Opinião A angústia do treinador no momento de substituir - Opinião de José Manuel Delgado
Tivesse o remate de Neres, aos 90+9, saído cinco centímetros abaixo, e Roger Schmidt teria abandonado o Bessa como ‘bestial’. Assim...
O que se passou com Roger Schmidt no Bessa deve ser matéria de reflexão, construída atendendo à conjuntura, e sem que alguém possa arvorar-se dono da verdade absoluta: bastaria que o petardo de David Neres, aos 90+9, tivesse alcançado o alvo cinco centímetros abaixo para que o treinador encarnado saísse do anfiteatro boavisteiro com o rótulo de ‘bestial’. Assim...
Relembremos os factos, puxando o filme até ao momento da expulsão de Petar Musa, quando o Benfica seguia na frente (0-1) e mandava confortavelmente no jogo. Nesse instante, uma vez perdido o jogador que dava a primeira luta às saídas de bola axadrezadas, era imperioso que Roger Schmidt voltasse a equilibrar a equipa. Primeira questão, quem tirar? Por muito que custe ver um génio como Di María abandonar o campo, Schmidt pensou com lucidez. O argentino de 35 anos, que na última quarta-feira tinha cumprido 90 minutos muito exigentes perante o FC Porto, era, por natureza, o elo mais fraco, do ponto de vista do compromisso defensivo, da equipa, e a sua substituição (ou, se quiserem, sacrifício) justificava-se. Porém, embora esta decisão, embora ingrata, fosse facilmente defensável, o passo seguinte revestia-se de maior complexidade.
À partida, Schmidt podia fazer o que fez, passando do 4x2x3x1 para o 3x5x1, com a entrada de Morato, que obrigou a que Otamendi passasse para a direita e António Silva para o meio;
- ou então tinha a hipótese de fazer entrar Tangstedt para a missão de Musa, fazendo derivar Rafa para a direita, mantendo-lhe intacta a capacidade de atacar os espaços nas costas dos defesas do Boavista, que passariam, em busca do empate, a jogar mais adiantados;
- podia ainda ter feito entrar Florentino para a posição ‘seis’, onde faria dupla com Kokçu, derivando João Neves para a direita e mantendo Rafa em ponta.
O sinal de Roger Schmidt deu, ao mandar a jogo Morato, foi de que o Benfica, em desvantagem numérica, dispunha-se a defender a vantagem dada pelo golo de Di María. Francamente, nem deu para ver qual o mérito desta tese, porque no reatamento da partida o Boavista empatou e o Benfica viu-se com um defesa ‘a mais’ e sem alas que fizessem o que Schmidt sonhou, porque Bah ainda não está em forma e Jurasek nem por sombras tem a capacidade atacante de Grimaldo.
Mesmo assim, já depois de ter atirado a bola à barra (70), o Benfica voltou à vantagem e parecia ter o jogo novamente sob controlo, especialmente após uma tripla substituição (85), que deu mais pulmão ao meio-campo encarnado. Mas Vlachodimos hesitou em cima dos 90 minutos, e dessa hesitação nasceu a grande penalidade que Bruno Lourenço converteu em novo empate. Culpa do treinador? Ninguém, de boa fé, poderá ir por esse caminho. Efeito da pressão provocada pela chegada de Anatoly Trubin? Talvez. A verdade é que o internacional grego nunca se mostrou confortável ao longo de toda a partida...
O mais foi azar e fortuna, o azar no estoiro de Neres que fez estremecer o Bessa (90+9) e na perdida de António Silva (90+17), e a fortuna/mérito do Boavista que (90+13) aproveitou anarquia que reinava da defesa do Benfica – todos queriam chegar ao 2-3 - para marcar o golo da vitória, numa situação que foi como revisitar os últimos momentos do Chaves-Benfica da época passada.
Resumindo, apesar de tudo e tidos em conta os argumentos apresentados, o que Schmidt pensou ao minutos 50, podia ser válido com dois laterais ofensivos, coisa que Bah não está a ser, e Jurasek não parece ser. Na teoria, haveria outras soluções para recompor o Benfica que pareciam mais adequadas, algo que será sempre impossível de provar. Mas que pareceu, pareceu...
PS – Arthur Cabral e Anatoly Trubin passaram, depois do Bessa, a estar muito mais perto do onze inicial de Roger Schmidt.