Judoca da Académica de Coimbra conta como foi superando as limitações fisicas sem mostrar às adversárias as dores que sentia no corpo depois de cinco meses afastada devido a duas leões e uma cirurgia e como se supreendeu a resolver combates a fazer contra-ataques que nem tinha treinado
«Se, esta manhã, me perguntasse se estava preparada para acabar no pódio ao final do dia - não é que não estivesse pronta -, confesso que não me encontrava com essa expectativa ou a pensar que poderia acontecer. Fui realmente gerindo a prova combate a combate e acabou por correr bem», declarou Catarina Costa a A BOLA depois de ter passado pela cerimónia da entrega das medalhas, e controlo antidoping, para receber o bronze dos -48 kg no Europeu de Zagreb-2024.
Êxito que fez com que a olímpica da Académica de Coimbra subisse ao pódio pela terceira vez consecutiva no evento depois de ter sido vice-campeã em Sófia-2022 e Montpellier-2023 e aumentasse para 42 (11+9+22) as medalhas de Portugal no campeonato.
Mas também tornando Catarina, de 27 anos, na terceira judoca nacional mais medalhada em Europeus, atrás de Telma Monteiro (15) e Pedro Soares (4). No entanto, só as senhoras conseguiram fazê-lo de forma consecutiva.
A conquista da finalista de medicina, falta-lhe defender a tese de mestrado, é sobretudo sensacional se tivermos em conta que não competia desde o início de dezembro, após ter sido 3.ª no Grand Slam de Tóquio. Além de ter sofrido um entorse num tornozelo que se revelou ser mais grave do que inicialmente se pensava, foi igualmente operada a um cotovelo para resolver uma lesão antiga que a incomodava e não desejava manter até aos Jogos de Paris-2024.
Para quem estava com receio da prova por causa da condição física e acabar por chegar às medalhas, afinal estava muito bem, não é? «Sentia-me bem mentalmente, muito bem, e sabia que esse seria o meu ponto forte. Fisicamente, apesar de ainda sentir alguns toques, acreditava que recuperaria certa coisas. Acho que consegui demonstrar que ainda assim estou em bom nível», referiu Catarina que está bem encaminhada para repetir a experiência olímpica de Tóquio-2020, onde foi 5.ª classificada.
«Mesmo com algumas limitações, provei a mim própria, e se calhar a muita gente, a minha capacidade. Sempre acreditei, mas hoje foi na raça. Tinha de ser na raça!», reforça.
Depois das pratas em Sófia-2022 e Montpellier-2023, a olímpica da Académica de Coimbra marca o regresso à competição após cinco meses de ausência devido a intervenção cirurgica com o 42.º pódio de Portugal Zagreb-2024
E porque é que nos disse que «de fora não se sentem as dores interiores». O que é que queria dizer com a frase? O corpo todo está a doer? «Há alguns toques no corpo, algumas dores que foram aparecendo ao longo da competição, mas não podemos dar parte fraca durante a prova», explica. «Tentei gerir isso e não mostrá-lo às adversárias. Fui lutando como pude. Felizmente correu bem e foi suficiente», diz ainda quem apenas não conseguiu ultrapassar a israelita Tamar Malca nos quartos de final, acabando por ser eliminada por castigos após 5.34m de combate, mas depois ultrapassou a belga Ellen Salens e a sérvia Milica Nikolic.
Catarina Costa (-48 kg, 8.ª do ranking)
CAMINHO PARA O BRONZE Isenta da 1.ª ronda Andrea Stojadinov (Srv, 24.º), vitória por ippon 6.19m Tamar Malca (Isr, 30.ª), derrota por ippon 5.34m Ellen Salens (Bel, 48.ª), vitória por wazari 7.10m Milica Nikoliv (Srv, 6.ª), vitória wazari 4.00m
Pódio -48 kg: 1.ª, Kristina Dudina (Rus); 2.ª, Blandine Pont (Fra); 3.ª, Catarina Costa (Por) e Tamar Malca (Isr).
«E, uma vez que estava com alguns receios, sobretudo físicos, o que a mais surpreendeu, o nível de físico que afinal tinha?Como foi resolvendo as coisas? «Sabe, realmente o judo ainda tem a capacidade de nos surpreender. Hoje acabei por projetar [as adversárias] com algo que que nem achava que podia ser um ponto forte: contra-ataques. Foram contra-ataques que nem treinei, mas que me são inatos e vieram à tona nesta prova».
«E isso é muito curioso. Achava que, se calhar, ganharia o combate de outra maneira e estive perto de projetar até de outras maneiras, mas, realmente, acabou por ser com aquilo que treinei anos e anos sem saber. Em combates determinantes fez a diferença e isso é incrível», analisa.
E agora passou a ser três vezes medalhada num Europeu em seis participações. Como se vê nessa situação? «Três medalhas é incrível. Mostra consistência.. Ainda por cima seguidas. A consistência de chegar ao pódio num Europeu é muito difícil. Era algo que até estava a comentar hoje. Se calhar alguns dos outros campeonatos continentais, não são tão duros, mas o Europeu é sempre uma prova bastante dura. Todas as atletas são de nível e podem disputar uma medalha. Para mim foi a terceira e saio muito feliz pela prestação», garante.
Só falta o ouro? «Só falta o ouro. Temos que igualar ou melhorar o do coach[João Neto, campeão em Lisboa-2008], não é? Ele tem uma, mas eu já tenho três. Acho que assim já está meio equilibrado», responde rindo-se e com Neto próximo dela, enquanto fãs aguardam para tirarem uma fotografia.
Vice-campeã nos dois últimos Europeus, Catarina Costa está de volta em Zagreb e combate quinta-feira. Lesão no tornozelo e operação ao cotovelos afastaram-na cinco meses do Circuito Mundial
Com este resultado já sabe que melhorará a 8.ª posição no ranking mundial e a 7.ª no de qualificação olímpica para Paris-2024. Por isso, das três prova que haverá até aos Jogos apenas competirá no Grand Slam do Tadjiquistão da próxima semana e no Mundial de Abu Dhabi, no final de maio.
Em ano olímpico o Campeonato da Europa ganha uma importância extra para todos que ainda amabicionam, em julho, competir na capital francesa
«Encarei isto como um desafio, mas de uma forma leve, se é que posso dizer assim. Consegui vir sem pressão. Se acabasse no pódio e pontuasse, melhor. Lá está, foi combate a combate, muito concentrada em cada um. Sabia o que conseguia dar, mas também aconteceu aquilo que ainda não é o meu forte. Estou supersatisfeita», concluiu.
Começa esta quinta-feira o Europeu de Zagreb e Portugal tem já seis dos seus 15 judocas em ação. Após seis meses e uma intervenção cirúrgica depois, Telma Monteiro regressa à competição. «Não poderia ser num dia mais bonito», diz