Campeões, campeões, por enquanto… só o Sporting!

OPINIÃO16.05.201901:37

PRIMEIRO, o que está já decidido. O Sporting, um dos clubes do mundo com mais títulos internacionais, venceu a Liga dos Campeões de hóquei em patins, num jogo épico, numa final portuguesa, contra o FC Porto, jogada no pavilhão João Rocha. Nas meias-finais vencemos o Benfica, fase em que ficou igualmente o poderoso Barcelona, batido pelo Porto. Duas semanas antes ganhámos a Liga dos Campeões em futsal, em Almaty, Cazaquistão, depois de vencer nas meias-finais o Inter Movistar (onde joga o melhor do mundo, o português Ricardinho) e, na final, o Kairat, clube da casa, que já conquistara dois títulos europeus e nas meias-finais despachara o Barcelona.
Sendo A BOLA (como dizia no seu cabeçalho em tempos idos) «o jornal de todos os desportos», convém não deixar esquecer estes dois triunfos que devem orgulhar os sportinguistas, a cidade de Lisboa (que recebeu os campeões) e o país. O futsal e o hóquei são dois dos mais populares desportos de pavilhão em Portugal e sem dúvida dos que mais alegrias deram ao país, inclusive em termos de Seleção Nacional. É certo que há mais gente a praticar natação, mas não podemos comparar assistências. E, ainda assim, o clube que venceu os campeonatos nacionais de natação foi… o Sporting. Pela oitava (!) vez consecutiva. Como disse Varandas, sem bazófia nem aldrabices.
Por isso, o título deste texto não é provocação. Na antevéspera de o Benfica se sagrar campeão de futebol (não vejo outra possibilidade plausível) convém recordar que o clube a quem alguns ex-dirigentes lançaram uma espécie de fatwa, ou seja uma ameaça de morte, a começar pelas modalidades, está bem e recomenda-se.
E vamos à bola

ESTOU de acordo com Pinto da Costa, mas não estou de acordo com Pinto da Costa. Explico-me. Como ele, acho que a arbitragem em Vila do Conde foi inacreditável. Na verdade, foi tanto que não me lembro de todos os jornais desportivos acharem que um golo foi mal validado - o fora de jogo de João Félix foi do tamanho da légua da Póvoa. Concordo, ainda, com o presidente do Porto quando ele afirma que na Feira houve um caso inexplicável (a anulação do 2-0 ao Feirense) e mais uma série de trapalhadas. Não concordo com Pinto da Costa quando diz que o campeonato vai para o Benfica por via destas malfeitorias. Por dois motivos essenciais: o primeiro, é que o Porto também teve os seus benefícios; o segundo, e mais importante, é porque entendo que o Benfica ganhou pelo mérito, sobretudo, de Bruno Lage e pelo demérito do Porto que perdeu incrivelmente os sete pontos que teve de avanço. Uma equipa com o orçamento do Porto, que joga como o vimos jogar em Anfield contra o Liverpool, não podia ter quebras destas.
Em resumo, caso ganhe o Benfica, não precisava dos inacreditáveis erros dos árbitros. Estes acabam por manchar a arbitragem e o próprio triunfo do Benfica, além de fornecerem o combustível para um mal-estar cada vez maior no futebol.
O Sporting, no terceiro lugar de onde não sai, acaba por ter uma época melhor do que os vaticínios das Cassandras, segundo os quais andaríamos atrás do Braga e do Guimarães a lutar com o Marítimo… Enfim, não foi glorioso, não foi vergonhoso e a Taça de Portugal pode ainda ser nossa e devemos concentrar-nos nesse objetivo. Isto não significa que sejamos com o Porto, na última jornada do campeonato, tão desconcentrados ou com falta de pontaria como com o Tondela. É também necessário que os jogadores evitem picardias desnecessárias, que apenas prejudicam e enfraquecem o clube.

Um ano depois

FEZ ontem um ano que houve o inenarrável ataque a Alcochete. Não me querendo imiscuir em assuntos da Justiça, quero apenas lembrar (e este jornal fez uma sequência de acontecimentos concisa, mas certa), que o ataque veio na sequência de gravíssimas tomadas de posição do presidente destituído após a derrota por 2-0 em Madrid com o Atlético, a 5 de abril, na Liga Europa, que levou a uma troca de comunicados com parte da equipa e levou o ex-presidente a suspender todos os jogadores que subscreviam o comunicado. Por intercessão de vários sportinguistas, entre os quais, creio, Jorge Jesus, a suspensão foi levantada. Depois disso, derrotados na Madeira por 2-1 e perdendo o segundo lugar para o Benfica, no dia 13 de maio, o líder da claque Juve Leo ameaçou Acuña no aeroporto do Funchal, enquanto outros insultavam os restantes jogadores. Em Alvalade, à chegada, os capitães da equipa Rui Patrício e William Carvalho foram também ameaçados. Dois dias depois, a 15, dá-se o ataque ao centro de estágio. Dia 20, na que seria a mais fácil final da Taça em muitos anos, contra o Aves, um Sporting desmoralizado e sem liderança, repleto de fanfarronadas e aldrabices, perdeu 2-1.
Alguém pode imaginar um clube continuar neste estado? Foi então que após diversas reuniões o presidente da Assembleia Geral (há uma polémica sobre se apresentara, ou não, a demissão, mas de qualquer modo seria sempre presidente da AG até ao fim de junho), marca uma AG para 23 de junho, com vista à demissão da Direção. No final do mês fui nomeado presidente da Comissão de Fiscalização e perante queixas dos sócios por atropelos aos Estatutos, o presidente destituído tinha nomeado (coisa insólita) uma mesa da AG e um Conselho de Fiscalização (ou seja nomeara quem o fiscalizaria, coisa que nenhum estatuto pode admitir). A legítima Comissão como foi reconhecido (composta, além de mim, por João Duque, Luís Sousa, Paulo Santos e Rita Garcia Pereira) após um processo em que todas as partes foram ouvidas, suspendeu provisoriamente o que restava da Direção do Sporting (que aliás tinha tomado, soubemos depois, decisões sem o quórum mínimo). Entretanto, na AG de 23 de junho, a mais participada até então e que a ex-Direção tudo fizera por boicotar, Bruno de Carvalho e restantes membros do CD são demitidos com 71,3% dos votos. Mais tarde, a suspensão torna-se definitiva e, apesar de apelarem para a AG, todas as sanções da Comissão a que pertenci foram confirmadas com margens muito superiores a 60%. Nas eleições mais participadas de sempre é eleita a Direção atual, presidida por Frederico Varandas. O que se passou no clube tem um responsável e os que ainda se recusam a ver quem é, estão cegos pelo preconceito.
Isto é o clube. E na Academia, quem foram os responsáveis? Aí será a Justiça a responder. Eu não sei ao certo e as minhas intuições não são tão boas como as de Poirot, o célebre detetive belga criado por Agatha Christie. Mas quero deixar claro uma coisa: a suspensão e proposta de expulsão de Bruno de Carvalho e Alexandre Godinho nada tiveram a ver com os resultados desportivos ou com o ataque à Academia. Apenas e tão só com a violação grosseira dos Estatutos. Algo que os sócios demonstraram, por grandes votações, não admitir. Espero que para sempre.