Tudo o que Rui Costa disse sobre o momento do Benfica

Apoio total a Roger Schmidt e promessa de que haverá reforços em janeiro

- Que comentário faz depois do que se passou com Roger Schmidt?

- Obviamente não posso deixar de lamentar aquilo que aconteceu ontem, creio que em 120 anos de história do clube nunca se viu uma situação como esta e lamento profundamente; acho que não é este o respeito que o nosso treinador merece, um treinador que, chegado o ano passado, no início de um projeto, ganhou tanto em dois meses como o Benfica nos últimos quatro anos, ganhou Campeonato e Supertaça. Considero que se assistiu a uma ação completamente despropositada. Compreendo perfeitamente os adeptos e a preocupação  com uma época que não está a correr como nós todos desejávamos, nomeadamente na Liga dos Campeões, que tem sido o calcanhar de Aquiles deste ano, sobretudo depois de dois anos a chegar aos quartos de final. Esperava-se mais do que a classificação que temos hoje. Percebo que estávamos a perder um jogo em casa e que haja por isso um nervosismo diferente, mas considero completamente descabida a reação que tivemos, que o estádio teve em relação ao nosso treinador, um treinador que, recordo, merece todo o nosso respeito e consideração e sobretudo credibilidade por aquilo que tem feito ao longo deste ano e pouco ao serviço do Benfica, com um Campeonato ganho e uma Supertaça ganha.

- Não sente que há um divórcio claro entre adeptos e treinador? O despedimento não está em cima da mesa?

- O que sinto é que tem havido uma campanha muito grande contra Roger Schmidt desde o princípio da época. O porquê é difícil de perceber… inclusivamente esta história agora do falar inglês ou português nas conferências de imprensa. Eu não sei quantos treinadores estrangeiros já passaram por Portugal e não vi uma campanha destas. Nunca vi. Posso estar a não ser correto a 100 por cento, mas não me lembro de uma campanha destas contra um treinador por causa da língua. Tem havido aqui uma campanha enorme de desestabilização, sabíamos que para pegarem com o Benfica este ano iriam pegar na pessoa que até determinada altura do ano passado era o grande obreiro do projeto. E para mim, é ele, assumi-o muitas vezes, portanto nada me espanta. Agora, esta reação, a reação que tem havido é a reação de quem esperava outra classificação depois de termos sido campeões nacionais, mas a pergunta que se faz é: assumindo que a campanha europeia está a ter muito peso nesta época, muito peso na cabeça dos nossos sócios e adeptos, eu pergunto o que é que nós já perdemos internamente? Das quatro competições, o que é que já perdemos ou nos afasta já da conquista? Temos a Supertaça ganha, que era a única competição que poderíamos ter ganho nesta altura, no Campeonato o máximo que nos pode acontecer, porque os nossos adversários ainda não jogaram, é ficar a 4 pontos do primeiro classificado… [Sporting perdeu em Guimarães, mantendo apenas um ponto de avanço] e eu pergunto quem é que perdeu um campeonato à 13.ª jornada com 4 pontos de atraso?  Nas outras duas competições internas, a Taça da Liga e Taça de Portugal, estamos nelas em pleno, portanto, o que é que faz com que um clube que acaba de ser campeão nacional e ganhou uma Supertaça, que tem um novo projeto há um ano e alguns meses, pense que tem de mudar logo tudo quando há uma adversidade ou um resultado menos positivo… Ainda para mais, já fiquei muito mais desiludido com algumas prestações do Benfica, até no ano do título, do que propriamente com o0 Farense. Vocês [jornalistas] próprios admitem que o Benfica fez de tudo para ganhar o jogo. Por isso eu digo, compreendendo que os adeptos estejam preocupados, porque queríamos todos estar em primeiro lugar no Campeonato e com pontos de avanço, compreendo que é muito ponto perdido este ano e que ninguém esperava, aceito essa preocupação. Custa-me muito mais a aceitar a reação que houve contra o nosso treinador.

- Mas o treinador esteve bem ao dizer o que disse na sala de imprensa? E ameaçou sair.

- O treinador, como pessoa que é, sentiu-se desagradado com o que aconteceu naquele momento. Roger Schmidt tem muitos anos de futebol e compreende, ele disse-o, quando a massa associativa está mais ou menos contente, de acordo com os resultados obtidos, mas aquilo que se passou ontem foi uma novidade para toda a gente e para ele também, e sentiu-se.

