«Trubin não é bom com os pés, é muito bom!»

Benfica «Trubin não é bom com os pés, é muito bom!»

NACIONAL17.08.202322:11

António Ferreira, de 44 anos, agora em França, no Lille, foi treinador de guarda-redes da equipa técnica dos ucranianos do Shakhtar com Paulo Fonseca e depois com Luís Castro. Trabalhou na evolução de Anatoliy Trubin e por isso conhece muito bem o novo reforço para a baliza do Benfica. Foi, aliás, António Ferreira quem em primeiro lugar se apercebeu do potencial de Trubin.

E conta a A BOLA como tudo se passou.

«As férias propriamente ditas eram em dezembro e nessa fase eu pedia os vídeos dos jogos mais importantes da formação para os ver. Recordo-me que o Trubin jogava nos juniores de primeiro ano e também me lembro que me chamou mais a atenção do que os guarda-redes da equipa B que já trabalhavam connosco. Falei com o Paulo Fonseca e pedi-lhe que Trubin viesse para estágio, ele disse que sim», começa por relatar António Ferreira, detalhando a seguir o entusiasmo que o jovem (agora com 22 anos) provocou na equipa técnica portuguesa: «Gostei muito do que vi e ainda por cima soube que ele tinha sido capitão das diferentes equipas da formação e também nas seleções e não é normal isso acontecer com um guarda-redes, era sinal de caráter e capacidade de liderança; além da qualidade que lhe vi nos jogos, havia mais esses indicadores… Entretanto, o estágio correu-lhe bem, o Kudryck, que era quatro anos mais velho, teve uma pequena lesão que o impediu de jogar os amigáveis e surgiu a oportunidade para Trubin. Entrou, não me lembro se frente ao Partizan ou ao Estrela Vermelha, mas não era um adversário fácil, e correspondeu bem. Falámos no final e dissemos: ‘Se calhar…’ Ficámos com água na boca. Voltou a jogar e novamente bem. No final do estágio demos a indicação à formação que ele já não iria trabalhar mais com eles, passava a pertencer à equipa principal.»

QUASE FOI EMPRESTADO

Veio depois a afirmação de Trubin no Shakhtar, que aconteceu também com naturalidade, lembra António Ferreira. «A duas jornadas do fim da época já éramos campeões e ele jogou, teve uma prestação tranquila, muito positiva. Fora de campo ele é muito reservado, até tímido, mas dentro do campo, não sendo agressivo, é muito competitivo, muito comunicativo, é um líder e não fica no cantinho dele com medo do que os outros possam dizer, assume. Importa lembrar que isto era quando ele tinha 17, 18, 19 anos, agora tem 22…»

Mas Trubin chegou a estar quase com um pé fora do clube. «Sai Paulo Fonseca, entrou o Luís Castro e eu mantenho-me. Inicialmente, Trubin não era o titular porque havia lá uma lenda, o Pyatov, que curiosamente ajudou muito Trubin. Nem sempre as coisas correm bem e Pyatov foi para ele uma espécie de tutor, um suporte importante. Lembro-me que em novembro [2019] tive uma reunião com Luís Castro em que ele me disse que ira propor o empréstimo do Trubin e o que eu achava disso; disse-lhe que não concordava, que ele iria passar a treinar de forma diferente e não via benefício nisso. Disse-lhe que ele estava preparado para jogar já na nossa equipa. O Luís ficou reticente, mas aceitou a sugestão. Trubin fez dez jogos nessa época e Luís Castro reconheceu-me razão.»

JOGO DE PÉS ENGANA FONSECA

Finalmente, já de pedra e cal na baliza, a glória também na Liga dos Campeões. «No ano seguinte, em contexto de Covid, Trubin assume a baliza. Fez uma Liga dos Campeões fantástica! Um jogaço em Madrid, ganhámos 3-2 ao Real… e com o Inter; ele fez cinco jogos espetaculares da fase de grupos, mostrou que estava pronto», sublinha o técnico de guarda-redes, passando, depois, a frisar algumas das qualidades de Trubin. E contou história curiosa.

«Com os pés, não diria que Trubin é bom, diria que ele é muito bom. As formas de jogar do Paulo Fonseca e do Luís, não sendo iguais, exigiam um guarda-redes com qualidade a jogar com os pés. Quando caímos da Champions para a Liga Europa, defrontámos a Roma de Paulo Fonseca. Ele sabia como jogávamos e tentou pressionar alto e depois reconheceu que nós lhe estragámos os planos porque o Trubin conseguiu encontrar soluções, linhas de passe, passando a bola por cima da primeira linha de pressão da Roma.»

Porém, naturalmente que Trubin não é um produto acabado. «É novo, tem muitas coisas para aperfeiçoar. Mas tem quase 100 jogos a profissional, estamos a falar de um homem e não de alguém que apareceu agora», lembra António Ferreira, reconhecendo que falta a Trubin «afirmar-se nesta Europa fora do leste do futebol» e que talvez precise ser «testado no controle da profundidade», um momento de jogo que teve pouco no Shakhtar e que, acredita o treinador, lhe fará falta aprimorar para se afirmar no Benfica.

DUELO COM VLACHODIMOS

António Ferreira acredita que Trubin se vai «adaptar rapidamente» à realidade do Benfica e do futebol português. E terá capacidade para olhar nos olhos o concorrente Odysseas Vlachodimos? «Que está ao mesmo nível dele ou mesmo acima não tenho dúvida nenhuma, quem jogará, já não arrisco… Não são muitos os clubes que têm a dimensão do Benfica, que enchem sempre os estádios, dentro e fora do País. Lembro-me de falar com ele sobre o Benfica quando estávamos no Shakhtar e de há pouco tempo ele me dizer: ‘agora percebo o que dizias’. A ambição dele agora tem de ser jogar e depois, quem sabe, dar mais um passo.»