De mãos dadas contra a águia
Foi estrondosa a queda do Benfica em Braga, mas abrir-se a porta ao delírio foi um erro colossal em que o grande prejudicado acabou por ser o Sporting
C ONFESSO ter entendido mal a estranha agitação dos principais adversários do Benfica no regresso à normalidade das competições e disso já dei conta neste espaço, esperançados em poderem estabelecer uma relação entre a prolongada paragem por causa do Mundial do Catar e uma eventual quebra encarnada. Foi de um exagero sem sentido alimentar tamanhas expectativas numa fase ainda jovem do campeonato. No fundo, as desgraças que prenunciaram para a águia mais não foram do que a assunção da falta de capacidade para se imporem pelo próprios meios. Ou seja, não sendo capazes de trepar até ao topo, fizeram figas para que fosse o líder a descer até eles.
A derrota em Braga, e que derrota ! - um banho de futebol que não deixou dúvidas a ninguém sobre o mérito da equipa de Artur Jorge -, foi quanto bastou para desencadear um foguetório ruidoso nos bairros rivais como se, de repente, o nome do Benfica tivesse sido banido da lista de candidatos ao título, um gesto motivado pelo dérbi, de pronto encarado como uma espécie de adamastor que iria sujeitar os seus jogadores a enormes tormentas e despojá-los de todas as ambições desportivas.
Na verdade, foi estrondosa a queda da águia em Braga, fez muito barulho, embora insuficiente para justificar conclusões apressadas e carecidas do mínimo de sentido. Um jogo mau ou muito mau acontece aos melhores, como é vulgar dizer-se, mas abrir-se a porta ao delírio e eliminar fronteiras entre o imaginário e o real foi um erro colossal em que o grande prejudicado acabou por ser o Sporting, independentemente das cenas dos próximos capítulos.
RÚBEN AMORIM, elogiado pela coerência no discurso e comedimento na palavra, que continua a revelar, desta vez ter-se-á deixado levar pelo excesso de entusiasmo. Num dia disse uma coisa e no seguinte o seu contrário. Primeiro, considerou janeiro um mês decisivo por ser «essencial e crucial vencer os dois jogos» (Marítimo e Benfica) e depois, resignado, teve de reconhecer que ainda não pode fazer «planos a longo prazo», unicamente pensar «jogo a jogo» e, no fim, fazer o «balanço da época».
A ideia de tentar, em duas jornadas, influenciar a história de uma competição que demora dez meses a realizar-se, inquietando a carreira do líder da classificação, revelou-se inócua para quem a promoveu e penalizadora para quem, não a tendo patrocinado, avaliou mal as consequências. Ao atacar o jogo com o Marítimo com a cabeça no jogo com o Benfica, o leão fracassou no primeiro teste decisivo deste mês e mesmo que triunfe no segundo os principais beneficiários serão, inequivocamente, FC Porto e SC Braga: quando o campeonato parou (13.ª jornada) estava a três pontos do SC Braga e a quatro do FC Porto, diferenças que aumentaram para seis e cinco, respetivamente.
Em qualquer circunstância, o Benfica vai continuar dono da liderança, enquanto o leão (mantém-se a 12 pontos de distância) precisa de vencer na Luz para não correr o risco de perder o quarto lugar para o Casa Pia e, quer queira quer não, ajudar o dragão.
ENZO FELIZ
NA projeção do jogo desta noite com o Varzim, dos oitavos de final da Taça de Portugal, Roger Schmidt, repetindo-se, como fez questão de sublinhar, afirmou que Enzo Fernández está feliz, treinou-se bem, faz parte da equipa, é um jogador importante com que ele conta para ser campeão e ganhar títulos. Do ponto de vista técnico, o caso Enzo «está encerrado». O treinador disse o que quis dizer e, em minha opinião, bem.
Schmidt conta com Enzo para ser campeão em Portugal e aspirar a uma participação encomiástica na Champions League, quartos de final ou até meias finais, a competição de clubes que mais valoriza os artistas, o que quer dizer que o médio argentino só colherá benefícios se continuar no Benfica, pelo menos até final da época, e mantiver o mesmo empenho e nível exibicional.
Daqui em diante, se alguma corrente de ar houver é à Administração que competirá eliminá-la, com prontidão e também com a eficácia que tem faltado à equipa. Porque, havendo uma cláusula de 120 milhões e a aparente firmeza de exercê-la, continua por explicar a razão de tanto alarido, também da viagem do presidente a Londres, verdadeira ou falsa, ou se foi apenas uma conversa por videoconferência, e da entrada em cena de Mendes. A propósito de quê? Por ser o Chelsea? Para envolver jogadores no negócio e inventar comissões?
Em termos do mercado de inverno, Roger Schmidt apenas falou em espaço para ajustes, porque há jogadores que querem sair e outros que podem chegar e quanto a estes Rui Costa está a tempo de corrigir o erro de início de época por causa de uma divergência de trocos.
O treinador alemão, como referiu, vai esperar para «ver o que acontece nas próximas semanas». Esperemos, então.