A melhor das equipas para se dar uma grande cabazada
Podem considerar um pouco cruel, mas entendo que o chamado Belenenses SAD (nem assim a Liga devia ter permitido o nome) é o clube ideal para levar uma goleada no seu terreno (ressalvo os seus profissionais, que dão o melhor e não têm culpa do que se passou). Seu terreno, é como quem diz; esta SAD não tem casa, tem o Jamor como refúgio (andou mal a FPF) e parece que, para o ano, a Câmara de Oeiras lhe empresta um pequeno estádio que para lá tem. Na verdade, não sendo eu do Belenenses, podem sempre dizer-me «mete-te na tua vida». Mas nenhum dos meus amigos que sempre foram do histórico e tradicional Clube de Futebol ‘Os Belenenses’, se mantêm como adeptos da SAD. É por isso que na Série 2 da I Divisão da Associação de Futebol de Lisboa, o clube arrasta multidões. No último domingo deu 7-0 ao Belas e vai subir de escalão com apenas uma derrota e um empate e com 121 (!) golos marcados. Por mérito dos que não desistem de uma agremiação que tem muita história, muita diversidade e mais de uma dezena de modalidades, nalgumas das quais anda entre os favoritos. O meu avô materno, que era da marinha de guerra, tinha preferências por este clube, ao contrário do paterno que me influenciou no sportinguismo.
O Belenenses não é, nem pode ser uma realidade desligada da sua história e penso que a Liga e a FPF teriam apenas uma hipótese: não permitir que SAD desportivas, desligadas dos clubes tradicionais que lhe deram origem, se mantenham nos escalões de que beneficiaram por essa ligação. Se uma SAD pode ter uma equipa de futebol que não está ligada a qualquer dos clubes, aqueles que lutaram por subir, por não descer, por ganhar e por não perder, então que essa SAD comece por baixo.
E falemos do jogo
exultei, portanto, com o jogo do passado domingo. Pelo Sporting, por ser o chamado Belenenses SAD, por o que se passou. Hat trick de Bruno Fernandes - magnífico! Cinco jornadas seguidas a marcar golo por parte de Luiz Phellype - ótimo! Raphinha a jogar cada vez mais - belíssimo! Bas Dost marca no regresso aos relvados, ainda que só lá estivesse 15 minutos - Bravíssimo! Doumbia depois de uma sensacional simulação de Dost estreia-se a marcar - fantástico! Nemanja Gudelj, ainda que bafejado pela sorte de um ressalto, marca um golo importantíssimo (o 3-1) - soberbo! Acho que o resumo do jogo, pelo menos para um sportinguista, está feito. A confiança sobe a limites que não esperaríamos e faltam dois jogos - que espero sejam duas vitórias: o desesperado e por isso difícil Tondela, no próximo sábado, em Alvalade, e o muito difícil, e provavelmente ainda a sonhar com campeonato, FC Porto no Dragão.
A propósito de sonhos ainda não desisti de sonhar que o Nacional pode deixar o Porto à mercê de perder não só o campeonato como o segundo lugar. A boa notícia é que o segundo lugar seria para o Sporting, com uma vitória na casa portista. A ver… Para já, o efeito Keizer que se fez sentir após a sua entrada parece revelar-se de novo. Não sei qual é o segredo, nem porque está a acontecer algo que, fosse mais constante, nos colocava na luta pelo título. A verdade é que já chegámos ao ponto das dores de cabeça positivas. Por exemplo: Bas Dost ou Luiz Phellype? Ou os dois? E chegámos, também, ao ponto de podermos fazer uma enorme venda de Bruno Fernandes que é o herói deste campeonato. Um jogador que saiu na sequência dos acontecimentos de Alcochete e voltou a instâncias de Sousa Cintra. Podem dizer que Cintra mentiu, ou omitiu ou fez qualquer coisa condenável, mas não lhe tirem o mérito de ter conseguido que Bruno e Dost voltassem, que Mathieu e Acuña ficassem e que o Sporting tenha hoje uma equipa desequilibrada (melhor depois da janela de Inverno), mas que dá luta até ao fim. Ao contrário do que pensavam os nossos adversários e, até, alguns pessimistas do Sporting, não somos nós a chacota do campeonato.
