OPINIÃO Auditoria forense no FC Porto: o regabofe

OPINIÃO11:11

3,6 milhões de euros em despesas de representação dos administradores em dez anos

O FC Porto concluiu enfim o projeto da auditoria forense às contas da SAD, prometida por André Villas-Boas, e A BOLA teve acesso às principais conclusões. E é uma leitura esclarecedora, que permite perceber o estado a que o FC Porto chegou (ou a que a maior parte das empresas chegarão se tiverem alguém a liderá-las durante 42 anos sem controlo, ou com órgãos de supervisão que apenas o são no nome) no reinado de Pinto da Costa.

A auditoria, que incidiu em dez épocas desportivas (2014/2015 a 2023/2024), olhou para três áreas consideradas críticas pelo FC Porto — bilhética, transferências de jogadores e despesas de representação — e em todas elas há matéria para fazer corar qualquer administrador que tenha passado pela SAD nesse período, sobretudo quando ao mesmo tempo o clube foi sancionado pela UEFA por violações das regras do fair-play financeiro.

Nas transferências de jogadores não há grandes surpresas: «47% de comissões em excesso, contratando 155,8M€ face a um máximo de 105,9M€ caso fossem respeitados os limites FIFA e/ou os standards de mercado», escreve a Deloitte, responsável pela auditoria. Teoricamente, fácil de resolver... até ao dia em que for preciso que um agente adiante dinheiro à SAD. Veremos se o novo FC Porto consegue evitá-lo.

De Manafá a Samuel Portugal: o que diz a auditoria do FC Porto

15 janeiro 2025, 23:13

De Manafá a Samuel Portugal: o que diz a auditoria do FC Porto

Deloitte destaca um conjunto de situações em que a SAD adquiriu direitos económicos dos jogadores sem documentação de suporte ao racional de decisão para aquisição, como relatórios de 'scouting' ou de desempenho do jogador

Na questão da bilhética, a auditoria concluiu ter havido «irregularidades relativas aos processos de venda de bilhetes à Associação dos Super Dragões e às Casas FC Porto, resultando numa perda total estimada de 5,1M€» nas últimas cinco épocas analisadas — ou seja, 1 milhão por temporada de descontos indevidos, viagens de férias para os Super Dragões, ou bilhetes vendidos que nunca foram pagos.

Mas o verdadeiro regabofe, para mim, está nas despesas de representação. Entre 2014/15 e 2023/24, «os Administradores usufruíram de 3,6M€ em Despesas de Representação (...) que não são elegíveis em consonância com o regulamento interno», ainda que houvesse um plafond definido pela Comissão de Vencimentos, para «despesas de âmbito profissional ao serviço do Futebol Clube do Porto». Alguns exemplos: uso simultâneo de vários veículos por administradores, que eram cedidos a familiares; 700 mil euros de «refeições profissionais sem justificação objetiva»; ou 70 mil euros «gastos em joalharias e relojoarias», tão essenciais para a atividade da SAD...

Não surpreende que as contas do FC Porto tenham chegado ao ponto onde chegaram...