Crónica de um triste que não sabe o que aconteceu ao seu clube
Pensem em mim, hoje, que escrevi estas linhas antes do apito inicial do Sporting-Benfica da noite de ontem, como alguém relativamente triste ou bastante contente. Depende se passámos, ou não, à final. Razões várias (entre as quais o excesso de otimismo ou pessimismo logo após o jogo), impedem-me de escrever depois de uma partida que começa quase às nove da noite.
Penso, no entanto, que seja qual for o resultado não tem de haver motivos para exaltações, num ou noutro sentido. No estádio, ou em frente de um televisor, sou, como todos os que gostam de futebol e são sócios de um clube, praticamente irracional. As faltas contra nós são mal assinaladas, aquelas a nosso favor deviam ter cartão; qualquer contacto na área do adversário é penálti, ao passo que na nossa é casual ou inexistente. Somos todos um pouco assim. Porém, após a noite dormida, e tirando os que vivem do futebol ou os que não conseguem pensar em mais nada, a paixão - como sempre - dá lugar a uma certa racionalidade. Com este texto, pretendo exercer essa racionalidade por antecipação.
O Benfica, mesmo aflito com as revelações que têm vindo a ser feitas de presumíveis ilegalidades cometidas, ainda que moralmente não mereça, por muito que me custe afirmar tem vindo a jogar melhor do que o Sporting. É uma realidade indesmentível que não vale a pena negar. O Sporting tem tido uma época de altos e baixos, com mais baixos do que altos, com perdas inacreditáveis (Tondela e Setúbal são dois exemplos, que, com vitórias, nos deixariam a três pontos do duo da frente). Ontem tivemos, ao contrário do adversário, muito a ganhar ou a perder e eu sem saber o que se passou. Dizem que Geoffrey Howe, ministro dos Negócios Estrangeiros de Thatcher, no Reino Unido, quando interrogado sobre a presidência grega da UE, respondeu: «Apenas espero que acabe.» Acho que estou um pouco assim em relação à época que vem. Todos os lisboetas conhecem a história dos adeptos terem as palmas das mãos mais brancas por as esfregarem quando exclamam: «para o ano é que é!». Infelizmente, penso que é preciso bastante mais do que fé. É preciso dinheiro também. E quando se fala em vender jogadores preciosos para conseguirmos equilibrar as contas, fica-se com a sensação que acaba por haver uma contradição entre o necessário equilíbrio financeiro e os objetivos desportivos. Mas, claro, também pode haver sorte.
Vejamos o futsal
Afinal da Taça de Portugal em Futsal, justamente no domingo passado entre Sporting e Benfica, ditou a vitória do Sporting. Nas modalidades, onde alguns adeptos temeram um descalabro, o Sporting segue, aliás, com registos bastante positivos, confirmando o seu estatuto de grande clube de todos os desportos. No Futsal, depois de um empate a quatro no tempo regulamentar, que passou a empate a cinco depois do prolongamento, ganhámos nos penáltis. Há quem diga, depois da meia-final e final da Taça da Liga e, agora, da Final de Futsal que SCP significa «Só com penáltis». Do meu ponto de vista, é uma forma tão boa como outra qualquer de vencer competições.
Um pouco de superstição animaria a ideia de que o Futsal seria uma antecipação do Futebol, mas não me parece suficiente racional para acreditar nela, sem a prova que, no momento que escrevo, ainda não tenho.
Outro indício, sem racionalidade nenhuma, seria a vitória por 1-0 em futebol feminino, frente ao Benfica, num jogo de solidariedade com as vítimas do Idai, furacão que assolou parte de Moçambique. Mesmo assim parece-me curto.
A passagem ao terceiro lugar do campeonato, depois de o Braga ter perdido com o Porto e o Sporting ter vencido em Chaves por 3-1 podia ser, ainda, um incentivo. Mas manda a verdade e a honestidade dizer que o resultado foi melhor do que o jogo. Boas notícias, só o facto de Luiz Phellype ter marcado pela primeira vez ao serviço do Sporting e ter, ainda, bisado, numa altura em que faz falta perante a lesão de Bas Dost. Boa também a verificação do regresso em forma de Bruno Fernandes.
Gil Vicente e ponto final
Ofacto de a espécie de novela criada à volta do regresso do Gil Vicente ter terminado com a única decisão que se impunha é positivo. Se a Justiça mandou que o Gil Vicente volte à Liga é imperioso que, além das duas equipas que forçosamente baixam de divisão para dar lugar às duas que sobem da Liga 2, desça uma terceira para acomodar a equipa de Barcelos. Que essa seja financeiramente compensada, também me parece bem; afinal não tem culpa nenhuma de, tendo evitado a descida com os resultados construídos ao longo da época, acabe por baixar na mesma.
Porém, e já tive oportunidade de abordar esta questão na BOLA TV, sou muito favorável a um campeonato com muito menos equipas do que as atuais 18 (razão para me arrepiar quando se começou a colocar a hipótese de passá-las para 20). Portugal não tem dimensão nem competitividade para tanta equipa na divisão principal. Baixar substancialmente o número (12, por exemplo), podendo fazer três voltas (a terceira em campo neutro, como acontece noutros países), ou uma Final a Seis para determinar o campeão e uma outra com os seis últimos para determinar quem desce são hipóteses que, estou convencido, aumentariam a competitividade e as receitas. Em qualquer dos casos, o número de jogos seria idêntico ao atual, com a vantagem de serem todos muito mais difíceis, porque mais equilibrados, para qualquer das equipas.
Bem sei que isto tem uma legião de gente contra. Mas para salvar o futebol há que tomar medidas radicais. E, sinceramente, isso até me parece mais importante do que o resultado de ontem (embora não do ponto de vista emocional).