De resto, a deslocação do Benfica ao Rio Ave, já no domingo, é a última grande barreira para a equipa da Luz. Uma derrota ou empate deixa o Porto com hipóteses (caso vença o Nacional) e isso significa que há campeonato até ao fim, embora ensombrado com os escândalos, patifarias e manhas que se fazem dentro e fora de campo.
O triunfo dos… animais
O genial livro de George Orwell, escrito em 1945 com o título original de ‘Animal Farm’, foi traduzido para português como ‘O Triunfo dos Porcos’; mais tarde, talvez para o título ficar mais condizente com o original, passou a chamar-se ‘A Quinta dos Animais’. Aqui utilizo uma mistura dos dois para me referir às claques. Devo dizer que foi penoso ver o excelente jogador que é Herrera, de megafone na mão, quase pedir desculpa aos Superdragões pelo empate em Vila do Conde. Isto no fim de um jogo em que a equipa do Porto ganhou 4-0 e foi assobiada. É demais!
No Sporting penso que as coisas acalmaram, mas temos igualmente os nossos problemas. Que no Benfica têm a agravante de serem dissimulados por uma mentira que todos conhecem: a de que o SLB não tem claques. Tem e são agressivas.
Ora isto é necessário acabar e o mais cedo possível. Não só os clubes, os organismos desportivos e a Justiça comum se têm de preocupar, como são necessárias estratégias para que as claques não se tornem nos donos da bola, os donos do jogo, obrigando profissionais de categoria a humilharem-se perante eles. Foram as claques que no Sporting, aliadas a um presidente que não se enxergava, iam também destruindo o clube. É o Sporting, neste momento, o clube que me parece mais adiantado no controlo desta autêntica praga.
Veja-se o que se passa noutras paragens, nomeadamente em Inglaterra, onde começou o fenómeno do holiganismo. Estádios inteiros cantam e incentivam as equipas, sem com isso insultarem as outras, ou pior, recordar que mataram adeptos das outras, como certos energúmenos ligados ao Benfica têm feito quando imitam os sons de very lights.
Se os clubes derem os incentivos certos; se a Liga e a Federação tiverem mão dura sobre os desacatos, os cânticos e os impropérios desadequados (qual o sentido de chamar nomes a um clube que nem sequer está em campo?); se a polícia for proactiva e a Justiça dos tribunais célere, o caso resolve-se e poderemos voltar aos jogos de futebol sem medo. O anúncio que as televisões têm passado em que alguém lembra, como momento chave de um jogo de futebol, o risco que passou com o filho é um passo certo. Mas são precisos mais. Muito mais.
Ver Bas Dost com um lanho na cabeça provocado por um bando de hooligans; ver Hector Herrera a justificar-se perante uma chusma que não quer saber de fair-play nem de sentido desportivo, é uma desolação com que temos de acabar.
Por mim, farei o que for preciso e estiver ao meu alcance.
Liverpool, milagre mesmo
A capa de ontem de A BOLA ‘exclamava’ O Milagre de Anfield. E é inteiramente verdade. Ganhar 4-0 ao Barcelona de Messi já é do domínio do sobrenatural; conseguir essa marca numa segunda mão, depois de se ter perdido 3-0, começa a entrar nos terrenos da bênção divina. Consegui-lo quando não pode contar com jogadores como Salah, Roberto Firmino e Keïta, só pode ser milagre. E o que eu gostei… tenho uma malapata (palavra que por ser espanhola é adequada) que eu próprio não entendo com o Barça e, apesar de reconhecer o evidente génio de Messi y sus muchachos torço sempre pelo outro. Aliás eu torço sempre por um clube qualquer, mesmo que não conheça. Mas há os que não gosto (Barça) e os que gosto, como o Ajax.
E o Abel se fez triste
Não sei por que motivo, se incentivado pelo seu presidente, António Salvador, o treinador do Braga tornou-se uma figura pouco simpática. Agora que a sua saída do clube parece certa, espera-se que a equipa bracarense, uma das grandes do nosso futebol, possa ter uma atitude menos agressiva e fanfarrona. Terá sido também esse modo de viver o campeonato que a deixou muito mais longe do pódio do que esperaria.