A herança de Villas-Boas
Villas-Boas tem de despir a camisola de adepto e simultaneamente a pele de treinador
Esmagadora vitória de Villas-Boas, destronando por números arrasadores Pinto da Costa da presidência do FC Porto. Os números, 21.489 votos (80,28%) contra 5.224 (19,52%) foram, pelo menos para mim, surpreendentes mas ainda mais legitimam a sucessão do eterno líder dos dragões, que, diga-se o que se disser, deixa uma pesada herança. Afinal, são 42 anos de múltiplas vitórias e uma influência que se confunde com o próprio clube.
Os associados do FC Porto estão eternamente gratos a Pinto da Costa mas não hesitaram na hora de decidir qual o rumo a seguir. Decidiram colocar fim a um reinado de mais de quatro décadas e expressaram em cada boletim que querem uma nova era. Na minha opinião, votaram mais contra Pinto da Costa do que em Villas-Boas. Não significa isto que não confiem no novo presidente. Villas-Boas preparou-se para a eleição nos últimos anos, tenho a convicção de que se rodeou bem e até abdicou de ser… treinador. Quando foi oficializado como treinador do seu clube de sempre disse que estava na cadeira de sonho, mas percebeu-se entretanto que não estava. Essa estava na liderança que conquistou a 27 de abril.
Desde essa noite, Villas-Boas deixou de ser treinador. Agora é o presidente. Cargo que não pode confundir com ser adepto, por mais amor que tenha ao clube. A euforia na noite eleitoral até permite compreender os exuberantes festejos de camisola azul e branca vestida, mas não a recusa ao convite de Pinto da Costa para assistir ao clássico com o Sporting na tribuna de honra do Dragão, que é só o seu lugar, e preferir sentar-se na bancada - ao vê-lo de cachecol entre os sócios recordei-me de Bruno de Carvalho…
Villas-Boas tem de despir a camisola de adepto e simultaneamente a pele de treinador. Foi campeão nacional, conquistou a Liga Europa, treinou em Inglaterra, Rússia, China e França, mas agora é presidente e o treinador, pelo menos para já, é Sérgio Conceição. E será ele ou quem o substituir a mandar no campo. Sempre. Villas-Boas não quererá certamente ser um peso para qualquer treinador. Já lhe chega o que herdou.