A taça embruxada (até quando?)

OPINIÃO21.12.202205:30

A Taça da Liga é uma espécie de buraco negro para o FC Porto que, em 15 edições, regista zero títulos, quatro finais perdidas (!) e seis derrotas em meias-finais

O Sporting esmagou o SC Braga (5-0) com uma primeira parte fulgurante e qualificou-se pela sexta vez consecutiva para a Final Four da Taça da Liga - desde que a prova adoptou este formato só falhou a primeira edição (2016/2017, ganha pelo Moreirense). Na meia-final, já em Leiria, perante o Moreirense ou o Arouca, os leões vão defender o título que ganharam nos dois últimos anos, de olhos postos na final (que seria a quinta nos últimos seis anos). Será esse o desfecho mais previsível tendo em conta o que tem sido o desempenho leonino no modelo Final Four (quatro títulos em quatro finais) e o percurso 100 por cento vitorioso de Rúben Amorim nesta mesma competição: três participações, três títulos (SC Braga e bis com Sporting) e vitórias em todos os (13) jogos disputados. Um cartão de visita impressionante.
Mais logo é a vez de o FC Porto tentar, perante o Gil Vicente, no Dragão, a quinta qualificação (em sete possíveis) para a Final Four. A Taça da Liga é um espinho que continua encravado na garganta portista. Todos os anos, por esta altura, os adeptos fazem a mesma pergunta: é desta? Bom, algum dia há de ser, porque não é normal que um clube que ganha tantas coisas (mais) importantes continue esquinado com esta prova - parece o Ronaldo dos últimos quatro meses com os golos. O jejum portista é tanto mais estranho quando se sabe que a Taça da Liga está concebida para ser ganha por um dos grandes. Ora se há grande habituado a ganhar taças é precisamente o FC Porto. Pelo menos tem sido, nos últimos 30 anos.
Facto é que ao fim de 15 edições, o campeão nacional continua sem aparecer na lista dos vencedores da taça embruxada, que conta com cinco clubes: Benfica (7), Sporting (4), SC Braga (2), V. Setúbal (1), Moreirense (1) - os adeptos sportinguistas costumam acrescentar o árbitro Lucílio Batista a esta lista. A Taça da Liga é uma espécie de buraco negro para um clube que tem no palmarés 82 títulos (75 domésticos, 7 internacionais) e que, em 15 presenças, regista quatro finais perdidas (!), mais seis derrotas em meias-finais. Um registo perdedor que não se coaduna com o desempenho portista noutras competições domésticas.
Sérgio Conceição tem sido firme no discurso relativamente à Taça da Liga, aqui e ali com um ou outro laivo de humor negro. O novo treinador do Gil Vicente, Daniel Sousa (início auspicioso com duas vitórias e um empate), sabe que hoje terá pela frente um FC Porto empenhado em quebrar de vez a maldição. O FC Porto e o próprio Sérgio: a Taça da Liga é o cromo que lhe falta para completar a caderneta de títulos domésticos, sendo que a final deste ano (a 28 janeiro) poderá ter para ele um encanto particular. Se chegar lá e ganhá-la, não só quebra a maldição do clube como ultrapassa Artur Jorge e torna-se o treinador portista com mais troféus - nove.
Única certeza portista relativamente a esta prova é a do adversário que encontrará na meia-final de Leiria se eliminar o Gil Vicente: é o Académico de Viseu de Jorge Costa, que jogou com Sérgio no FC Porto. O 6.º classificado da Liga 2 eliminou ontem no Fontelo o Boavista de Petit com alguma surpresa. É a segunda vez que uma equipa de escalão secundário chega à Final Four, depois da Oliveirense de Pedro Miguel em 2017/2018. Parabéns a Jorge Costa e à bela cidade de Viseu.


DIEGO E LIONEL 

A O contrário do que muitos pensam, dizem e escrevem, Leo Messi não precisou de ganhar o Mundial do Catar para entrar no Olimpo do futebol: já lá estava há muito tempo, tal como Cristiano Ronaldo, pela excecionalidade dos feitos e dos títulos (colectivos e individuais) acumulados nos últimos 20 anos e que fizeram dele, muito antes da final do Mundial, um das maiores estrelas desportivas de todos os tempos.
O que Messi conseguiu em Doha, isso sim, foi coroar uma carreira absolutamente sublime com o título mais importante de todos (ficou com a coleção completa), que ele tanto se esforçou por ganhar… quanto mais não fosse para não ter de aturar mais a eterna comparação com Diego Maradona («… sim, mas el pibe ganhou sozinho o Mundial de 1986 e tu com a selección não passas do quase…»). Ou seja, aquilo que distinguia Maradona no seio da santíssima trindade do futebol argentino (Maradona-Messi-Di Stefano), já não existe. O triunfo argentino no Catar, signé Messi, fez cair definitivamente por terra o argumento que os maradonistas usavam (e abusavam) para vencer as discussões com os messistas nos cafés desse mundo.
Messi igualou deus Maradona no mais importante (ambos campeões do Mundo, ambos finalistas duas vezes), mas só isso. Ele já estava há muito tempo no Olimpo do futebol e das lendas do desporto ao lado de Pelé, Maradona, Cristiano, Cruyff, Eddy Merckx, Usain Bolt, Michael Jordan, Roger Federer, Michael Phelps, Michael Schumacher, Cassius Clay, Tiger Woods e outros desta estirpe. Um Mundial (um mês!) não pode destruir ou menorizar aquilo que foi construído em vinte anos. Reparem. Se Kolo Muani tivesse feito a dois minutos do fim o 4-3 para a França, toda a tinta que os jornais gastaram com Messi teria sido gasta com Mbappé. E se isso tivesse acontecido, Messi passaria a ser um deus menor? Claro que não!
Deus maior continuará a ser Cristiano mesmo que tenha entrado definitivamente (?) no clube das lendas que não conseguiram ganhar o Campeonato do Mundo - um desfecho previsível, diga-se, para quem representa uma selecção que nunca sequer conseguiu chegar à final. Está bem acompanhado o nosso Ronaldo nesse clube de desditosos: vejo Cruyff, Eusébio, Di Stefano, Puskas, Zico, Marco van Basten, Yashin, George Best, Platini…