«Não esperava jogar com o FC Porto mas o mister deu-me toda a confiança»
Toni Borevkovic aborda a sua estadia ao serviço do Vitória, com incidência na sua estreia esta época, na jornada transata, que até o próprio surpreendeu. O croata é exigente consigo mesmo, gosta do sistema de três centrais e do treinador Álvaro Pacheco. E está rendido a um dos grandes de Portugal, que logo percebeu ser um clube diferente
- A última partida frente ao FC Porto (1-2) foi a sua estreia na presente temporada. Como é que se sentiu ao jogar a totalidade dos 90 minutos?
- Senti-me muito bem. Passaram quase seis meses do meu último jogo, por isso fiquei muito feliz por jogar. Senti-me mesmo muito bem, sinceramente não esperava jogar, porque a equipa estava num bom momento, mas o mister deu-me confiança para jogar neste grande jogo, como é sempre contra o FC Porto, e correu muito bem.
- Mereceu a confiança do treinador Álvaro Pacheco. Era por isto que esperava? E agora, é para dar continuidade?
- Claro, assim como toda a equipa. Fizemos um jogo muito bom, mas temos de continuar a fazer as coisas acontecerem. Desde a chegada do mister estamos a jogar muito bem, nos últimos dois jogos não fizemos pontos, mas na realidade fizemos muito bons jogos e só faltou o resultado. Se continuarmos a jogar assim, vamos estar mais perto. Temos o nosso caráter e este grupo é como uma família. Estamos a criar essa imagem e quando o mister chegou percebeu isso, transmitiu as suas ideias e assim estamos num bom momento.
- O sistema de três centrais está bem implementado aqui no Vitória. Sente-se confortável neste sistema?
- Sim, sinto-me confortável, porque no Rio Ave, na altura, jogámos uma temporada neste sistema. Mas também já tinham passado dois ou três anos e precisava de tempo, também não fiz pré-época, precisava de tempo para ganhar ritmo, perceber os movimentos com bola e sem bola. Agora é só dar continuidade e crescer como toda a equipa.
- Normalmente, num sistema de três centrais, os alas estão bem subidos e só tem de comandar dois companheiros, ao contrário de três numa linha de quatro. Considera que é mais fácil?
- Não concordo. No nosso sistema, normalmente as pessoas pensam que a jogar com cinco, depende de como olhamos, três ou cinco atrás. Talvez as pessoas pensem que defendemos baixo, mas não concordo com isso. O mister Pacheco pede linhas subidas e aí, quer jogues com quatro ou cinco, tens sempre que estar atento para colocar os adversários em fora de jogo, perceber que se estás com linhas subidas tens de estar preparado para retirar profundidade ou sair na pressão no momento certo.
- Chegou à titularidade, agora veio a pausa para seleções e a seguir segue-se a Taça de Portugal. Espera que a titularidade no último jogo o atire para uma boa época?
- Qualquer jogador quer jogar, isto é óbvio e normal. Não depende de mim, são opções do treinador. Como o mister está sempre a dizer: ‘Temos de ser campeões todos os dias’. Álvaro Pacheco valoriza muito isso, quando trabalhas bem e certo, ele valoriza e dá oportunidades a qualquer um e este é o caminho. Por isso, tenho de estar focado no trabalho diário e depois o mister decide.
- Fala-se muito de Álvaro Pacheco, um treinador que o plantel gosta e aprecia. Deu-lhe o lugar no onze e isso deu-lhe, também, confiança extra?
- Sim, claro. Já tínhamos tido o jogo da Taça de Portugal, no Algarve, e não tinha jogado. Não tinha minutos e colocou-me a jogar contra o FC Porto. Deu-me essa confiança de que conta mesmo comigo, porque eu também tinha dúvidas, se contava comigo ou não, pois não tinha nenhum minuto, mas como agora me deu a oportunidade, também mostra que conta comigo. Até como contava antes, mas eu não tinha essa perceção.
- Passa três temporadas em Vila do Conde e depois vem para o Vitória. O que sentiu ao chegar aqui?
- É diferente. Há níveis nos clubes portugueses e o Vitória, para mim, é um grande, faz parte dos grandes clubes em Portugal. Quando jogava contra o Vitória, pelo Rio Ave, sentia-se logo, tem uma massa adepta que é de um grande clube. Sabia onde é que estava a chegar e ao que vinha. Desde o início senti logo que a pressão era diferente ao jogar aqui, em relação ao Rio Ave. Aqui a exigência é diferente e sempre que se perde os adeptos pedem para se fazer melhor, para ganhar sempre e isso faz diferença.
- Concorda que a adaptação até acabou por ser boa, já que fez uma primeira temporada interessante aqui em Guimarães?
- Sim. Quando se olha para as estatísticas e para os jogos, fiz 28 ou 29. Nesse aspeto foi bom, mas em termos de futebol não estava satisfeito, porque não estava a atingir o nível que tinha no Rio Ave. Nos primeiros meses até estive bem, mas depois não. Também há uma informação que pouca gente sabe: joguei, a partir de dezembro até ao final da temporada, com injeções. Estava lesionado e pouca gente sabe isso. Influenciou e por isso não estava satisfeito, mas um jogador quer jogar sempre e tentava dar o meu melhor. Mas, para ser honesto, nessa altura não estava a 100 por cento e não estou satisfeito com a minha primeira passagem aqui.
- É sempre assim? Muito exigente consigo mesmo?
- Sim, sim. Sou a pessoa que mais me critica, ninguém o faz tanto como eu, porque não sou falso comigo. Quando faço alguma coisa errada é porque estou errado. Não é culpa do outro ou do treinador.
