«Por favor, não voltem a olhar para o ciclismo de pista só daqui a quatro anos»
Rui Oliveira celebra o título olímpico em Paris (José Sena Goulão/Lusa)

«Por favor, não voltem a olhar para o ciclismo de pista só daqui a quatro anos»

JOGOS OLÍMPICOS10.08.202422:06

Rui Oliveira estava incrédulo com o título olímpico, mas teve a serenidade de fazer um pedido sério

PARIS - «Sensação de ser campeão olímpico? Eu nunca ganhei uma corrida na vida!»

Rui Oliveira deu voltas e voltas no Velódromo Nacional de Saint-Quentin-en-Yvelines por isso era normal que cerca de 15 minutos após a conclusão da prova na qual se sagrara campeão olímpico, juntamente com Iúri Leitão, ainda não estivesse meio tonto.

E com o decorrer da conversa, lá corrigiu aquele «nunca na vida» para «nunca numa grande prova». Mas manteve sempre o discurso e a postura de incredulidade.

Rui Oliveira, embrulhado na bandeira de Portugal, depois de conquistar a medalha de ouro na prova de madison nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 (JOSÉ SENA GOULÃO/Lusa)

Agarrado à grade que o separava dos jornalistas – talvez para não cair – e de olhos lacrimejantes a mirar o topo onde Ivo, o irmão gémeo, e Hélder, o irmão mais velho, celebravam sem parar a conquista dele desde o final da prova, sem parar, Rui tentava voltar a si depois de uma emoção sem limites.

«Passei alguns anos difíceis, tanto eu como os meus irmãos, que estão ali, nas bancadas. O Ivo também devia estar aqui. Tenho um enorme orgulho de o representar a ele e à Seleção da melhor maneira», disse, sobre o irmão que também integra a equipa e que esteve nos pré-convocados.

«Houve momentos em que pensei não vir aos Jogos Olímpicos e dar-lhe o lugar, porque ele passou momentos muito difíceis, se calhar mais do que eu, nestes últimos anos. Passei alguns dias maus, mas sabia que tinha de ser mais forte do que isso e representá-lo da melhor maneira. Ele não podia vir, mas eu sabia que ele queria que eu desse o melhor de mim», acrescentou.

Apesar disso, para Iúri Leitão, que com ele conquistou o ouro olímpico, Rui só tinha elogios.

«Tenho muito orgulho de ter feito esta corrida com o Iúri, que é o melhor ciclista na pista. Ganhar sozinho é bom, mas ganhar em equipa, não só com Iúri mas com Ivo, com o João Matias, o Diogo Narciso, o César [Modesto], a Maria [Martins], a Daniela [Campos], o selecionador… todo o staff. É um momento que fica para a história», referiu, enumerando os ciclistas que fazem parte da Seleção, mas que ficaram de fora, uma vez que só havia duas vagas.

Apesar da euforia, compreensível, o ciclista quis deixar um apelo a todos. Um pedido que ganha ainda mais força depois de um título olímpico.

«Por favor, não voltem a olhar para ciclismo o de pista daqui só daqui a quatro anos. Sigam-nos, apoiem-nos. A única pista que temos foi construída há pouco mais de 15 anos e vejam onde estamos agora. Por favor, estejam connosco. Se mostrámos o que conseguimos fazer neste tempo, imaginem o que podemos conseguir com todos a apoiar. Tentem saber a nossa história, tentem saber o que passámos, não deixem esta onda cair», sublinhou, emocionado.

Até voltar à euforia. «A primeira vez que fiz Madison, levei três voltas de avanço. Nem sabia como aquilo se corria. Ganhar em frente aos meus pais e aos meus irmãos… UAU! Campeão olímpico! UAU! Acho que não vou dormir durante muito tempo!», despediu-se.