Atração pelos extremos
Roger Schmidt, treinador do Benfica (Foto: GRAFISLAB)

Atração pelos extremos

OPINIÃO17.04.202409:00

Relação entre o Terceiro Anel e Roger Schmidt é reflexo de uma forma de estar que parece contagiar muito quem devia pensar de cabeça fria

Facto: dos três grandes, o Benfica é o clube que menos títulos conquistou nos últimos cinco anos. O FC Porto venceu oito (que podem passar para nove), o Sporting venceu quatro (que podem passar para seis) e as águias conquistaram três (que podem passar para quatro).

Facto: dos três grandes, o Benfica é o clube que mais vezes mudou de treinador nos últimos cinco anos: Bruno Lage-Nélson Veríssimo-Jorge Jesus-Nélson Veríssimo-Roger Schmidt; de 2019 para cá, o Sporting teve Silas-Leonel-Pontes-Rúben Amorim; o FC Porto só contou com Sérgio Conceição.

Facto: nas três últimas janelas de mercado, já com dedo de Roger Schmidt, o Benfica apresenta uma taxa de acerto baixa apenas no último período – Jurásek e Bernat não fizeram a diferença, Kokçu e Arthur Cabral estão no limbo, Marcos Leonardo, Prestianni e Rollheiser são ainda promessas.

Facto: nos anos mais recentes e de estabilidade da equipa técnica, o FC Porto teve vários flops e alguns que custaram muito caro - Saravia, Nakajima, Zé Luís, Malang Sarr, Felipe Anderson, Rúben Semedo, David Carmo ou Gabriel Verón.

Facto: já com Amorim ao comando em todos os períodos abertos do mercado de transferências foram dados vários tiros ao lado – Gonçalo Esteves, Rúben Vinagre, Bellerín, Sotiris, Tanlongo, Arthur Gomes, Rochinha (e Chermiti chegou a ser aposta para ganhar jogos).

Facto: o treinador alemão venceu dois dos últimos três títulos que o Benfica conquistou nos últimos cinco anos e foi com ele que muitos jogadores fizeram as melhores épocas ao serviço do clube: Grimaldo, Florentino, João Mário, Rafa, Gonçalo Ramos (e sim, até Chiquinho). E todos os outros que vinham de trás não fizeram pior. E foi ele a lançar, sem grandes reservas ou receios, António Silva e João Neves, ficando ligado à carreira de ambos, aconteça o que acontecer.

Facto: apesar dos erros de casting, de más apostas e de algumas teimosias normais de quem tem convicções fortes como são os casos de Conceição e Amorim, a sua credibilidade e autoridade nunca estiveram em causa e não me recordo de ver sequer um único nome como possível substituto de um ou de outro nos momentos de crise.

Facto: o Benfica pode chegar nesta quinta-feira às meias-finais de uma competição europeia, algo que o clube conseguiu pela última vez há 10 anos.

Facto: nem um ano depois de ter sido campeão e na sequência de alguns erros claros do ponto de vista da gestão, Roger Schmidt é alvo de críticas ao nível do pior que se assistiu em torno de Bruno Lage, Rui Vitória e mesmo de Jorge Jesus.

Facto (por confirmar, embora os indícios sejam muito fortes): há entre o universo benfiquista uma atração pelos extremos e por vezes parece que esse sentimento se infiltra demasiado em quem tem de decidir de cabeça fria. A euforia dos adeptos que encontraram um novo Eriksson na época passada conduziu a uma renovação contratual precipitada e a contestação do Terceiro Anel em 2023/2024 gera agora muitas incertezas na SAD.

Dica: se Schmidt ficar para uma terceira temporada, é bom que aprenda a arranhar o português. A relação conturbada com os adeptos também tem muito a ver com comunicação e relações públicas. Principalmente quando as coisas correm mal.      

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