20 junho 2024, 00:37
Eurolândia, dia 6: uma Albânia cheia de alma a esvaziar a Croácia
Alguns pensamentos e notas tiradas sobre o Campeonato da Europa de 2024
Lendário médio croata é dos últimos resistentes da geração de ouro e decidiu continuar a jogar pela seleção depois da desilusão do último Europeu. Dalic como selecionador «até quando quiser» e a nova fornada de talento a surgir nos Balcãs
SPLIT - O que vai ser da seleção croata depois de Modric? A geração de ouro que levou a Croácia a uma quase impensável final de Mundial, em 2018, perdida para a França (2-4), já lá vai e esta é a pergunta que vai na cabeça dos milhões de adeptos da seleção dos Balcãs, agora que está cada vez mais perto o fim de carreira do príncipe de Zadar, hoje com 39 anos. Pensou-se que o adeus à seleção poderia acontecer depois da desilusão que foi a participação croata no Europeu da Alemanha – nem sequer passaram da fase de grupos -, seguindo os passos de Domagoj Vida ou Marcelo Brozovic, outros pesos pesados da seleção nos últimos anos, mas Modric quais continuar e servir de padrinho ao rejuvenescimento que Zlatko Dalic tem de implementar.
«Depois de cada fase final, há uma grande ansiedade sobre a possibilidade de o Luka se retirar, mas acredito que nos vai liderar até ao Mundial 2026. Enquanto sentir que nos pode ajudar, vai continuar, mas a verdade é que temos muito medo, na Croácia, sobre o pós Modric, vai deixar um grande vazio na seleção. É um exemplo para os mais novos, um jogador como nunca tínhamos tido e, provavelmente não voltaremos a ter», diz Damir Dobrinic, editor-chefe do Sportske Novosti, um dos mais conceituados jornais desportivos do país.
Mas qual o segredo para tão grande longevidade de Modric? «Até à Bola de Ouro houve um grande debate no país, mas agora não há dúvidas, é o melhor futebolista croata da história. Ele tem uma paixão incrível pelo futebol e vai fazer tudo para continuar a jogar o máximo de tempo possível. Mesmo com 39 anos, treina sozinho todos os dias para estar na melhor forma… Lembro que jogou a final com a França, em 2018, a dois meses de fazer 33 anos e ainda joga o que joga. É indestrutível!», explica Damir sobre o número 10 da seleção e figura de cartaz do Real Madrid na última década.
A posição do selecionador, Zlatko Dalic, no cargo desde 2017, ficou em xeque depois do falhanço no último Europeu, mas a federação deu-lhe prova de confiança e nele confiou para o novo ciclo.
«Quando ganhámos a medalha de bronze em 1998, no Mundial em França, achámos que nunca mais conseguiríamos alcançar algo semelhante., mas conquistámos a prata na Rússia e outro bronze no Catar! Não há muito para nos podermos queixar do trabalho do selecionador. É claro que o Dalic não é perfeito, tem responsabilidade em algumas situações, mas os resultados que conseguiu, de forma consistente, falam por si. A era Dalic na seleção só vai acabar quando ele quiser, o único falhanço foi o último Europeu. Perder com a Espanha não é o fim do mundo, empatar com Itália também não, mas tínhamos de ter batido a Albânia para passar dos grupos. Nesse Europeu não jogámos bem, muitos jogadores estavam longe da melhor forma», lembra Damir Dobrinic sobre a fase final na Alemanha.
20 junho 2024, 00:37
Alguns pensamentos e notas tiradas sobre o Campeonato da Europa de 2024
De 2018, para além de Modric, só Ivan Perisic resiste e a reestruturação de Dalic tem em Josko Gvardiol, central do Manchester City, como figura principal. Mas há nova fornada de talento a surgir no país à beira do Adriático plantada e Martin Baturina é nome a ter na memória para os próximos anos e não tardará até que o criativo de 21 anos salte do Dínamo Zagreb – dois golos e sete assistências em 17 jogos esta época – para outros patamares do futebol europeu. Qual o segredo, afinal, para tamanha produção de talento num país tão pequeno?
Se jogasse no Benfica ou no FC Porto, era vendido por 100 milhões de euros
«As infraestruturas de futebol da Croácia são das piores que há na Europa, o campeonato é pouco competitivo com exceção do Dínamo Zagreb, que até tem alcançado ótimos resultados na Europa, mas o Hajduk, que é o maior clube do país, não vai a uma fase de grupos das competições europeias desde 2010. Não temos centros de treinos, não temos dinheiro, muito menos a melhor organização, mas o talento continua a surgir», explica Damir, que nos aponta alguns nomes a ter em conta para o futuro a médio prazo.
«Temos o Luka Sucic, apenas 22 anos, que poderá explodir na Real Sociedad e há outra dupla do Dínamo Zagreb, o Martin Baturina e o Petar Sucic. O Baturina é um fantasista, tem um talento incrível. O Nenad Bjelica [treinador do Dínamo] já referiu que, se jogasse no Benfica ou no FC Porto, era vendido por 100 milhões de euros, mas, como joga no campeonato croata, por 20 milhões ele sai», salienta o editor-chefe do Sportske Novosti, lamentando que a produção do talento croata não seja acompanhada pela evolução nas infraestruturas do país.
«Qualquer pessoa com dois dedos de testa diria que nunca mais na vida iremos tão longe num Mundial novamente, mas depois do que vivemos na Rússia e no Catar, como é que podemos dizer que é impossível? Continuamos a sonhar e em 2026 vamos querer nova medalha», conclui, perspetivando ser aí a última dança de Luka Modric pela seleção dos Balcãs.