- No ano passado acaba por ser emprestado para a Croácia. Como foi regressar ao seu país?
- Já tinha saudades e surgiu a oportunidade para jogar no Hajduk Split, um dos dois grandes clubes da Croácia [o outro é o Dínamo Zagreb]. O Vitória também passava por uma situação financeira menos boa e pensei que um ano de empréstimo podia ser bom. Eles tinham opção de compra, mas para mim era só um ano de empréstimo para ver o que ia acontecer. Voltei, mas também fiz uma época com a qual não estou satisfeito, porque tive lesões e houve alguma instabilidade no clube. Trocámos três ou quatro vezes de treinador. O técnico que me convidou foi demitido passado dois meses. Muita instabilidade, lesões e por isso não tinha regularidade. Fazia cinco ou seis jogos, lesionava-me e ficava de fora dois meses, o que se repetiu durante a temporada. Até antes do último jogo que era a final da Taça voltei a lesionar-me. Operação, depois dois meses de recuperação. Por isso não estou satisfeito, mas é a vida de futebolista, podia ser pior [risos].
- Mas considera que o regresso à Croácia resultou bem a nível mental? Acha que matou as saudades que tinha?
- No início sim, mas depois a forma como correu, com muitas lesões, já pensava do que tinha feito. Mas, também influenciou aqueles últimos meses aqui no Vitória, porque não estava a 100 por cento e cheguei lá, entrei logo logo no ritmo e tive lesões que podem surgido por causa disso. No início era bom, porque jogava e tudo, mas as condições na Croácia, a nível de infraestruturas, é muito diferente daqui. Por exemplo, o Hajduk, que é um clube grande, só tem um campo para treinar e não é bom, porque treinamos lá todos os dias e os campos dos outros clubes da liga são fracos. Houve muitas lesões, não só eu, por causa do estado do terreno. E pensava, o que vim fazer. Podia estar a jogar numa liga que é quase do top-5 europeu. Claro que tinha saudades de lá, mas logo percebi que tinha feito uma má opção.
- E ter ido para o Hajduk Split, sendo que foi formado no Dínamo Zagreb, não criou problemas?
- No início, não tinha, mas depois… Entrámos muito bem no campeonato e quando as coisas estão bem… Mas, passado pouco tempo caímos para o segundo lugar e logo começaram a dizer coisas como: ‘Ele fez formação no Dínamo Zagreb, o que está a fazer aqui. Não está de forma honesta, blá, blá, blá’… Coisas assim que até é normal, porque o Hajduk é um clube que até comparo com o Vitória, com uma massa adepta de toda a cidade. Aqui, toda a cidade vive para o Vitória e na Croácia, metade do país vive para o Hajduk e aí é um pouco diferente. Por isso, quando as coisas não correm bem, não tens liberdade para sair, pois toda a gente te conhece e quando a equipa faz um mau jogo, não tens aquela liberdade para ir tomar um café ou fazer qualquer coisa. Os adeptos interpelam-te: ‘O que andam a fazer? Jogam tão mal, não pode acontecer mais!’ Coisas assim… Mas, tens de estar habituado. Se sais de casa, abanas a cabeça e dizes que têm razão e calas-te.
Namorada foi a melhor ajuda na vinda para Portugal
Toni Borevkovic chegou ao nosso País com 20 anos para representar o Rio Ave e admitiu que ajuda da sua namorada foi essencial para se manter concentrado no futebol e na sua carreira. «A minha namorada, agora mulher, está comigo desde o início e isso ajudou muito, porque quando estás sozinho é muito mais difícil. Qualquer pessoa que possa estar contigo, torna as coisas mais fáceis, porque sozinho pensas muitas vezes no que vais fazer e é muito mais fácil quanto tens alguém ao teu lado», menciona o central.
A adaptação não foi fácil, principalmente, devido à barreira linguística, mas tudo se resolveu, até com o auxílio de um compatriota. «Cheguei a Portugal e estava a 2500 quilómetros do meu país, não sabia a língua e não conhecia ninguém. Foi o Rio Ave que me deu a oportunidade de dar o salto, a confiança e tudo para crescer como jogador. Mas, foi muito difícil porque não sabia falar. Sabia inglês, mas pouca gente naquele balneário falava inglês. Aí surgiu o meu primeiro objetivo que foi o de aprender a língua, porque ia ser muito mais fácil para mim aprender coisas. No entanto, pouco depois chegou mais um croata [Nikola Jambor] e foi mais fácil, porque aprendemos os dois português. Quando estás no balneário e ninguém fala inglês, tens de falar alguma coisa de português. Não foi fácil, mas é a vida de futebolista», conta.
Um gigante na formação
Borevkovic começou a carreira nos escalões de formação do NK Marsonia, sendo que se destacou de imediato e dois anos depois, em 2012, estava a caminho do D. Zagreb, no qual fez a formação até chegar à equipa principal (2016). Com pouco espaço partiu para duas temporadas no NK Rudes e em 2018 chegou a Portugal.
Uma centena em Portugal
O central já soma 131 jogos pelos clubes portugueses por onde passou. Em três temporadas em Vila do Conde, no Rio Ave, foi quase sempre titular (101 utilizações). Apenas fez um golo no nosso campeonato, frente à B-SAD, na jornada 30 de 2019/20.
Um título
Borevkovic ainda é um jovem e por enquanto apenas tem um título na carreira, o de campeão nacional da Croácia na... 2.ª Divisão, o que conseguiu ao serviço do NK Rudes, que representou durante três épocas (a primeira por empréstimo do Dínamo Zagreb).