Taís conta como se mentalizou em Antalya: «Agora tenho de ser eu!»

Taís conta como se mentalizou em Antalya: «Agora tenho de ser eu!»

JUDO31.03.202402:13

Judoca falou com A BOLA sobre um dia único na carreira, ainda curta, e na história do judo nacional, e como nunca pensou entrar na corrida aos Jogos tão cedo. Para João Fernando a terceira medalha de bronze no Circuito Mundial tem sabor especial por ser nun 'grand slam' e a maneira como ganhou o último combate foi a «cereja no topo do bolo»

«Está a ser um final de dia complicado, mas se for sempre assim, agradeço», afirmou Taís Lima (-70 kg) a A BOLA após ter saído do Antalya Sports Hall com a prata do Grand Slam da Antalya, perdendo apenas o combate pelo ouro frente à austríaca Michaela Polleres (7.ª), vice-campeã olímpica em Tóquio-2020 e 14 vezes medalhada no Circuito Mundial. Jornada marcante para a Seleção que, meia hora depois, viu João Fernando (-81 kg) levar também o bronze.

O difícil para a jovem do Algés não era apenas a gestão das emoções, mas também responder a todas as solicitações. Não era para menos. Aos 19 anos, tornara-se na segunda júnior lusa a subir ao pódio no Circuito desde o início deste em 2019 e após Patrícia Sampaio ter sido bronze nos grand prix de Marraquexe e Tbilisi em 2019. Mas agora foi num grand slam.E numa final.

Isto na sexta vez que foi a uma etapa do Circuito. «Tentei estar tranquila. Era o meu terceiro grand slam, o primeiro foi em Paris [fevereiro, ficou a uma vitória do pódio], por isso sabia com o que ia contar. Tinha de manter a calma porque todas as adversárias são muito fortes. Fiz cada combate como se fosse uma final e foi o que me permitiu ir longe», diz quem teve pela frente sempre judocas de ranking mais baixo.

Taís Pina (-70 kg, 50.ª do ranking)

CAMINHO PARA A PRATA
Aina Razafy (Mad, 40.ª), vitória por ippon - mão compareceu
Gulnoza Matniyazova (Uzb, 18.ª), vitória por ippon em 3.31m
Aleksandra Smardzic (Bih, 32.ª), vitória por wazari em 4.49m
Kim Polling (Pb, 22.ª), vitória por wazari em 4.00m
Aoife Coughaln (Aus, 10.ª), vitória por ippon em 1.13m
Michaela Polleres (Aut, 7.ª), derrota por wazari em 3.04m

Pódio
-70 kg: 1.ª, Michaela Polleres (Aut); 2.ª, Taís Pina (Por); 3.ª, Madina Taimazova (Rus) e Ai Tsunoda (Esp).

«Temos de ir com tudo, sem pensar se é campeã olímpica, mundial ou qualquer outra coisa. Encaro-as como se fossem pessoas normais, que têm os mesmos desejos: ganhar», acrescenta.

Além da final, Pina considerou o primeiro combate, face à uzbeque Gulnoza Matniyazova (18.ª) – na ronda inaugural Aina Razafy (40.ª), de Madagáscar, não compareceu – também o mais difícil e aquele que a fez focar-se. «Queria mesmo ganhar-lhe. Já tinha perdido com ela no Grand Slam de Tashkent. Desta vez disse: ‘não, agora tenho de ser eu’. E fui! Os restantes consegui geri-los bem, mas não sou assim tão conhecida. Muitas nunca sequer tinha enfrentado em estágios e isso terá influenciado um bocadinho», analisa, com humildade.

Com este êxito Taís amealhou 700 pontos para o ranking de qualificação olímpica Paris-2024, onde figura a 16 posições (40.ª) do apuramento direto. Faltam quatro provas… «Se há alguns meses me dissessem que agora estaria na corrida aos Jogos, provavelmente não acreditaria. O GS Paris foi a partida para esta corrida.É continuar a treinar e dar tudo. Ainda sou júnior, não espera isto. Só sonhava ir a Los Angeles-2028», confessa.

«Foi a cereja no topo do bolo»

Quanto a João Fernando, de 24 anos, obteve o seu terceiro bronze no Circuito, mas o primeiro num grand slam. «Que é a parte mais importante», salienta. Há um mês ocupara o mesmo degrau no Grand Prix da Áustria, mas desta feita recebe 500 pts para os Jogos, onde está virtualmente apurado pela quota continental.

«Foi mais um dia longo, mas desta vez posso dizer que me senti bem praticamente o tempo todo. Não passei tão mal como na última prova, não só em termos de desgaste como de judo. Foram combates bem conseguidos, estive mais concentrado… Regra geral, não sofri tanto», refere. «Na verdade tudo é importante, mas este é pelo significado que tem: a primeira medalha num grand slam é uma conquista».

João Fernando (-81 kg, 30.º do ranking)

CAMINHO PARA O BRONZE
Omar Rajabli (Aze, 39.º), vitória por ippon em 17s
Frank de Wit (Pb, 14.º), vitória por ippon em 3.12m
Alan Khubetsov (Rus, 54.º), vitória por wazari em 4.00m
Francois Drapeau (Can, 6.º), derrota por ippon em 2.06m
Victor Sterpu (Mda, 98.º), vitória por ippon em 2.40m
David Karapetyan (Rus, 37.º), vitória por ippon em 3.50m

Pódio
-81 kg: 1.º, Takanori Nagase (Jpn); 2.º, Francois Drapeau (Can); 3.º, João Fernando (Por) e Guilherme Schimidt (Bra).

O canadiano  Francois Drapeau (6.º) foi o único a travar o judoca do Sporting, ao derrota-lo, com dois wazaris, nos quartos de final. Na luta apelo pódio impôs um ippon ao russo David Karapetyan (37.º). «Com a adrenalina com que estou, mais a cafeina e o açúcar todo que comi durante o dia, se calhar vai ser complicado dormir, mas isso não será um mau sinal. O que gostei mais foi o último combate, quer pelo domínio como pela forma como fiz o ippon. Lutei bem, não cometi erros e, a segundos do fim [10], finalizei da melhor maneira. Foi a cereja no topo do bolo», rematou.