Ronaldo e mais dez
Cristiano Ronaldo e Diogo Costa abraçam-se depois do jogo com a Eslovénia. Foto: IMAGO

Ronaldo e mais dez

OPINIÃO04.07.202409:45

Parece Portugal estar mais interessado nos erros e nos livres e penálti falhados por CR7, como se fosse ele para a equipa um mal maior que a peste

Portugal qualificou-se para os quartos de final do Euro 2024 depois de eliminar a Eslovénia num jogo épico de Diogo Costa. É verdade que se usa e abusa deste adjetivo para qualificar outras exibições nem de perto tão brilhantes e, por isso, também me parece pouco aplicá-lo ao primeiro guarda-redes de sempre a defender três penáltis seguidos num Europeu.

Isso poderia ser suficiente para andarmos entretidos nestes dias que antecedem o duelo com França. E, no entanto, até parece que grande parte de Portugal está mais interessada nos erros e nos livres e penálti falhados de Cristiano Ronaldo, naquilo que não dá à equipa, nos estados espírito dele, como se fosse ele para a equipa um mal maior que a peste.

Sim, CR7 já não é o que era, tem jogado pouco, compreende-se que possamos ser seduzidos pelo fascínio de uma estrela que está a desaparecer, por alguém que batalha contra um fim cada vez mais perto. Quando se fala mais sobre Ronaldo do que sobre Diogo Costa ou sobre o desempenho coletivo da equipa isso diz mais de nós do que de Ronaldo.

Talvez as redes sociais não reflitam o que verdadeiramente Portugal pense dele, mas pelo Twitter ou pelo Facebook, pelas televisões ou pelos jornais identifica-se avidez pelo mal alheio, celebram-se julgamentos de intenção mascarados de grandes tiradas de independência e coragem sobre a decisão do treinador em escolher Ronaldo como titular, perde-se, no fundo, mais tempo a discutir os acabamentos de uma casa quando as fundações quase não a seguram.

Cristiano Ronaldo não joga só pelo currículo, não marca os livres nem os penáltis por decreto e seria muito bom que Roberto Martínez explicasse, bem explicadinho, porque joga sempre e porque marca sempre os livres e os penáltis. Que explicasse, bem explicadinho, o que ganha e perde a equipa com ele, porque Gonçalo Ramos ou João Félix nem sequer um papel secundário tiveram na equipa, porque Rafael Leão ou Vitinha foram substituídos contra a Eslovénia, porque ainda não se viu o melhor de Bernardo Silva ou Bruno Fernandes e, sobretudo, porque ainda não conseguiu tirar o melhor dos jogadores para que a equipa possa refletir, pelo menos aproximadamente, o potencial de quem foi convocado.

É provável que isso seja insignificante para quem está com o dedo no gatilho no pelotão de fuzilamento com Ronaldo pela frente. Para esses importa mais ridicularizar ou humilhar seja quem for ou ganhar algum protagonismo com o acessório quando o fundamental interessará a poucos.

Ronaldo, provavelmente, está numa fase da vida em que não precisará da nossa aprovação, mesmo que qualquer um de nós goste de ser reconhecido pelo que faz. Precisará, isso sim, que, pelo menos em campo, seja ele e mais dez. Porque 10 milhões com ele, está visto e revisto, nunca será.

Portugal joga amanhã os quartos de final do Euro 2024 com a França. Eu, pessimista, me confesso. Que outros como eu estejam errados.