16 outubro 2024, 09:05
Benfica deve pedir abertura de instrução no caso dos emails
Tem 20 dias para fazê-lo; por agora fala de «acusações infundadas»
O Benfica corre riscos de ficar anos sob suspeita — e definitivamente julgado em praça pública pelos adversários — se tivermos em conta a celeridade de outros grandes processos que bem conhecemos
Em novembro faz dez anos que José Sócrates, ex-primeiro ministro, foi detido no aeroporto de Lisboa. Tratou-se, aliás, do primeiro ex-primeiro a ser detido em Portugal.
Fez dez anos, no último verão, que rebentou o escândalo do Banco Espírito Santo, entretanto rebatizado de Novo Banco. O julgamento dos acusados neste processo começou ontem. O julgamento de José Sócrates sabe Deus quando será.
Falamos do julgamento legal, aquele que está consagrado na base dos Estados de Direito, aquele que é feito nos tribunais.
O julgamento público de José Sócrates ou Ricardo Espírito Santo, entre muitos outros, está feito há muito. E parece irrevogável, venham os tribunais a dizer o que disserem.
«À Justiça o que é da Justiça, à política o que é da política», disse um dia o também ex-primeiro ministro António Costa. Tem razão na essência, mas sabe melhor que ninguém que os tempos da Justiça e da política são diferentes, tanto que se demitiu quando viu o nome dele envolvido em mais um caso nebuloso colocado em praça pública pelo Ministério Público.
Os tempos do desporto — em concreto do futebol — são ainda mais rápidos, arrisco dizer, que os da política.
Luís Filipe Vieira, ex-presidente do Benfica, foi detido há três anos e três meses. Demitiu-se, como António Costa, na sequência de uma suspeita, embora ser detido ainda seja diferente de ser citado num processo.
Respeitando — diria mesmo venerando, no meu caso — os princípios fundamentais da presunção de inocência e da independência do poder judicial, não posso deixar de achar que são anos de mais a passar sobre pessoas e instituições. Com culpas dos media pelo meio, sim. Porque dificilmente resistimos a linchamentos em praça pública que deem visualizações, cliques, audiências, ouvintes ou vendas de papel.
O Ministério Público acusou ontem a Benfica SAD e Luís Filipe Vieira, entre outros, de uma série de crimes que devem continuar a ser investigados. E todos, enquanto cidadãos, agradecemos que o sejam.
A Benfica SAD pode, no limite, ver-se impedida de inscrever equipas nas competições em que participa. Se tiver de acontecer, que aconteça, com o Benfica ou outro qualquer. Mas, mesmo atendendo a todos os trâmites das leis, não faz sentido que passem dez anos até algo acontecer, seja condenação ou absolvição.
16 outubro 2024, 09:05
Tem 20 dias para fazê-lo; por agora fala de «acusações infundadas»