Iúri Leitão viu Pichardo igualar Carlos Lopes e teve uma ideia: «Não me vai escapar»
Iúri Leitão e Rui Oliveira, campeões olímpicos de madison, foram dois dos atletas que pediram mais apoios (JOSÉ SENA GOULÃO/Lusa)

Iúri Leitão viu Pichardo igualar Carlos Lopes e teve uma ideia: «Não me vai escapar»

JOGOS OLÍMPICOS10.08.202421:30

Iúri Leitão garante que a ver após ver o triplista chegar ao segundo lugar na véspera, acreditou que iria igualá-lo: e assim fez

PARIS – Iúri Leitão vive dias de sonho. Mas já parece que não é nada com ele. Enquanto Rui Oliveira é todo ele incredulidade, largos minutos depois de a dupla se ter sagrado campeã olímpica de Madison, para Iúri aparenta ser apenas mais um dia.

Dois dias depois de ter conquistado a medalha de prata no omnium, o ciclista de Viana do Castelo regressou ao Velódromo Nacional de Saint-Quentin-en-Yvelines, nos arredores de Paris, para colocar o seu nome no topo da história do olimpismo português, ao lado de Carlos Lopes e Pedro Pablo Pichardo, os únicos que até hoje tinham conquistado uma medalha de ouro e outra de prata.

Com um detalhe: Iúri é o primeiro a consegui-lo na mesma edição de uns Jogos Olímpicos.

Mas quando na véspera viu Pichardo alcançar esse feito até então só de Carlos Lopes, Iúri garante que… teve uma ideia.

«Com muita sinceridade: estava a ver a prova de triplo salto, a torcer pelo ouro do Pedro, e no fim ouvi que ele tinha sido o segundo da história de Portugal a conseguir ouro e prata. E pensei: na forma em que estou, com o colega que eu tenho, com a tática perfeita… acho que isto não me vai escapar», declarou, confiante na zona mista, ainda antes de subir ao pódio para receber a medalha.

E o plano deu mesmo certo. Mesmo que a dada altura tenha parecido distante.

«Eu estava confiante de que podíamos conseguir um bom resultado. As sensações não eram as melhores, mas isso foi fundamental para gerirmos as forças e apostarmos na hora certa. Sabíamos que os últimos cinco minutos de competição eram fundamentais, porque haveria muita fadiga de todos, e nós teríamos esse último cartucho para gastar. E depois eu senti que se guardasse a bala dourada, conseguiria ganhar o sprint a qualquer adversário», atalhou na análise à corrida.

Ainda assim, a meio da prova, admitiu o ciclista de 26 anos, as sensações eram más e o que lhe deu força foi mesmo… o companheiro de dupla.

«A 130 voltas, quando fui ao sprint conseguir os três pontos, a fadiga de quinta-feira fez-se sentir e avisei o Rui que não estava no meu melhor dia. Mas isto não é uma corrida de um ciclista só. É de dois. Se fui buscar forças onde não tinha foi também por ele. Ele só tinha uma oportunidade para competir, e eu duas. Não era justo deixá-lo ficar mal. Ele merece tudo, é dos ciclistas que mais me ajudou a crescer, e eu tinha de fazer das tripas coração para entregar este resultado», revelou.

Outro dos segredos para o ouro foi… dormir mal. Porque isso fez com que fosse rever a prova que lhe valera a prata e pensar algo do género: aquele português que ali vai está em grande forma!

«Na verdade, entrei no omnium mais reticente do que aqui. Na quinta-feira percebi que chegava aqui num grande nível. Por mais que seja difícil de acreditar, ontem não consegui dormir. Por isso foi a oportunidade de rever as quatro provas do omnium. E percebi claramente que houve uma fase em que eu e o francês estivemos muito acima de toda a gente. Por isso, estava confiante de que se eu estivesse num dia, pelo menos ok, íamos fazer um grande resultado. Ali perto do fi disse ao Rui que ia ser o nosso dia. E foi o nosso dia!»

E que dia! Um dia para guardar em letras de ouro.