A importância das referências na evolução do futebol
Eusébio e Mourinho são dois dos nossos maiores embaixadores no mundo. Um deslizou nos relvados, outro indicou o caminho do sucesso
Asociedade e o mundo precisam de referências que os façam acreditar que os sonhos são possíveis de serem alcançados. O desporto, neste caso o futebol, tem a vantagem de valorizar o mérito, o trabalho, a dedicação e o compromisso. Tenho abordado com insistência a dimensão e a importância que o dinheiro tem vindo a ganhar no rumo que o futebol está a seguir. Hoje em dia, o futebol não é apenas um jogo, mas sim um espetáculo que consegue conjugar e unir várias áreas ou setores de atividade. Contudo, é importante não esquecer que o que tornou o futebol especial não foi o dinheiro, foi a paixão, dedicação e a genialidade de intérpretes brilhantes que se tornaram referências e que jamais serão esquecidos.
Hoje destaco, justamente, duas personalidades do desporto português, que se evidenciaram no resto do mundo, porque as datas de nascimento de ambos tiveram lugar na semana que passou.
O KING EUSÉBIO
VINTE E CINCO de janeiro seria o dia em que Eusébio faria 81 anos. Será sempre lembrado por ser um génio. Dono de uma extraordinária capacidade física, destacava-se pela forma como sozinho conseguia resolver jogos. Não tive oportunidade de o ver jogar, mas tive a felicidade de confraternizar com o King, como carinhosamente era tratado por todos. Simples, humilde e genuíno. Idolatrado e reconhecido em todo o mundo.
Numa época em que a globalização era uma miragem, não deixa de ser notável a forma como, pelos quatro cantos do mundo, todos reconheciam o rei Eusébio. Por ser uma pessoa racional, tenho por hábito tentar perceber o motivo pelo qual as coisas acontecem. Neste caso, retiro duas conclusões sobre a forma como o King se transformou (talvez) no maior embaixador de Portugal no sec. XX. A primeira tem a ver com o poder do futebol, que na altura ainda era um simples desporto, mas que desde sempre conseguiu mexer com as emoções de jovens e graúdos, ao ponto de muitos terem o sonho de serem jogadores de futebol. O segundo motivo está diretamente ligado à genialidade de Eusébio, que marcou várias gerações. A forma como jogava, dava alegria aos adeptos, criava admiração, algo que que era bem visível no modo como sempre foi reconhecido por fãs mas, sobretudo, pelos rivais que foi defrontando ao longo da carreira.
Os títulos que conseguiu alcançar e a forma como contribuiu para os mesmos, nunca serão esquecidos pelos amantes deste fantástico desporto. Marcou uma era, contribuiu de uma forma ativa para a história de um grande clube português, o Benfica, e deixou marca na Seleção Nacional e no futebol mundial.
JOSÉ MOURINHO - ‘THE SPECIAL ONE’
N A passada quinta-feira, dia 26 de janeiro, fez 60 anos. Há 22 anos conheci-o, ainda a dar os primeiros passos na sua brilhante carreira. Era, claramente, diferente de todos os outros. Muito preparado, atento ao detalhe, inteligente e astuto na comunicação. Dono de uma ousadia fora do vulgar, tinha a perceção de que o futebol não se desenvolvia só no relvado, mas que havia outras áreas que deveriam ser trabalhadas. A comunicação foi uma delas. A forma como tirava proveito (interna e externamente) das conferências de imprensa foi algo inovador. A preparação minuciosa dos jogos foi outra característica que teve o seu dedo, a sua marca. Analisava os adversários ao pormenor, preparava os treinos ao milímetro e mostrava vídeos sucintos com as características dos oponentes. Estudava e tentava conhecer os seus jogadores, em detalhe, para poder entrar na mente de cada um e retirar o máximo proveito. Era direto e frontal dentro do balneário. Não olhava a nomes, para ele o rendimento foi sempre o mais importante.
Todas estas características transformaram-se em títulos, em reconhecimento. Numa fase inicial foi brilhante, marcou a diferença. É um vencedor nato. Foram poucos os anos em que não ganhou títulos. Ao longo da carreira, nem sempre concordei com as suas abordagens, formas de estar ou guerras que ia travando, até porque me parece que, em determinados momentos, acabou por perder o foco. No presente, olho para José Mourinho e vejo (novamente) traços do então jovem treinador que iniciou a carreira no Benfica: mais sorridente, mais descontraído, sempre irreverente, com uma enorme ambição e sem demonstrar o desgaste que a sua longa carreira pode ter provocado.
A verdade é que José Mourinho marcou uma era. Com o crescimento de JM houve outro fenómeno que foi surgindo e que, até então, tinha uma dimensão reduzida. Até JM aparecer, os jovens tinham o sonho de serem jogadores profissionais de futebol. Hoje em dia, muitos jovens já têm o sonho de serem treinadores de futebol e José Mourinho teve um enorme contributo para este desejo e ambição. De uma forma muito simples, há um antes e um depois de José Mourinho na forma como olhamos para a preponderância e importância dos treinadores e na evolução, reconhecimento e valorização dos técnicos portugueses.
Por todos estes motivos, as palavras que proferiu na apresentação como treinador do Chelsea serão sempre reais: «I’m the Special.» Numa atura em que celebramos os seus 60 anos, desejo que consiga continuar a triunfar e a fazer aquilo que tem feito ao longo dos anos: ser uma bandeira de Portugal no mundo.
Há um antes e um depois de José Mourinho na forma como olhamos para os treinadores
SEM LIMITES E GENUINIDADE
Ofutebol tem uma dimensão e um alcance incríveis. Eusébio e Mourinho são dois dos nossos maiores embaixadores no mundo. Duas personalidades diferentes. Um deslizou nos relvados, outro a preparar o terreno e a comandar, indicando o caminho do sucesso. Mas há duas características que ambos têm, eles e quase todas as referências ou lendas no mundo do desporto. A primeira, é que para as lendas não existem limites, nada é impossível; a segunda, é que tanto Eusébio como Mourinho são genuínos, autênticos, não são máquinas e cometem ou cometeram erros como todos nós.
Numa altura em que o futebol está a crescer a passos largos para se tornar num espetáculo de entretenimento, é muito importante termos a noção de que devemos evoluir, procurar criar novas experiências nos consumidores e amantes do futebol, mas nunca devemos deixar cair a genuinidade. Dentro e fora dos relvados, esta é uma característica que continua a alimentar a paixão, a magia e a emoção nos adeptos.
A VALORIZAR
Pedro Porro – No momento em que está prestes a deixar Portugal rumo a Inglaterra (Tottenham), fez mais um grande jogo. Em dois anos e meio teve uma evolução incrível. Deixa o Sporting mais frágil e o campeonato português mais pobre.
Sérgio Conceição – Conseguiu conquistar um título que o FC Porto ainda não tinha ganho e que lhe fugia há anos. Consistente, competitivo, organizado e competente.
A DESVALORIZAR
Adán – Depois de dois anos em que foi um pilar que garantiu estabilidade e confiança ao último reduto sportinguista, este ano tem cometido erros em momentos determinantes, tornando a sua equipa mais frágil e ansiosa.