«Fervor sportinguista é ainda maior no Norte!»
A BOLA falou com os presidentes de dois dos maiores Núcleos do Sporting no Norte do país, na antecâmara do clássico; rivalidade é maior com o FC Porto, pela proximidade geográfica; longa distância até Alvalade complica
Leandro Campos e Jorge Baía partilham a mesma paixão pelo Sporting, mesmo estando a cerca de 300 quilómetros do Estádio José Alvalade. Às portas do clássico com o FC Porto, marcado para amanhã (20.15 horas), os presidentes dos núcleos leoninos de Vila do Conde e Póvoa do Varzim e de Matosinhos, respetivamente, convidados por A BOLA, explicam como se vive o sportinguismo à distância, no Norte.
«É diferente», começa por dizer Leandro Campos, em alusão às diferenças entre ver o Sporting em Alvalade ou fora de casa: «Há 17 jogos em casa e cerca de 12 aqui no Norte. Portanto, há algum equilíbrio. Há sempre um esforço que as pessoas fazem, seja de tempo, familiar ou financeiro. Mas vale a pena, vale muito a pena! Acho que o espírito é diferente. Como costumo dizer, na brincadeira, sempre que se entra no estádio é como se fosse a primeira vez. E eu vou a todos os jogos. É um sentimento de pertença.»
Apesar da distância que separa Alvalade dos adeptos leoninos do Norte do país, Jorge Baía não considera difícil apoiar o Sporting e vinca que o «fervor» é ainda maior para os sportinguistas que não vivem na capital: «Não, não acho difícil. Costumo dizer que nós temos uma magnitude em relação aos adversários totalmente diferente. Enquanto uns são clube de bairro ou de cidade, nós somos o Sporting Clube de Portugal! Temos mais dificuldade, na maior parte das vezes, em apoiar o Sporting, mas o fervor acho que é muito maior fora de Lisboa, como aqui no Norte.»
A afluência de adeptos leoninos nos jogos no Norte é «muito forte» e deixa muitas vezes vários sportinguistas sem bilhete… «Existe uma grande afluência, sem dúvida. Há muita procura, é pena não termos bilhetes suficientes para fornecer a tantos sportinguistas que nos pedem. Temos uma grande dificuldade: normalmente numa primeira fase vendemos a sócios do núcleo e na segunda a não sócios. É sempre difícil. Os estádios são pequenos, não há tanta lotação assim… Portanto não é fácil aceder a tantos pedidos», lamenta o presidente do Núcleo do Sporting de Matosinhos.
Alvalade, ainda assim, é sempre ponto de encontro. As excursões organizadas levam, frequentemente, à junção de sócios de vários Núcleos das proximidades: «Muitas vezes até organizamos mais do que uma [excursão], porque fazemos com núcleos próximos, como os de Matosinhos, Barcelos ou Famalicão, por exemplo. Tirando os jogos grandes e as competições europeias, por vezes temos 20 de um lado, 20 do outro… E como é uma distância curta de 30 ou 40 quilómetros entre os núcleos, existe essa união também», enaltece o responsável pelo Núcleo de Vila do Conde.
O número de sócios dos núcleos no Norte, nomeadamente no de Matosinhos, pode aumentar «exponencialmente», como explica Jorge Baía: «Sim, há uma comunidade sportinguista muito grande. Neste momento, temos 600 sócios ativos, após a renumeração. Há muitos sportinguistas na zona de Matosinhos e Leça da Palmeira. Prevemos um aumento exponencial nos próximos tempos e notamos isso na compra de bilhetes. Quando o Sporting joga no Norte, são cinquenta por cento de sócios do núcleo que pedem bilhetes e os outros cinquenta não são sócios. Ou seja, pode haver um aumento exponencial de sócios dos núcleos sportinguistas no Norte».
Na zona de Vila do Conde e da Póvoa do Varzim, por outro lado, houve uma fusão dos núcleos das duas cidades, há nove anos, que permitiu «fortalecer» a presença do Sporting na região: «Fizemos a fusão do Núcleo de Vila do Conde com o da Póvoa de Varzim, que são cidades relativamente pequenas, em 2014, e ficámos muito mais fortes. Ficou tudo concentrado. A união faz a força e temos, neste momento, 208 sócios do Sporting e cerca de 450 sócios do núcleo», revela Leandro Campos.
De avós para netos
De um ponto de vista puramente geográfico, tudo aponta para uma rivalidade mais quente com o FC Porto e é exatamente por isso que Jorge Baía considera os duelos contra os dragões «diferentes» em relação ao Dérbi Eterno: «É muito diferente. Não há tanta rivalidade com o Benfica. É certo que há sempre rivalidade, mas acho que é mais com o FC Porto do que propriamente com as águias, ao contrário do que acontece em Lisboa. Tenho amigos que são benfiquistas em Lisboa e dizem-me que a rivalidade é com o Sporting, não é com o FC Porto, embora as coisas tenham mudado um pouco nos últimos tempos. Mas sim, a nossa rivalidade é maior com o FC Porto, não há dúvida alguma, devido à proximidade, como é óbvio.»
