Villas-Boas 'traído' na Luz
'Hat trick' é o espaço de opinião semanal do jornalista Paulo Cunha
1O FC Porto, avesso a anos zero, conforme André Villas-Boas frisou no defeso quando assumiu que o campeonato é o grande objetivo para a época em curso, bate-se pelo título em campo, mas fora dele luta pela sobrevivência. A opção por Vítor Bruno para suceder a Sérgio Conceição, a escolha de Nehuén Pérez para liderar a defesa, de Fábio Vieira para dar magia ao centro do terreno ou de Samu para matador — três exemplos de reforços para um plantel inesperadamente competitivo fechado o mercado de verão — foram o menor dos dilemas de AVB em tempo de vacas esqueléticas no Dragão.
Uma SAD a definhar, credores à porta, entre os quais funcionários e profissionais do futebol e modalidades, o fair play financeiro da UEFA em risco de incumprimento, enfim, um cenário dantesco que só a auditoria forense explicará na plenitude. Os novos responsáveis viveram desde 27 de abril sob o peso de prejuízos gigantescos, passivos por reduzir, capitais próprios cada vez mais negativos, realidade que obrigou mesmo AVB a emprestar 500 mil euros — se isto não é uma SAD a bater no fundo, após milhões e milhões de receitas que se evaporaram por artes mágicas de tantos comissionistas…
Em seis meses na cadeira de sonho, na lista de promessas eleitorais AVB já pode colocar um visto na renegociação da dívida e do acordo com a Ithaka, na redução da massa salarial, na aposta no futebol feminino e futsal, no portal da transparência, na revisão do protocolo com as claques, na redução das comissões a empresários e na aproximação aos associados com melhoramentos de vários processos.
Com estes trabalhos de Hércules — ao contrário do herói da mitologia grega não se devem ficar pelos 12 — percebo a desilusão de AVB na Luz consumado o 4-1 que obrigou o presidente portista a descer ao balneário ainda João Pinheiro não apitara para o final. O bom trabalho nos gabinetes merece correspondência nos relvados e nada disso transpareceu num palco que até já foi apelidado de salão de festas. Se os jogadores mostraram atitude que não honrou o chamado ADN à Porto, ao invés do que aconteceu na reviravolta da Supertaça frente ao Sporting, no banco Vítor Bruno continua sem encontrar antídoto para combater a insegurança defensiva que deixa este dragão em pânico sempre que o nível de dificuldade dos desafios aumenta.
Mas o futuro do FC Porto está longe de se jogar apenas nos estádios, os problemas que ameaçam a instituição resolvem-se noutros campos de batalha em que imperam números, balanços e balancetes, relatórios e contas ou ativos financeiros… Por muito que os abutres pairem à espera de que o pior esteja para vir, o que se passa nas quatro linhas fica nas quatro linhas.
2Nascido na cidade eterna há 73 anos, Claudio Ranieri não resistiu ao convite da Roma — primeiro clube da carreira de jogador e que também já treinou — e trocou a reforma dourada por um lugar no banco dos romanos. O técnico foi o protagonista principal do mais incrível conto de fadas de que me lembro no desporto-rei — o título de campeão de Inglaterra do Leicester em 2015/2016. Ao leme dos foxes, terminou a Premier League com 10 pontos a mais que o Arsenal, 11 que o Tottenham e 15 que City e United. Caso não acredite em milagres, recorde o onze-tipo desse Leicester: Kasper Schmeichel; Danny Simpson, Robert Huth, Wes Morgan e Christian Fuchs; Riyad Mahrez, Danny Drinkwater, N’Golo Kanté e Marc Albrighton; Shinji Okazaki e Jamie Vardy.
3Se Ruben Amorim conseguir elevar o nível do Manchester United para um patamar em que Bruno Fernandes não se sinta a pregar sozinho no deserto, o primeiro passo para a construção de uma equipa forte estará dado.