Catarina Costa: «Diria que este regresso já é ouro»
Vice-campeã nos dois últimos Europeus, Catarina Costa está de volta em Zagreb e combate quinta-feira. Lesão no tornozelo e operação ao cotovelos afastaram-na cinco meses do Circuito Mundial
Vice-campeã europeia de judo na categoria de -48 kg em Sófia-2022 e Montpellier-2023, cerca de cinco meses depois de se ter lesionado e pelo meio efetuado uma intervenção cirúrgica, Catarina Costa está depois de amanhã de regresso aos tatamis e à qualificação olímpica no Europeu de Zagreb, onde Portugal apresenta uma Seleção de 15 judocas depois da baixa de Bárbara Timo (-60 kg).
Após duas medalhas de prata, desta vez é para chegar ao ouro? «Diria que este regresso já é um ouro. Dentro do timing que é, das condições em que já me encontro a treinar e face à minha forma física atual, que ainda não é a que desejo, sinto que é para desfrutar e voltar à rotina competitiva», responde a olímpica da Académica de Coimbra horas antes de partida para a Croácia.
«Há quase cinco meses que não luto, por isso também será bom retomar todos os hábitos da competição, o foco nos combates, lidar com a arbitragem, algumas regras que não mudaram a fundo... voltar a tudo isso vai ser muito bom», reforça.
«Conto com a experiência»
Sem competir desde o Grand Slam de Tóquio, no início de dezembro, onde foi medalha de bronze, esta será a primeira prova em 2024. É isso que mais a preocupa, não estar com ritmo de competição? «Não, afinal também conto com a minha experiência. Sei que, apesar de ter sido uma longa paragem, facilmente estarei atenta e retomarei esses hábitos. Tenho muita vontade de competir e isso ajuda», garante.
«Agora, ao voltar num Campeonato da Europa e em ano olímpico, com muitos pontos em jogo, as adversárias estarão muito bem preparadas. Têm feito uma preparação ao longo dos últimos meses, certamente um bocadinho melhor do que a minha, já que tive a paragem durante algumas semanas. Apenas aquilo que me preocupa, mas tenho consciência de que não estarei ao máximo nível, é a parte física, que ainda falta aprimorar», diz Catarina, que em Zagreb viverá o sexto Euro da careira.
Objetivo é Paris-2024
«No entanto, o objetivo deste ano não é o Europeu, nem as provas que se seguem, mas a de julho [Jogos Paris-2024], e estamos a treinar mais para essa. Estou até preparada para que estas primeiras competições possam não correr tão bem», refere a judoca, de 27 anos, que além de ter tido um entorse num tornozelo também foi operada a um cotovelo devido a lesão mais antiga — não desejava que esta a limitasse na caminhada para Paris-2024.
Por isso utilizou o momento em que estava nos lugares de topo no ranking mundial e de qualificação olímpica e um período do calendário do Circuito Mundial mais desafogado para resolver tudo. «Aproveitei a pausa, que o tornozelo ia demorar, para fazer a cirurgia ao cotovelo. O problema foi que o tornozelo levou mais tempo a recuperar porque a lesão era mais grave do que aparentava, o que me levou a ficar várias semanas com treino muito, muito condicionado. E depois tive a questão do calendário, porque em março havia muitas competições e nessa altura ainda não tinha o tempo de treino adequado para competir ao mais alto nível . Acabou por ser este o melhor timing para regressar», afirma.
Sobre que tornozelo e cotovelo é que foram afetados, isso a judoca preferiu manter em sigilo. Explica: «Infelizmente isto na alta competição… Bastou ir ao primeiro estágio internacional e levei uns bons pontapés precisamente no pé que estava ligado. Não foram por acaso...», desabafa.
Ser ‘médica’ e ter lesões
E para alguém que é estudante de medicina [falta-lhe a tese de mestrado], estas lesões que obrigam a uma operação preocupam mais do que uma pessoa normal? «[risos] Eu diria que sim… Mas, ao mesmo tempo, também ajuda mais. Como estou mais dentro da área e também percebo de coisas importantes na recuperação, a que outras pessoas não dariam tanto valor, todo o processo foi bastante bem tratado com fisioterapeutas, não só da Seleção, mas aqui em Coimbra, e fazendo a ponte entre médicos, fisioterapeutas e com o meu treinador. Mas claro que sabendo eu pontos anatómicos, no momento em que uma pessoa se magoa começa-se logo a pensar neste ou naquele ligamento. É diferente de alguém que não tem conhecimento», considera.
Ser Cabeça de série nos Jogos
Quando se magoou era 6.ª do ranking mundial, mantém a ambição de chegar aos Jogos de Paris-2024 como cabeça de série? «Durante este período sem competir fui passada por alguém e agora, com o campeonato asiático, penso que estou em 8.ª, mas sim, a ambição é a mesma. Acima de tudo mantenho a ambição de melhorar o resultado de Tóquio [ficou a uma vitória do bronze]. Portanto, ganhar uma medalha em Paris é o grande objetivo», assume.
«É difícil e neste momento passou a ter uns obstáculos pelo meio, mas não deixa de ser um objetivo. Acima de tudo, tenho que lá chegar bem, com uma boa forma física. Estou a trabalhar bem, a evoluir aos poucos e isso deixa-nos confiantes que o processo vai resultar. Aliás, só poderia pensar desta forma, não é?», interroga.
Igualar o ouro de João Neto
Voltando um pouco ao início, vai a Zagreb também com a ambição de, finalmente, igualar João Neto [treinador, campeão em Lisboa-2008] como campeã da Europa? «Vou tentar. Já lhe estou a ganhar em número de medalhas, só ainda não tenho a que ele possui [ouro]. Mas ainda terei mais uns anos para tentar. Esta época é mais uma oportunidade, vamos ver o que é que dá», concluiu.
«O que Telma passou e ultrapassou é incrível»
Provavelmente — com ela nunca se sabe — este será o último Campeonato da Europa de Telma Monteiro (-57 kg), que também entrará em ação depois de amanhã no evento em que conquistou seis títulos de campeã e subiu por 15 vezes (6+2+7) ao pódio a nível individual e outra por equipas.
Quisemos saber como Catarina Costa vê este momento de uma judoca impar, com quem nos últimos anos tem tido oportunidade de treinar e viajar. Telma, de 38 anos, também esteve seis meses afastada devido a rotura do ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo, mas mantém a ambição de cumprir a sexta presença olímpica. «Acho que é realmente uma carreira incrível. Agora, também vai ter uma tarefa muito difícil, não é? Mas, ao mesmo tempo, para quem vê de fora é muito inspirador e espetacular. O que ela passou e ultrapassou nos últimos meses é, sem dúvida, incrível. Quero que o Europeu também lhe corra bem e consiga cumprir todos os objetivos naquela que, provavelmente, será a última época. Mas, lá está, com ela nunca sabemos. O seus títulos e medalhas no Europeu falam, realmente, por si e mostram a atleta incrível que foi, é, e será», afirmou.