Iraque Taça do Golfo quebra isolamento e traz a festa ao país 43 anos depois
A Taça do Golfo Arábico, em curso no país desde dia 6 do corrente mês e durante duas semanas, até dia 19 do corrente mês, é a primeira competição de futebol internacional que o Iraque recebe em mais de quatro décadas, quebrando um isolamento que está a entusiasmar os adeptos e até os comuns civis iraquianos.
O torneio tornou-se um raio de esperança para uma população cuja larga maioria diariamente se debate com a mais elementar necessidade de alimentação e escapar à miséria: receber o torneio é um sinal para a comunidade internacional que mais de 40 anos de isolamento, devido às guerras e sanções, estarão ultrapassados em definitivo, e a página está virada.
É a primeira vez que o Iraque recebe a competição em 44 anos (desde 1979, organizou-a… e venceu-a), quando teve lugar na capital, Bagdade. Agora, a prova decorrer em Baçorá, com um total de oito seleções: Arábia Saudita, Kuwait (treinado por Rui Bento), Barém (que tem como selecionador Hélio Sousa), Catar (liderado de forma interina por Bruno Pinheiro, que tem como adjunto João Coimbra), Emirados Árabes Unidos e Omã, além do país anfitrião e do Iémen.
Desde a última vez que o Iraque recebeu a prova, em 1969, o país passou por duas guerras do Golfo, mudança de regime político, ocupação militar estrangeira, com o impacto que se conhece nas condições de vida dos locais, entusiasmados e, segundo conta a CNN Internacional, «a fazer filas para adquirir bilhetes em Baçorá», onde placards dão as boas-vindas a adeptos e murais pintados com motivos futebolísticos são sinais da festa.
Até agora, raros eram os árabes que demandavam o Iraque para turismo, dada a insegurança. E mesmo para cidadãos da Arábia Saudita, é necessária autorização governamental, ter mais de 40 anos e apenas cidadãos do sexo masculino podem viajar para o Iraque. E mesmo no Mundo árabe, só de Doha (Catar) e Dubai (Emirados Árabes Unidos) há voos diretos para o Iraque, a maioria preenchidos, até aqui, especificamente por peregrinos muçulmanos.
A anterior edição da Gulf Cup ocorreu em 2019, no Catar, com o Barém a sagrar-se vencedor. E com Hélio Sousa ao leme, as expetativas e a fasquia voltam a ser altas para a edição em curso.
«Dezenas de milhares de adeptos estão em Baçorá», confirmou o Relações Públicas do Ministério do Interior do Iraque, o major general Saad Maan, à cadeia de televisão norte-americana, acrescentando que todas as medidas de segurança foram tomadas.
A invasão do Kuwait por Saddam Hussein e as tropas iraquianas, em 1990, ficou para trás: a prová-lo, o fogo-de-artifício e a festa, com estádio cheio, na cerimónia de abertura da competição, num país, é bom lembrá-lo, com cinco mil anos de história. Único incidente, pelo qual a IFA, federação iraquiana (Iraqi Football Association) pediu, de pronto, desculpas ao Kuwait, foi um lapso diplomático, ao não permitirem a entrada no Estádio Internacional de Baçorá a um representante estatal deste último país, que ameaçou abandonar a prova. Está sanado.
Com a eleição de um novo presidente em outubro de 2022, e reformas sérias em curso para dar estabilidade e sustentabilidade ao país, mesmo com a economia local ainda em crise e muitos prédios e infraestruturas ainda em ruínas – além da tensão, sempre presente com o vizinho Irão –, a festa segue.
O Iraque foi banido da Gulf Cup, durante uma década, após Saddam Hussein invadir o Kuwait, e não mais lhe tinha sido confiada organização de tamanha empreitada, por óbvias razões de segurança.
Até agora, os resultados têm sido a condizer para o público: esta segunda-feira, Omã bateu o Iémen por 3-2, e o país anfitrião suplantou a Arábia Saudita por 2-0, na segunda jornada da prova. Antes, Iraque e Omã tinham empatado 0-0, e a Arábia Saudita tinha vencido o Iémen por 2-0, na 1.ª ronda.
O Catar também já venceu o Kuait por 2-0 e o campeão, o Barém, entrou a ganhar, numa vitória por 2-1 sobre os Emirados Árabes Unidos (1.ª ronda. Na terça-feira, Baçorá recebe os duelos Emirados Árabes Unidos-Kuwait e Catar-Barém (2.ª jornada).
Catar e Barém lideram o Grupo B, com três pontos cada uma, enquanto Emirados Árabes Unidos e Kuwait ainda não pontuaram. O Grupo A é comandado pelo Iraque e por Omã, ambas com quatro pontos, surgindo a Arábia Saudita no terceiro lugar, com três pontos, e o Iémen é quarto, ainda sem pontos.
Só os dois primeiros de cada grupo se apuram para as meias-finais, e a 3.ª e última jornada da fase de grupos, nas próximas quinta-feira e sexta-feira, dias 12 e 13 do corrente mês, comporta os decisivos encontros Iraque-Iémen, Arábia Saudita-Omã, Barém-Kuwait e Catar-Emirados Árabes Unidos.