- Mas já falou com ele?

- Falo com Roger Schmidt quase todos os dias. É evidente que ele estava desiludido por não ter ganho o jogo e estava desiludido com aquilo que aconteceu; também admitiu, como sempre admitiu e não mudou, que está muito feliz no Benfica, que gosta muito de trabalhar neste clube, é evidente que depois de um resultado que não era o esperado, depois dos incidentes que aconteceram na altura da substituição, que ele tivesse alguma reação pessoal também, porque é um ser humano e não lhe agradou aquela situação, mas respeitou o facto de estar onde está e evidentemente é com ele que nós vamos continuar a trabalhar.

- O futuro do treinador depende dos dois próximos jogos?

- Vamos conquistar mais títulos, não tenho dúvida nenhuma, porque isto não é… e apelo a isso aos nossos sócios e adeptos… os resultados dos últimos anos de quebrar sempre a meio da época aquilo que se está a construir nunca resulta e portanto… vimos de um campeonato ganho, vimos de uma Supertaça ganha, temos muita ambição ainda para este ano, volto a referir que estamos nas três competições internas e temos ainda um jogo na próxima semana para continuar a lutar pela continuidade numa competição europeia, portanto: em nada se tem de pensar que tenhamos de quebrar projetos a meio do ano, essa instabilidade nunca ajudou ninguém e a experiência, os resultados dos últimos anos mostram isso claramente. Não vale a pena estarmos a falar disso. E para aqueles que de alguma maneira têm dito que eu não me tenho manifestado, em relação a isso, dois pontos muito claros: volto a referir que eu falo quase todos os dias com Roger Schmidt e ele sabe perfeitamente a confiança que eu tenho nele; e não preciso de estar todos os dias a apregoar na comunicação social a confiança que tenho no treinador do Benfica. Ele sabe perfeitamente a confiança que tenho nele. Ponto 2: mesmo para aqueles que entendem que deveria ter falado mais cedo, lembro que nos últimos 20 dias esta é a 4.ª vez que estou a falar do estado de alma do Benfica e do nosso treinador, não precisamos de estar todos os dias a apregoar aquilo que estamos a sentir, ou estão distraídos ou não ouviram bem o que disse. Que este é o treinador deste projeto. Temos de estar, mais do que nunca, unidos, porque a união não é só quando se está a ganhar. Ainda não perdemos nada internamente. E volto a dizer que, aconteça o que acontecer nos jogos de Sporting e FC Porto, o pior é ficarmos a quatro pontos do primeiro na 13.ª jornada. Ninguém perde campeonatos nesta altura.

9 dezembro 2023, 16:52

Arthur Cabral pede desculpa por gesto obsceno: «Estou realmente arrependido»

Camisola 9 dos encarnados diz que «não se conseguiu controlar»

- Arthur Cabral já pediu desculpa depois do gesto obsceno dirigido aos adeptos. Vai ser multado?

- Arthur Cabral percebeu que não teve um gesto digno de jogador de Benfica. Já lamentou e pediu desculpa. Enquanto presidente, também peço desculpa aos nossos sócios por um gesto de um profissional nosso. Infelizmente, aconteceu. Já percebeu que não pode passar pela cabeça de nenhum jogador fazer isso. Tem de medir-se um bocado as consequências, também, o estado de alma que não era agradável não é só dos adeptos, também se passou o mesmo com os jogadores. Foi um jogo muito difícil de aceitar: 36 tentativas de golo e empatar 1-1 daquela maneira custou a todos. Ao Cabral, provavelmente, ainda mais porque se esperava muito dele e ele espera muito dele. Infelizmente para ele e para nós não conseguiu ser o Cabral que foi nos anos anteriores pelas equipas pelas quais passou. Não deveria ter feito aquele gesto. O resto será consequência interna, como sempre foi.

- Adeptos parecem desagradados com as contratações. A época foi mal planeada?

