ENTREVISTA A BOLA Fábio Paim: «Saí da cadeia e não tive ajuda de ninguém...»

FUTEBOL09:45

Gravou um filme pornográfico e assume que voltou a ser contactado por pessoas do futebol que antes nada lhe diziam. Nesta entrevista a A BOLA, Fábio Paim fala do caminho difícil que tem percorrido

Quando se soube que ias fazer um filme para adultos, como tu gostas de dizer, quantas pessoas do futebol, é que te mandaram mensagem?

Muita gente, muita gente… Olha ligou-me mais gente do que quando eu dava as palestras, para nós termos noção de como é que o mundo está.  Eu fazia as palestras, nem um jornal fazia referência a isso, nem as pessoas me ligavam para dar força. Nada. É preciso eu fazer um filme, que muita gente critica, para me começarem a mandar mensagem e a convidar.

Houve pessoas do futebol…

Muita, muita gente do futebol. Eu não vou falar nomes, porque não fica bem e eu não tenho dinheiro para pagar advogados (Risos), Mas, muita gente. Pessoas com quem eu não falava há muito tempo, pessoas que nem me respondiam às mensagens, e fingiam que nem as viam, mandam-me mensagens. Agora, às vezes, abro o Instagram e vejo mensagens de pessoas que pensei até que algumas tinham morrido. Mas não, afinal estão vivas… Mas, eu sou uma pessoa tranquila, não guardo mágoa de ninguém. Nem o meu coração dá para isso.

Fala-se muito da questão da saúde mental e no fundamental que é tratar a mente e não só o físico. Alguma vez paraste e pensaste que podias precisar de algum tipo de ajuda?

Senti, senti… Eu sinto que tenho, algumas fragilidades a nível emocional, e se calhar mesmo da minha personalidade. Eu saí da cadeia e não tive ajuda de ninguém. Levo as coisas sempre na brincadeira, também para tapar um pouco esse lado que me magoa e que me dói. Eu acho que não tenho tempo para estar deprimido. Se eu parar agora, acabou. Se eu me deixar ir agora abaixo, esquece... Ninguém se preocupa em saber. Ninguém pergunta isso, se a gente está feliz… Temos de viver neste mundo. Lá vou eu chorar… Mas, é porque ninguém me pergunta se estou feliz.

És feliz?

Sou, muito. Tenho filhos com saúde, eu tenho saúde, toda a gente gosta de mim. O que é que eu preciso mais? Não preciso mais nada.

Precisaste sempre de sentir que gostavam de ti, que não eras um bandido nem uma má companhia?

Não, eu não preciso disso pois nem Jesus agradou a todo o mundo, não vou ser eu. Mas, eu sinto que as pessoas têm de dar mais valor à pessoa que eu sou. Ao esforço que eu faço para me manter de pé. Agora se gostam ou não gostam, é normal. Não posso agradar a toda a gente.

Considero-me uma pessoa que errou e paguei muito caro por isso

Decidiste quando saíste da cadeia que não ias ser bandido e que ias ter uma vida digna. No meio deste caminho, o futebol abandonou-te, mas tu nunca quiseste abandonar o futebol. Gerir tudo isto, não te pode ter levado a uma depressão?

Sim. Eu não me considero um bandido, eu considero-me uma pessoa que errou. Foi uma forma de eu me manter de pé e errei. Paguei por isso, e paguei muito caro. Agora o futebol é a minha paixão, eu não seria o Fábio se não fosse o futebol. O futebol é que me deu tudo. As bases todas para eu ser a pessoa que sou. Eu estou naquela linha, mas eu sei o que quero e se eu tivesse a ajuda de algumas pessoas sei que tudo seria mais fácil, mas se Deus não quer assim, eu tenho de continuar a andar. Sinto que tem sido uma caminhada bonita de se ver.