«Sporting tem de baixar o ritmo e sair com bola de forma letal»
Viviano no dia da apresentação, a 22 de junho de 2018, um dia antes da destituição de Bruno de Carvalho. SPORTING CP

«Sporting tem de baixar o ritmo e sair com bola de forma letal»

NACIONAL29.11.202323:30

Emiliano Viviano, agora com 37 anos, chegou ao Sporting no verão quente de 2018, após a invasão à academia. Contratado à Sampdoria por €1,9 M, o guarda-redes italiano acabou por não somar qualquer minuto de leão ao peito. Da experiência em Alvalade, a tristeza pela parte desportiva mas o carinho dos adeptos que ainda hoje agradece. Em conversa com A BOLA dá a receita para os verdes e brancos ganharem à Atalanta.

—  Conhece muito bem a equipa da Atalanta, o que pode o Sporting esperar deste jogo importantíssimo na Liga Europa

— O Sporting certamente pode esperar um jogo muito difícil. A Atalanta é uma equipa muito física, com ritmo muito elevado. É uma das equipas mais difíceis de defrontar em Itália.

— Por que teve o Sporting tantas dificuldades no jogo em Alvalade, que acabou por perder por 1-2? 

— A forma como o Sporting jogou é a que a Atalanta mais gosta. É uma equipa muito boa sem bola, muito boa quando precisa de ser agressiva no ataque e a criar superioridade. Por isso tornou-se um jogo à mediada da Atalanta, uma situação em que se sente muito forte. Contra a Atalanta nunca se deve esperar, tem de se contra-atacar sempre, golpe a golpe, porque se os deixarmos atacar eles fazem-no com sete, oito, nove jogadores e mantêm um ritmo muito alto.

— O que deve fazer então o Sporting desta vez? 

— Tem de tentar baixar o ritmo e sempre que conseguir sair com bola tentar um golpe letal, porque atrás, muitas vezes, eles vão deixar o Sporting no um contra um.

Viviano num treino da pré-época 2018/2019. ASF

— Que jogadores devem os leões ter mais em atenção? 

— Na minha opinião Koopmeiners é fundamental para equilíbrio defensivo e ofensivo da equipa. Depois, em todos estes anos a Atalanta sempre fez a diferença com os extremos, que fazem sempre muitos golos. E há que ter atenção a Zappacosta.

Edwards, Bragança, Pedro Gonçalves e Gonçalo Inácio...

— Continua a seguir com atenção a carreira do Sporting

— Sim, claro!

— Que jogadores mais gosta no atual plantel leonino? 

— A atual equipa do Sporting tem jogadores muito fortes. Gosto muito do Edwards, na minha opinião é elemento muito importe no grupo. Gosto também muito de um miúdo português que joga no meio-campo, não me recordo do nome...

Daniel Bragança

— Sim, o Bragança. Na minha opinião é bravissímo, um dos próximos  jogadores a seguir, pode ser um craque! Ah e claro, Pedro Gonçalves, é excelente! E como está o Gonçalo Inácio?

— Está muito bem, titularíssimo e sempre chamado à Seleção. 

— É excelente, um grande central, que sabe sair a jogar, gosto muito dele.

Viviano apenas alinhou em jogos particulares de pré-época pelo Sporting. ASF

– Que opinião tem sobre o trabalho do treinador Rúben Amorim?

– Não o conheço pessoalmente mas tem feito um trabalho muito importante, por algum motivo o Sporting não ganhava o título há tantos anos e agora é uma equipa que ganha e que está na luta e também na Europa. O Sporting tem possibilidades de fazer uma boa carreira europeia e ele tem muito mérito nesta fase do clube.

Memórias dos tempos conturbados em Alvalade

— Que memórias guarda da passagem pelo Sporting

— Não tenho memórias positivas, porque cheguei numa altura muito difícil e estranha na vida do clube. Por isso nunca tive a oportunidade de jogar. Então obviamente não tenho memórias positivas da minha experiência futebolística, mas por outro lado tenho muito boas memórias da cidade, do clube e de tantos companheiros de equipa. Portanto, foi sempre uma experiência a ter em conta. Só lamento que não tenha podido mostrar em campo o que realmente podia ter feito.

— Na 1.ª jornada de 2018/2019 aqueceu para jogar com o Moreirense mas acabou por não jogar e acabou por passar pelo Sporting sem qualquer minuto em campo. O que se passou nesse jogo? 

— Tinha um problema no pescoço. E Depois toda a questão política no clube, saiu o presidente, o diretor desportivo… Nunca mais fui sequer uma vez para o banco, era algo que me ultrapassava, seguramente. Mudas de país e eu não queria naquela altura, convenceram-me e depois dás por ti sem a oportunidade de jogar sequer um minuto… torna-se necessariamente uma experiência negativa…

Viviano viveu em Alvalade a ressaca da invasão à academia. ASF

— Estamos a falar de uma altura em que se vivia ainda a ressaca da invasão à Academia… 

— Sim, como disse foram seis meses muito estranhos, muito difíceis, mudámos de presidente, mudámos de diretor desportivo, três treinadores. Por isso foi uma experiência que ainda não compreendi totalmente. Mas sempre recebi muito carinho dos adeptos, apesar de nunca ter jogado. Muitos pediram-me desculpa, lamentaram o que aconteceu… Infelizmente nunca consegui provar o meu valor aos adeptos, não tive a oportunidade. Vou lembrar-me dos adeptos sempre com carinho, o público, o estádio, a academia… Quem sabe possa voltar no futuro, talvez noutro cargo, treinador, diretor… nunca se sabe, o mundo é pequeno e o tempo é longo.

— Para terminar: este Sporting pode voltar a ser campeão esta época?

— Em Portugal é sempre difícil. Este ano o Benfica também teve alguns problemas mas no entanto ainda é uma equipa muito sólida. E há o FC Porto sempre. Mas acho que o Sporting tem possibilidades de ser campeão novamente.

O percurso de Viviano

Chegou a Alvalade com os pergaminhos da escola italiana de guarda-redes. Formado na Fiorentina, passara por Brescia, Cesena, Bolonha, Palermo, Arsenal e Sampdoria. Jorge Jesus deixara o Sporting depois da invasão à Academia, Bruno de Carvalho contratou Mihajlovic antes de ser destituído — presidente saiu após a AG de 23 de junho de 2018, um dia depois da apresentação do guarda-redes. Viviano nunca chegou a trabalhar com este treinador, apenas com Peseiro (a escolha da comissão de Sousa Cintra e Artur Torres Pereira que geriu o clube nesse verão) e depois com Keizer já com Varandas como presidente. Nunca participou em jogos oficiais e passou por Alvalade num dos momentos mais conturbados da história do clube. Em janeiro de 2019 seguiu por empréstimo para a SPAL. Hoje defende a baliza do Ascoli, depois de três anos nos turcos do Karagumruk.

Viviano defende agora a baliza do Ascoli. IMAGO/LAPRESSE