- Não, a época foi planeada exatamente da mesma maneira que no ano passado. Há um critério que uso internamente: podemos falhar jogadores mas não podemos falhar critérios. Perdemos apenas dois jogadores normalmente titulares, Grimaldo e Gonçalo Ramos, depois também saiu Odysseas [Vlachodimos], e os que chegaram foram escolhidos de forma criteriosa, para as posições em que tínhamos carência, por toda a estrutura do futebol. Por toda a estrutura de futebol. Cada jogador que chega é escolhido por toda a estrutura – prospeção, treinadores e presidente. E a última decisão é minha. Sou eu que tenho de libertar o sim ou não. A última responsabilidade é e será sempre minha. Que essa situação fique bem clara. O jogador ter ou não rendimento pode ter a ver com a situação do jogador e não com o critério. Mesmo em relação ao Arthur Cabral, de que tanto se fala, foi o melhor marcador da Liga Conferência na época passada, fez golos e teve um rendimento altíssimo em todo o lado. Há questões de adaptação, alguns jogadores não se conseguem adaptar tão rapidamente como outros. Isso acontece no Benfica e em toda a parte do mundo. Se houve alguma falha, é minha, porque a última responsabilidade é será sempre minha. Não é de mais ninguém. Independentemente das escolhas, sou eu que dou o sim ou não à vinda de um jogador. E por consequência se tivermos de apontar a alguém será a mim. O ano passado também falhámos algumas coisas, mas fomos campeões, portanto as coisas ficam um bocadinho mais no escuro. Isso vai acontecer todos os anos em todas as equipas do mundo porque ninguém acerta em todos os jogadores ou pelo menos na adaptação imediata de todos os jogadores. Dito isto, não significa que os jogadores tenham ou não tenham qualidade para jogar no Benfica, podem estar mais atrasados em termos de adaptação e pode haver a consequência de um jogador não se conseguir adaptar a um clube desta dimensão.

- Schmidt sente-se confiante para continuar?

- O treinador está motivadíssimo. Deixe-me só fazer mais um reparo sobre isso. Tiveram, com certeza, acesso ao que se passou no jogo. Acharam que o Benfica fez um mau jogo, com 36 tentativas de golos? Acharam ou não que a equipa estava com o treinador pela reação a tudo o que se passou? Estes são os dados em que tenho de me basear sobre o que se passou ontem [anteontem]. Roger Schmidt está motivadíssimo, a equipa está motivadíssima, temos de saber reagir à adversidade, como é óbvio. O que os adeptos esperam de nós é reações ao que estamos a fazer. Mesmo que os resultados sejam favoráveis aos nossos rivais nada está perdido à 13.ª jornada com quatro pontos de atraso. Aliás, os últimos campeonatos têm mostrado isso. Até mesmo o nosso da época passada, chegámos a ter 10 pontos de avanço.

- Esta impaciência e intolerância dos adeptos para com o treinador pode refletir-se na equipa?

- Como é óbvio, por isso faço este apelo. Com certeza as pessoas percebem que a reação que tiveram à substituição, sobretudo mostrando os jogadores que estavam com o treinador, isso foi mais do que visível, não favorece o rendimento da equipa.  Mas, aí, a equipa tem de reagir. São os sócios que têm de perceber até que ponto isso é favorável ou não à equipa. E a nossa equipa reagiu, é para isso que jogadores, treinadores e dirigentes lá estão. Agora, é reagir à adversidade, é o que temos de fazer já.

8 dezembro 2023, 21:07

Roger Schmidt: «Se não respeitam o treinador, fiquem em casa!»

Treinador do Benfica ataca adeptos pela contestação

- Treinador deveria pedir desculpa aos adeptos a quem pediu para ficar em casa?

- Aquilo que disse dos adeptos ficarem em casa foi para aqueles que passam energia negativa. E disse que voltem quando formos campeões. Esta é a convicção do nosso treinador. Porque é que não podemos pôr essa parte da frase. Se calhar era bonito pôr essa parte da frase. Só quer pegar-se sempre pela parte negativa. Fiquei com a frase: ‘Voltem quando formos campeões nacionais.’

- Disse que havia uma campanha contra Roger Schmidt. A quem interessa essa campanha?

- Isso não sei. Disse e reafirmo que há essa campanha desde o início. Tenho ouvido comentários sobre Roger Schmidt, comparativamente a outros treinadores da Liga, até aos dos nossos rivais diretos, que são completamente descabidos. Já ouvi de tudo desde o princípio da época. Mas faz parte. Faz parte, acima de tudo, de uma coisa: da grandeza do Benfica. O Benfica acabou de ser campeão nacional, é naturalmente o alvo a abater e onde podem mexer é numa pessoa que no ano passado teve um papel mais do que fundamental para o título do Benfica.