Já Leandro Campos confessa que o grande número de benfiquistas no Norte equilibra as contas: «Sim, é diferente. Eu tenho um ódio de estimação ao Benfica, com todo o respeito, atenção. Com o FC Porto é uma realidade que se sente mais. Está ali mais próximo. As discussões acabam por bater sempre no FC Porto-Sporting, mas com o Benfica também há muita, muita rivalidade! Naquela zona não existe nenhuma casa do Benfica, tirando em Famalicão, mas existem muitos benfiquistas também, vamos ser honestos.»
Os dois assumem que nasceram e cresceram com o sportinguismo, embora em contextos distintos: «Nasce-se com essa paixão. Posso dizer que fui sempre sportinguista. No meu caso, morei em Lisboa alguns anos, portanto vem daí. Mas mesmo para as pessoas que nasceram e foram criadas no Norte, é duro. Temos ali um tubarão muito próximo. Passámos alguns anos sem títulos e é difícil. Mas o mais engraçado que se vê no núcleo é por exemplo o facto de os avós fazerem dos netos logo sócios. Temos essa funcionalidade com o Sporting, através de uma plataforma, temos cartões que entregamos com o número de sócio e faz diferença. Esta plataforma aproxima o Sporting das pessoas e é muito importante. Uma coisa é entregar uma fotografia, dar os dados, fazer o cartão e levá-lo; outra coisa é marcarmos um dia de jogo, em que temos o núcleo sempre aberto, e as pessoas irem lá e saírem logo com o cartão. É diferente e ajuda muito», afirma o presidente do núcleo vila-condense.
Jorge Baía, por seu lado, frisa que «a paixão pelo Sporting não se mede». «Foi algo que surgiu com os meus antepassados. Os meus avós eram todos sportinguistas, o meu pai também. Começou a levar-me aos jogos do Sporting, aqui no Norte, porque na altura havia sempre mais dificuldades para as deslocações a Lisboa. Portanto, a paixão pelo Sporting começou logo praticamente desde que nasci. É uma paixão que não se mede», confessa.
Gyokeres e… título!
Para o clássico de amanhã, Leandro Campos e Jorge Baía esperam «limpar a imagem» do desaire em Guimarães e que Rúben Amorim se mantenha fiel às suas ideias: «Que seja um jogo tranquilo. Sabemos que eles vão entrar com uma forma de jogar mais viril mas espero que os nossos mágicos estejam em dia sim. Sinceramente, espero que seja um jogo mais fácil do que todos esperamos. Espero, muito sinceramente, que o nosso treinador não invente! Espero que seja coerente e que tenha consciência de que o FC Porto também é uma boa equipa. Eles vão atacar mais pelo lado esquerdo, que é o nosso ponto mais fraco.» O presidente do Núcleo do Sporting de Vila do Conde prevê uma jornada que «pode ser decisiva» e lembra o outro duelo grande da jornada, que opõe SC Braga e Benfica: «Perder é impensável. Ganhar dá motivação e é a afirmação enquanto candidatos. É uma jornada que pode ser decisiva. Na terça-feira espero comprar o jornal A BOLA, por exemplo, e ver aquela capa linda que queremos!»
Já o líder do Núcleo do Sporting de Matosinhos rejeita a ideia de jogos decisivos «tão cedo» na Liga: «Ainda há muitos jogos e uma segunda volta. Agora, é importante vencer, sem dúvida. Temos hipóteses. Costuma ser nos jogos mais pequenos que se perdem pontos fatais para a conquista do título… Não é só nos jogos grandes. Embora nestes jogos convenha sempre não perder, pelo menos.»
Em contagem decrescente para o duelo entre leões e dragões, os dois presidentes recordam algumas das melhores memórias que guardam dos confrontos do Sporting frente ao FC Porto, com uma em comum, a final da Taça de Portugal em 2008, em que o brasileiro Rodrigo Tiuí brilhou, com dois golos apontados no prolongamento: «Talvez seja a final da Taça de Portugal do Tiuí. Foi um dos jogos mais emotivos de que me recordo. Também posso recordar o jogo da Taça da Liga em Leiria. Ganhámos 2-1 ao FC Porto com dois golos do Jovane Cabral, que tinha saído do banco. Foi um dos momentos mais importantes que me lembro, em jogos contra o FC Porto.»
Quanto às possibilidades do Sporting no que à luta pelo título diz respeito, o otimismo é partilhado por ambos, embora Jorge Baía demonstre preocupações em relação ao setor defensivo: «Temos um ataque fantástico, temos o Gyokeres que foi um achado no mercado. Mas este ano, ao contrário de outros anos, temos uma defesa e um guarda-redes que não estão tão bem. O Adán tem claudicado nos jogos mais importantes, portanto o meu receio é mais pela baliza.» «Acho que é ano para sermos campeões. Temos uma máquina brutal na frente. O Gyokeres é um jogador que nem é deste campeonato. Está muito à frente! A equipa está coesa, defensivamente estamos bem, temos mais soluções. No meio-campo se calhar falta um construtor ou uma linha condutora de jogo, mas acho que temos muitas soluções este ano. Estamos mais coesos e a equipa está mais adulta. Já se conhecem melhor… sinceramente acho que é ano! Mas também digo que o jogo de segunda-feira é, emocionalmente, para podermos dar o clique. Para podermos matar o peru do Natal, se não voltam a falar-nos do Natal e queremos um Pai Natal verde este ano», deseja Leandro Campos.