Bruno Lage tem de alargar o círculo de confiança a outros bons jogadores do plantel, que podem vir a ser importantes para a equipa numa época tão desgastante como a atual
«Tenho de perceber os motivos de falarem muito do Rollheiser», atirou Bruno Lage, em tom de desafio, quase insinuação disfarçada pela aparente boa disposição, na conferência de Imprensa após a final da Taça da Liga.
A indireta não saiu na direção de nenhum jornalista de A BOLA, mas há várias razões para todos nós, de todos os órgãos, falarmos do argentino. Se Lage não concorda, então provavelmente não estaremos a olhar para os mesmos jogos.
Um dos grandes ficará com o troféu e as faixas, mesmo que todos já tenham deixado escapar momentos de afirmação esta temporada. É uma Liga nivelada por baixo, apenas isso.
Falemos, então, de Benjamín Rollheiser. Primeiro, porque é bom jogador. Porque foi a primeira aposta do técnico para o apoio a Di María, depois da adaptação feita por Schmidt do extremo ao duplo-pivot – um pouco ao jeito de Enzo Pérez por Jorge Jesus –, e perdeu-se aos 56 minutos do segundo encontro, em Belgrado, face à disponibilidade entretanto recuperada por Aursnes. Em terceiro, porque o contexto é de quebra física no norueguês, desgastado pela missão de sacrifício que é pressionar metade da largura do campo, do centro para a direita e vice-versa, fazendo de si próprio e ainda de Di María – e de irregularidade em Kokçu, que se mostra algo unidimensional: superlativo no momento do passe, deficitário nos posicionamentos e no foco sem a bola nos pés. Por fim, com a equipa tão frágil no ataque posicional, deixo a questão: não faria sentido ter em campo a capacidade para resistir à pressão, passar e levar de Rollheiser?
O treinador do Benfica voltou a ter um plano e, mais uma vez, funcionou. Talvez não seja o último, porém a conquista da Taça da Liga já reforça o seu crédito junto das bancadas e dos seus jogadores
Terá o sul-americano piorado o seu caso ao ficar ligado ao golo do Aves SAD na luta desigual com Devenish, porém isso não chega para explicar a birra ou posição de força de Lage, ao ponto de estar a empurrar um jogador que lhe pode ainda ser muito útil para a porta de saída. Não estará a ser inimigo de si próprio?
Quem fala de Rollheiser pode ainda lembrar Prestianni, que durante as primeiras semanas da temporada mostrou uma irreverência que será certamente necessária ao Benfica durante o que falta da época. O ex-Vélez foi um investimento importante, apontando-se-lhe um grande futuro, e tem de ser encarado de forma diferente dos demais. Nesta altura, o técnico está obrigado a perceber que só os terá a top se lhes for mostrando que não desistiu deles.
Não são só os jogadores, não é só Lage, é mais do que isso. Novo dérbi com o Sporting é crucial para o futuro a médio, longo prazo das águias esta época, além de se tratar de uma final
É verdade que Schjelderup foi passo importante (no «momento certo», defende o técnico), sobretudo para quem costuma ser tão fiel aos seus, porém Lage vai ter de alargar o círculo de confiança ou faltar-lhe-ão soluções quando os do costume se esgotarem. E vão esgotar-se.