- Mas percebe a resposta do treinador [Schmidt perguntou ao jornalista se era do Sporting ou do FC Porto] a um jornalista depois do dérbi, que questionou se o resultado era melhor do que a exibição?

- Claro que percebo. Claro que percebo. Também percebo, porque estive muitos anos daquele lado, que quando se acaba um jogo e se vai para uma conferência ou uma flash interview por vezes também não se vai com a cabeça completamente limpa, porque se vai com uma adrenalina completa de coisas que vocês [jornalistas] não vivem durante 90 minutos. Todo o stress do jogo às vezes leva-nos a alguns desabafos que talvez mais a frio não são tão graves. Estou farto de ouvir em conferências de imprensa de outros clubes reações muito piores e nunca vi tantos comentários a essas como às de Roger Schmidt. Tenho ouvido muitas coisas nas outras conferências de imprensa, tenho visto outros treinadores a não ir às conferências de imprensa e não vejo reações semelhantes. Digam-me qual foi o treinador que bloquearam em conjunto para não fazerem uma pergunta em inglês. Digam-me.

- A pergunta foi simplesmente se o resultado foi melhor que a exibição, ontem não poderia ser exibição melhor do que resultado?

- Já disse que no ano passado fomos campeões e houve jogos em que saí mais preocupado do jogo a ganhar do que agora, a empatar. Uma equipa que tem 36 tentativas de golos, 36, não pode ter feito um mau jogo. E acredito que se tivesse sido outra circunstância, que se não tivesse sido o nono ponto perdido neste campeonato, a equipa teria saído da Luz sob um forte aplauso pelo que fez para ganhar. Para finalizar e para deixar as coisas claras, este é o treinador que vai continuar no Benfica e nos vai levar a outros títulos, nada está perdido em termos nacionais, ganhámos a Supertaça, estamos a competir por duas taças e no campeonato, no máximo, poderemos ficar a quatro pontos e vamos lutar por ele até à última jornada, não tenho a mínima dúvida disso.

- Haverá contratações em janeiro?

- Para janeiro já lá vamos.

- Tiago Gouveia esforçou-se para amenizar a reação dos adeptos. Isso é uma prova de que todos os jogadores estão com o treinador e estão comprometidos com a equipa?

- Estão e têm-no demonstrado sempre. Tenho essa experiência de balneário. Sinto diariamente o que está à volta da equipa e do treinador. Esse é um dado importante para mim. A equipa está literalmente com o treinador e nós também. Ele sabe perfeitamente isso e os nossos adeptos também vão estar. Compreendo as dúvidas e a desilusão de não estarmos à frente do campeonato, que possa haver uma manifestação quando não estamos a ganhar um jogo, considero completamente exagerada, já o disse, mas sei, todos os sócios e adeptos sabem, que quando estamos todos unidos as coisas tornam-se muito mais fáceis. Costumo dizer que o Benfica unido é quase imbatível e é assim que temos de voltar a estar. Nós, dirigentes, temos de fazer a nossa parte, jogadores e treinadores as deles, e os nossos sócios e adeptos como sempre a empurrar-nos para o título.

- A contestação subiu de tom, sobretudo, quando João Neves foi substituído. E se o treinador voltar a querer tirar João Neves?

- O treinador tem toda a legitimidade para mexer na equipa como entende, como é óbvio. Isso é evidente. Cada um de nós é treinador de bancada e pode achar melhor ou pior, é normal e legítimo. O que não é tão legítimo, natural, normal, compreensível é uam reação como esta, que não ajuda ninguém.

- Rafa saiu zangado com aos adeptos em Moreira de Cónegos. Isso também demonstra instabilidade na equipa?

- O que é que isso representa instabilidade na equipa? Representa descontentamento por não se ter ganho o jogo. Uma equipa quando está habituada a ganhar sofre mais quando não ganha do que as outras. É natural que quando não se vence possa haver uma reação que nem sempre é a melhor. Joguei futebol e sei o que estou a dizer. Isso não significa coisas disciplinares ou outras. Significa apenas momento depois de 90 minutos com a adrenalina ao máximo. Depois há a desilusão e a frustração.

- Haverá reforços em janeiro?

- Haverá reforços em janeiro, sim.