Bruno Lage durante o Sporting-Benfica de dezembro passado
Bruno Lage durante o Sporting-Benfica de dezembro passado
Foto: IMAGO

Os pecados de um Benfica sem cultura de vitória (e como todas as peças encaixam)

OPINIÃO10:00

Não são só os jogadores, não é só Lage, é mais do que isso. Novo dérbi com o Sporting é crucial para o futuro a médio, longo prazo das águias esta época, além de se tratar de uma final

Bruno Lage ganhou dois dias, não mais do que isso com o triunfo sobre o SC Braga. É certo que uma eliminação na meia-final poderia deixar marcas graves no (ainda-por-provar segundo) processo de retoma dos encarnados, porém estas reaparecerão e talvez até com mais força, em caso de novo desaire em apenas duas semanas diante dos leões.

É o mesmo que dizer que, frente a este conjunto arsenalista bastante irregular, capaz do bom e do mau com poucos dias de diferença, as águias não tinham nada a ganhar e, sim, praticamente tudo a perder. Ainda assim, o treinador do Benfica elevou o tom de voz e puxou dos galões com o autoelogio (sempre desnecessário) de que sabe preparar bem os jogos, apoiando-se numa exibição concludente, que, bem vistas as coisas, não tinha sido mais do que uma obrigação da sua equiapa. Acham mesmo que o «anormal» não teria sido novo desaire?

Nada disto invalida o bom trabalho que foi feito no pós-Schmidt. Lage chegou com um plano e este funcionou em praticamente todos os momentos até, aqui e ali, começar a parecer curto. Entre as vitórias e um ou outro resultado menos positivo, o técnico ia lembrando que a equipa ainda não estava bem ao seu jeito, sobretudo a nível da gestão das partidas através da posse de bola, todavia a análise sempre me pareceu redutora. Uma coisa é deixar escoar o tempo evitando ser colocado em xeque, outra é saber o que fazer em sequências longas em progressão diante de blocos mais baixos e tendo de recuperar de resultados desfavoráveis.

Não faltava razão ao treinador quando dizia que o Benfica tinha dificuldades em capitalizar a maior técnica individual dos seus atletas nesses momentos, o que acabava por expor a defesa, mas entretanto omitia a falta de química das unidades mais avançadas em encontrar espaço pelo ataque posicional, um handicap que atravessa várias heranças no banco dos encarnados e não é só da sua responsabilidade, ainda mais quando nem sequer um mercado teve para poder corrigir lacunas no plantel.

Lage tem essa abertura agora, embora se aponte para poucos retoques e, mais uma vez, certa navegação à vista, mais em busca de oportunidades, saldos ou cedências do que iniciar política desportiva enquadrada com o técnico ou, então, dar continuidade à anterior, se esta estava assente num rumo independente de quem estava, a dado momento, sentado no banco.

Na prática, o Benfica precisa de partir o jogo para ter espaço e tendencialmente tem de fazê-lo ainda perto da baliza adversária, a fim de não estar tão exposto. É isso que o torna tão dependente da pressão alta e da reação à perda. Quando estas não funcionam, afunda-se. E só funcionam quando se apresenta Florentino como equilibrador de todo o processo. Este, ou eventualmente um novo Tino, que antes Lage aceitou ver, sem sucesso, em Julian Weigl, um Florentino 2.0, que alie o momento defensivo a uma capacidade de construção mais vertical, são fundamentais para que tudo funcione.

Frederico Varandas não tem ido às aulas

22 dezembro 2024, 10:00

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Presidente dos leões voltou a mostrar que há muito estagnou na comunicação, mas pelo menos João Pereira deu alguns sinais de maior à-vontade, graças aos triunfos e ao treino que tem recebido

O dérbi que aí vem será muito importante para o futuro de Benfica e Sporting a médio, longo prazo, além de se tratar de uma final. Não carregará o peso de decisivo, a não ser para a prova, ainda que possa vir a ser impactante pela mossa que pode fazer ou pelo moral a acrescentar.

Se voltarmos a Alvalade, naquele contexto de dúvida do lado dos locais, criado pela estreia de um treinador após ciclo muito negativo, e de um certo empoderamento do dos encarnados, face à recuperação e ao primeiro lugar conquistado, encontramos um Benfica apático e ausente durante a primeira parte. Poucos dias depois, na receção ao SC Braga e após o empate dos rivais em Guimarães, os homens de Lage voltaram a vacilar e, mais ou menos, da mesma forma. A entrar mal e a acabar melhor, sem no entanto recuperarem, no resultado, do péssimo arranque.

Se no dérbi eterno, os da Luz ainda podem alegar o fator-surpresa, pela utilização de um esquema disruptivo, o desaire seguinte jamais poderá ser encarado como apenas coincidência. Algo estava (está?) mal no reino das águias.

Em paralelo, o discurso muitas vezes mais apagado e assíncrono em relação à realidade por parte de Bruno Lage, a anos-luz do da primeira passagem pela Luz, e incapaz de ser agregador, também não pode ser dissociado do que se passou no relvado. Mesmo que o tom possa ser diferente no balneário, não conseguir transmitir confiança fora deste pode levar a consequências até mais penalizadoras.

Mais. Uma equipa não é só um treinador ou os seus atletas. É também o reflexo de um clube. E um clube a viver apenas o dia a dia, sem projetar o futuro e se mostrar organizado e bem estruturado, pode igualmente influenciar negativamente na hora de definir um passe de rotura ou um remate à baliza. Uma direção que vai perdendo membros e massa crítica, mesmo que não tenha sido formada com os maiores especialistas, sobretudo a nível da direção desportiva, e que não consegue sacudir a ideia de apenas se ir aguentando viva até às eleições, cria naturalmente instabilidade no grupo. Mesmo que seja de forma inconsciente.

Até aquela intervenção de Rui Costa, muito ao jeito de um Frederico Varandas, que surgiu com o navio quase a ultrapassar a tempestade, ainda a meio de dezembro, terá tido efeito mais contraproducente do que criado um inspirador. Ainda que tenha sido com boas intenções, os líderes devem aparecer sobretudo nos momentos mais difíceis. Nesses, Lage e o plantel estiveram um pouco entregues à sua sorte.

O avanço que o Benfica realmente deu

13 dezembro 2024, 10:00

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Belo jogo na Luz, com os encarnados a conseguir reagir às dificuldades colocadas por um muito bem trabalhado Bolonha sem, no entanto, chegarem ao golo da vitória

Não é um clube assim capaz de criar uma cultura vencedora. Porque a erosão está em todas as camadas, em quase todas as modalidades e o futebol é o seu maior reflexo. Uma mentalidade de vitória teria levado a uma entrada em Alvalade e na Luz, diante do SC Braga, de peito feito, porque essa também influenciaria quem estivesse no banco, filtrado por esse perfil. De qualquer forma, esta Liga estará para quem esconda as fraquezas, elimine mais erros e a agarre com força. E isso e o adeus de Amorim tornam tudo possível. Até mesmo este Benfica ainda lutar pelo título de campeão.