Números da SAD no vermelho preocupam universo portista

Números da SAD no vermelho preocupam universo portista

NACIONAL15.10.202310:30

Pinto da Costa, Adelino Caldeira, Fernando Gomes, Vítor Baía e Luís Gonçalves receberam 1,6 milhões em prémios e 2.023 milhões em salários; trambolhão de 74% no EBIDTA; eleições em abril

A SAD azul-e-branca apresentou na sexta-feira um prejuízo de 47,6 milhões de euros. Deu um trambolhão da ordem dos 74 por cento no EBIDTA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), que caiu de 89 milhões em 2021/22 para 23 milhões em 2022/23, e viu ainda agravarem-se de forma dramática os capitais próprios, que eram negativos na época transata em 112 milhões de euros e passaram agora para 176 milhões. 

Na ressaca da apresentação do relatório e contas, causou particular celeuma no universo portista a atribuição de prémios aos administradores da SAD, mais exatamente 480 mil euros para Pinto da Costa, o presidente, e 280 mil para os restantes quatro administradores: Adelino Caldeira, Fernando Gomes, Vítor Baía e Luís Gonçalves. 

Fernando Gomes, administrador com o pelouro da área financeira, explicou que estes prémios referem-se ao «acesso à UEFA Champions League 2022/2023 na qualidade de campeões nacionais, assim como de prémios pela performance desportiva da equipa na prova europeia e pela conquista da Supertaça Cândido de Oliveira, da Taça da Liga e da Taça de Portugal». 

Não configurando esta prática qualquer ilegalidade, várias figuras do universo portista manifestaram no entanto incómodo perante o facto de ser conhecido um gasto total de 3.623 milhões de euros com os administradores no mesmo documento em que é publicado o terceiro pior resultado de sempre - agora foram 47,6 milhões de défice, depois de 116,6 milhões em 2019/20 e 58,4 milhões em 2015/16. 

Os prémios atribuídos acresceram a remunerações fixas na ordem dos 672 mil euros para Pinto da Costa, 381.500 para Adelino Caldeira e Fernando Gomes e 294 mil para Vítor Baía e Luís Gonçalves. Outra fonte de preocupação tem a ver com o facto de, a partir de janeiro, um dos principais ativos do clube, Mehdi Taremi, poder negociar livremente a saída, em junho, a custo zero. Fernando Gomes admitiu que a FC Porto SAD «não devia ter capitais próprios negativos, seria bom que não houvesse capitais próprios negativos, mas isto não prejudica de nenhuma forma a atividade normal do FC Porto».

 Há poucos meses garantira, porém, ser imprescindível que os dragões criassem receitas extraordinárias através da venda de passes de jogadores. O administrador financeiro afastou ainda o fantasma de uma nova eventual violação das regras do fair play financeiro da UEFA: «Este resultado é muito peculiar e é negativo, mas não está em causa, de nenhuma forma, qualquer espécie de fair-play financeiro que possa incorrer. Com dois anos de resultados positivos e um ano de resultado negativo mais ou menos equivalentes, não há, de nenhuma forma, qualquer perigo de regressarmos ao fair-play financeiro.» 

Para o antigo autarca da Invicta, o desequilíbrio negativo apresentado nas contas até 30 de junho «será compensado até final do ano com a receita da venda de Otávio e com a receita na Liga dos Campeões», sendo que as contas para o fair-play financeiro da UEFA se reportam ao ano civil e não à época desportiva. De qualquer forma, os números registados, que apontam para um aumento com custo com o pessoal de 15,5% (passaram para 95,4 milhões de euros), não deixam de ser fonte de preocupação para quem está à frente dos destinos da SAD do FC Porto, bem como matéria de debate para quem se perfila como candidato às eleições de 2024. 

Villas Boas esperará sentado?

As ondas de choque dos números apresentados na última sexta-feira pela SAD do FC Porto continuam, portanto, a agitar o universo dos dragões, potenciados pelo momento pré-eleitoral que o clube já está a viver. Aliás, a propósito das eleições de abril de 2024 e referindo-se a potenciais candidatos, nomeadamente André Villas-Boas, o presidente Pinto da Costa cerrou fileiras em torno da atual administração. 

Antes de mais, sobre alguma preocupação que lhe pudesse assistir neste contexto de apresentação de um relatório e contas menos positivo, o presidente do FC Porto foi claro: «A mim absolutamente nenhuma.» 

Em seguida, não hesitou na reação à vontade manifestada na última semana por Villas-Boas de candidatar-se à presidência azul e branca: «Sabemos que há jornais e televisões que estão muito interessados em que eu saia, mas isso não é de agora, já é de há muito. Já tenho mais de 15 mil dias como presidente. Há muito tempo que me querem ver longe, mas vão ter de esperar sentados, senão ainda vão ganhar varizes.» 

Resta perceber, nas próximas semanas ou meses, que efeito terão estas palavras em André Villas-Boas, que na quarta-feira, numa conferência sobre liderança e performance da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, abordou o tema e mostrou-se extremamente cauteloso ao falar de Pinto da Costa: «Não é só o presidente do clube, mas a figura máxima da região. Esta pessoa trouxe-nos todas as nossas glórias no campo da emoção e elas são intocáveis para a história.» 

No entanto, o antigo treinador portista também sublinhou que «o FC Porto terá de preparar-se para outra fase da sua vida, com novas lideranças», quando o atual presidente deixar de o ser. 

Comunicado

Perante o avolumar de vozes discordantes, a FC Porto SAD emitiu no sábado um comunicado através do qual volta a esclarecer o assunto. Segundo explicam os azuis e brancos, os prémios entraram no exercício da época anterior, mas dizem respeito a três condições que foram cumpridas na época de 2021/2022. O valor, diz o comunicado, refere-se «ao desempenho de 2021/22, época em que o FC Porto conquistou o título nacional de futebol e a sociedade apresentou resultados francamente positivos». 

«Importa reafirmar que para haver lugar ao pagamento de prémios à administração têm de se verificar três condições cumulativas: 1) Ser campeão; 2) Apuramento para a Liga dos Campeões (aparentemente está conseguido ao ser campeão, mas pode não se verificar se o “ranking” de Portugal não o permitir, ou por uma qualquer sanção da UEFA, por exemplo); 3) O exercício terminar com lucro.» 7

Os portistas esclarecem ainda que os prémios «ao plantel, à equipa técnica e à administração são sempre pagos na época seguinte à que determinou esse direito».