Pau Cubarsí: a ascensão astronómica de mais um jovem do Barcelona
Pau Cubarsí foi o melhor em campo frente ao Nápoles (IMAGO)

Pau Cubarsí: a ascensão astronómica de mais um jovem do Barcelona

Nova sensação da 'cantera' do Barça tem dado que falar: as origens, o estilo e as comparações de uma das maiores surpresas de 2024

18 de março de 2024 foi o primeiro dia em que Pau Cubarsí, defesa central do Barcelona de apenas 17 anos, se juntou pela primeira vez aos trabalhos da Seleção Principal de Espanha. Faz também dois meses que o jovem, na altura a quatro dias do seu aniversário, se estreou com a camisola blaugrana frente ao Unionistas de Salamanca, na Taça do Rei.

Significa isto que, no espaço de menos de dois meses, Pau Cubarsí estreou-se pelo Barcelona e... foi convocado para La Roja. Repita-se: dois meses. Bastaram 12 jogos para que Luis de la Fuente convocasse o jovem jogador para os trabalhos de uma das seleções mais recheadas de talento em todo o planeta. Então, o que chamou a atenção do selecionador, de Xavi e de todos os apreciadores de futebol para aquele que já é comparado, por alguns, a Piqué ou Ronald Koeman?

O jogo jogado

Apesar dos 17 anos de idade, aquilo que mais espanta em Pau Cubarsí é a sua frieza, com e sem bola. Em momento defensivo, o central é muito forte, tanto no controlo do espaço, como no 1 para 1 com avançados fisicamente dotados. A sua capacidade de anular movimentos de atacantes mais fortes tem sido surpreendente - veja-se, por exemplo, a exibição frente a Morata, na vitória por 3-0 do Barça frente ao Atlético Madrid.

Em momento atacante é onde Cubarsí mais surpreende, pela extraordinária capacidade de passe que apresenta. É importante olhar ao momento do Barcelona para perceber, também, a importância que este jogador tem vindo a ter em construção. Neste momento, Frenkie de Jong, Pedri e Gavi estão lesionados. Três das peças fundamentais na construção blaugrana não contam e, mais que habitual, o jogo com bola da defesa tem ganho destaque. É aqui que entra Pau Cubarsí: sabe construir para o meio-campo a partir do bloco alto que os catalães gostam de apresentar e, na rotura, os seus passes são, simplesmente, sensacionais.

«Não fica nervoso. Tem uma personalidade muito calma. O lançamento da bola com ele é brutal. Tem a calma necessária para criar jogadas de ataque, é um espetáculo vê-lo. Temos de estar orgulhosos do trabalho de La Masia. Quando ele tem a bola, o meu ritmo cardíaco não sobe. Estou calmo. Ele joga com sentido. É maravilhoso. É um rapaz muito racional. Estamos perante um aparecimento maravilhoso para o Barcelona e para o futebol espanhol.» Foram estas as palavras de Xavi após a vitória por 3-1 da sua equipa frente ao Nápoles que permitiu que o Barcelona seguisse em frente na Liga dos Campeões. Momento importante que terá, a seguir, mais destaque.

A chegada de Cubarsí à equipa principal

Foi, para muitos, uma surpresa quando, em setembro, Xavi deixou Mika Faye, central senegalês, de fora da lista de inscrições da Liga dos Campeões, para incluir Pau Cubarsí. Na altura com 16 anos, dois meses depois de assinar contrato profissional com o clube que representa desde 2018, vindo do Girona, Cubarsí passou à frente de Faye, que havia feito a pré-época com a equipa principal. Até ao final do ano só jogou na equipa B, mas nem por isso deixou de se destacar. «O Pau surpreende-me. Ele tem este caráter, este temperamento, esta qualidade, esta forma de jogar. Há que alimentar a sua forma de ser, pois tem perfil para continuar a crescer», disse Rafa Márquez, ex-central dos culés e técnico da segunda equipa.

A estreia chegou já em 2024. A 18 de janeiro, o Barça jogou frente ao Unionistas de Salamanca para a Taça do Rei. Ao intervalo, com 1-1 no marcador, Xavi tirou Christensen para dar os primeiros minutos ao camisola 33 na equipa A que, ao minuto 69, assistiu Koundé para o 2-1. O jogo terminou com a passagem do Barcelona aos quartos de final da prova e a equipa entrava numa das fases menos positivas da temporada.

A tempestade no Barcelona...

