nos livros de biologia.
Continua a ser uma estrela mundial e portuguesa (entre o chamado povo), a real força motriz da popularidade da nossa Seleção, mas foi ganhando, em poucos meses, muitos anticorpos no espaço público.
Do jogador que decidia e levava a equipa às costas passou a ser acusado de mandar no treinador e nos colegas. De causar mau ambiente, de roubar a bola aos outros meninos quando há livres ou cantos ou penáltis. Até é culpado de um eventual complot para levar jogadores de um determinado empresário à maioria entre os convocados, quando se sabe que nem sequer trabalha com ele de há algum tempo a esta parte.
Perdeu explosão e até velocidade? Claro que sim. É das tais coisas que vêm nos livros. Mas se calhar ganhou maturidade e inteligência.
Merece, de repente, ser alvo de tantas críticas e culpado pelo facto de a Seleção ainda não ter atingido maior esplendor no Campeonato da Europa?
Diz-se que pensa demasiado nele, nos seus recordes e objetivos. Mas ele alguma vez foi diferente? O que antes era uma qualidade de vencedor e superatleta passou a ser defeito?
Será a vontade de ganhar menor? Certamente que não. Achar que as lágrimas vertidas após ter falhado um penálti frente à Eslovénia foram de crocodilo é perceber muito pouco sobre a condição humana. Quantos dos que lhe apontam o dedo assumiriam, minutos depois, a marcação do primeiro pontapé do desempate?
Somos livres de achar que CR7 deve jogar a titular, a suplente ou simplesmente não jogar. Mas podíamos, nesta coisa de sermos portugueses, ter algum equilíbrio entre os 8 e os 80.
Estou curioso para espreitar a minha caixa de email hoje...