Sporting ultrapassa obstáculo em Arouca com mestria. Arte de boa gestão e um futebol eficaz. Mas a tranquilidade só surgiu depois dos 90’
Falemos de liderança. Porque foi com esse estatuto que o leão saiu de Arouca. Uma equipa que não só é líder na tabela como de si mesma. Capaz de dominar, pausar, de moldar-se ao adversário e gerir um jogo expondo-se raramente ao risco. Que procura impor a sua liderança coletiva e, não menos importante, individual. Com todos os jogadores a comandar na sua zona de ação perante os adversários.
Olhando em detalhe para este jogo. Por posição: Franco Israel ganhou todos os duelos. Não sofreu golos e brilhou com a defesa da noite — a remate de Sylla na primeira parte. Coates, capitão, astuto, foi eficaz a retirar a profundidade a Mújica. Já Matheus Reis, por sua vez, levou a melhor sobre Jason, encurtando-lhe espaços e o seu jogo interior, assim como Geny Catamo no flanco contrário. Hjulmand emergiu no miolo, fazendo o trabalho (literalmente) sujo numa zona central onde havia mais lama do que relva. Gyokeres, claro está, voltou a ser determinante e a ganhar nos muitos duelos que foi tendo na linha ofensiva. E poderíamos continuar... Ok, justiça seja feita, nesta balança que pesou sempre para os leões, talvez Eduardo Quaresma (que haveria de sair ao intervalo para o regressado Gonçalo Inácio), tenha sido aquele que maiores problemas sentiu com Sylla. Muito por mérito da imprevisibilidade do guineense.
Serenidade a mais?
Se no capítulo individual o leão foi claramente melhor (nem podia ser de outra forma...), no coletivo houve maior equilíbrio. Justificado, em muito, pela abordagem inicial das equipas. Ao Sporting, uma equipa cansada, gerida com pinças fisicamente, convinha não acelerar, jogar de forma mais compacta, tentando adaptar as suas dinâmicas a um terreno que não oferecia veleidades técnicas. O Arouca, por sua vez, uma das equipas mais organizadas desta Liga, que joga de olhos fechados — sobretudo do meio-campo para a frente — sem pressões na tabela, totalmente descansada, também procurou ser sempre uma equipa reativa, serena, tentando manter-se vivo no jogo até final. Então qual terá sido a diferença entre a equipa cansada (Sporting) e a descansada (Arouca)?
Sobretudo em quem apostou num futebol mais simples, eficaz e direto. Tal como o leão desenhou o primeiro golo. Trincão (que confiança!) a transportar, devolve a Matheus Reis e este cruza para o inevitável Gyokeres empurrar. Tudo bem feito. Um golo que, porém, não trouxe nada de novo. O Arouca não mudou — e até poderia ter chegado ao empate não fosse aquele tal lance de Sylla que Israel evitou —trabalhando com lucidez, mas pouco rasgo.
Goleador do Sporting fez jus à sua categoria com um golo e uma assistência; Catamo fez uma autêntica obra-prima em Arouca; Hjulmand e Morita foram os operários do costume
Um final inesperado
História contada na primeira parte. De muita disciplina, trabalho árduo e determinação. De parte a parte. Com os leões a manterem-se fiéis às suas ideias. Amorim foi trocando peças, mas sem alterar nada do ponto de vista estratégico, tentando gerir a vantagem magra. Dando mais bola ao adversário, que passou a pressionar mais alto e, com isso, a abrir muito espaço nas costas. Foi dessa forma, aliás, que o Sporting foi estando sempre mais perto do 2-0 do que do 1-1. Correu risco? Claro. Mas poucas foram as vezes, salvo algumas ameaças, em que o Arouca chegou à área de Israel com perigo. Curiosamente, quando nada fazia prever, eis que surgiram os alucinantes seis minutos de compensação. Com dois golos. Uma obra de arte de Geny (que bomba!) e outro de Hjulmand a tranquilizar o leão. Um castigo pesado para a boa organização arouquense, um prémio justo para um leão sagaz, competente que soube esconder bem o cansaço dos últimos jogos.