Depois de mais um triunfo, contra o Bétis, por 4-2, seguiu-se uma série negra para os catalães. Duas vitórias em cinco jogos, que incluíram a eliminação da Taça do Rei frente ao Ath. Bilbao e uma pesada surpresa frente ao Villarreal (3-5 em casa), levaram a que Xavi anunciasse que se demitiria no final da temporada. Vale a pena destacar que, nestes dois jogos em que o Barça sofreu nove golos, Cubarsí não foi titular: entrou aos 70' frente aos bascos e ao intervalo contra o submarino amarelo. Ainda assim, não deixa de ser um registo pesado, acentuado com o empate com o Granada. Esse momento, porém, não duraria para sempre.

...seguida pela bonança que se vive

No último mês, o Barcelona disputou sete jogos e sofreu apenas três golos. Pau Cubarsí foi titular em quase todos - não jogou na primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões, frente ao Nápoles - e só frente ao Ath. Bilbao não foi totalista. Ou seja, nos minutos que esteve em campo nessas partidas, o Barça sofreu dois golos. Mesmo com todas as lesões, a equipa estabilizou e está a mostrar mais qualidade e estabilidade, quer na defesa, quer no ataque. E se, na frente, Lamine Yamal tem sido o jovem em destaque, atrás não se fala de outro que não seja Pau Cubarsí. E o seu jogo com o Nápoles demonstra o porquê.

Homem do Jogo na Liga dos Campeões

Jogava-se, no Estádio Olímpico de Montjuic, a primeira passagem do Barcelona aos oitavos de final da Liga dos Campeões desde 2020. A eliminatória, frente ao Nápoles, estava empatada a um golo. No eixo da defesa estavam Ronald Araújo e Pau Cubarsí e, se o uruguaio tremeu aqui e ali, tal não pode ser dito do espanhol. Calma, compostura, com e sem bola, fizeram furor no primeiro jogo europeu do jovem que, para além de lançar várias vezes os seus companheiros com passes extraordinários, também foi responsável por começar a jogada do primeiro golo da partida.

A sua exibição defensiva foi mais discreta, mas nem por isso menos importante. Teve papel fulcral a controlar Osimhen e anulou por completo a maior arma ofensiva do Nápoles. Resultado final: 3-1 para o Barcelona, quartos de final alcançados e, aos 17 anos de idade, Pau Cubarsí levou para casa o prémio de Homem do Jogo.

Cinco dias depois, mais uma categórica partida do Barcelona, desta vez, com uma vitória por 3-0 no Metropolitano, frente ao Atlético. Para além da grande prestação ofensiva da equipa, a linha defensiva conseguiu anular o ataque colchonero. Mais uma vez, Cubarsí, encarregado de defender diretamente Álvaro Morata, não vacilou.

Pau Cubarsí deixou Morata 'no bolso' na vitória do Barça sobre o Atleti por 3-0 (IMAGO)

Entre estes dois jogos chegou uma enorme novidade: Luis de la Fuente chamou o central para a seleção, após 11 jogos feitos na equipa principal. Uma surpresa para alguns mas, sem dúvida, uma chamada merecida. «Estou muito orgulhoso da confiança que me é dada pelo treinador. Vou fazer tudo por aproveitar a oportunidade», afirmou.

A cantera de La Masia tem sido, ao longo dos anos, fonte de talento para o mundo do futebol. Neste momento, só na equipa principal do Barcelona, Pedri, Gavi, Fermín, Yamal, Héctor Fort ou Alejandro Balde são alguns dos nomes que, nos últimos tempos, têm reforçado o plantel culé. Com Pau Cubarsí, a história parece ser um pouco diferente. Além da velocidade no crescimento deste jovem, que apenas começou a jogar ao mais alto nível em 2024, a posição de defesa central é uma que, usualmente, dá preferência à certeza do que à irreverência e onde, ao contrário do que pode acontecer em zonas mais adiantadas do terreno, há menos espaço para o erro e para o crescimento que dele advém.

O jovem, porém, não só mostra a frieza de jogadores experientes, como a ela consegue adicionar, de certa maneira, a irreverência de um criativo. Vejamos se não estamos diante mais uma das grandes surpresas que o Barça tem dado e que provam que, mesmo em grandes clubes, os jovens têm sempre espaço para crescer.

Anteontem, no Espanha-Colômbia, entrou aos 80’, substituindo Laporte, tornando-se, aos 17 anos e dois meses, no mais novo de sempre a vestir a camisola da roja, superando o recorde de Sergio Ramos (18 anos e 11 meses).