Fernando Diniz: de desconhecido a treinador do Brasil e vencedor da Libertadores
O técnico já passou por dezenas de clubes e, com métodos táticos disruptores, chegou ao comando da seleção brasileira e à conquista do primeiro troféu continental pelo Fluminense
[artigo atualizado]
O mês de novembro será o mais desafiante da carreira de Fernando Diniz enquanto treinador. Fará um total de oito jogos, incluindo a final vencida da Taça Libertadores ao servilo do Fluminense, e dois importantes duelos pelo Brasil na fase de qualificação para o Mundial-2026, um deles frente à Argentina.
A viagem do técnico de 49 anos até este ponto não foi feita em linha reta, mas é única no futebol brasileiro.
Subida a pulso… e aos solavancos
Após uma carreira de jogador que passou por clubes como Corinthians, Fluminense e Santos, Fernando Diniz começou a treinar em 2009 no Votoraty, um clube da 3ª divisão do Campeonato Paulista - e logo no primeiro ano, ganhou esse campeonato e subiu a equipa de divisão.
Depois de várias épocas em clubes regionais do estado de São Paulo, foi em 2016 que Diniz se deu a conhecer ao Brasil, na 1ª divisão do Campeonato Paulista.
Orientando o Grémio Osasco Audax, a equipa que estava na Serie D (4º escalão nacional), protagonizou uma campanha em que venceu o Palmeiras, o São Paulo e o Corinthians, antes de cair apenas na final, perante o Santos.
Na sequência dessa campanha surgiu o seu maior teste até então quando seguiu para o Oeste, da Serie B (2º escalão). Conseguiu 8 vitórias em 36 jogos e garantiu a manutenção do clube na última jornada com uma vitória sobre o Náutico, que não subiu de divisão por causa dessa derrota.
Chegaria ao Brasileirão em 2018, através do Athletico Paranaense. No entanto, começou a ser vítima da necessidade de sucesso a curto prazo dos clubes brasileiros e nunca teve a oportunidade de realizar uma época inteira num clube.
À procura dessa estabilidade, passou pelo Fluminense, fez 75 jogos pelo São Paulo espalhados em duas épocas – saiu no final da segunda e acabou por ajudar a equipa a ficar no 4.º lugar.
Depois de mais duas experiências curtas no Santos e no Vasco da Gama, em 2022 voltou ao Fluminense (a meio da época) e, tendo a hipótese de se estabilizar, começou a ter sucesso.
Guiou a equipa até ao 3º lugar do Brasileirão, no início de 2023 venceu o Campeonato Estadual do Rio de Janeiro (o Carioca) – no qual perdeu a 1.ª mão da final com o Flamengo por 2-0, mas venceu a 2.ª por 4-1 – e, claro, venceu agora a Taça Libertadores.
Entretanto, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ansiava por um substituto de Tite no comando da seleção, desde a sua saída após o Mundial-2022. Assim, a solução encontrada pelo órgão foi nomear um treinador interino – Fernando Diniz.
Carlo Ancelotti tem sido apontado como o futuro treinador do Brasil, após o fim da época atual, mas o italiano afirmou não existir nenhum acordo, algo que seria do agrado do ex-jogador Romário, que é um confesso admirador de Fernando Diniz.
Assim chegou Fernando Diniz ao mês mais desafiante da sua carreira. Já a forma como o fez também diz muito sobre a sua personalidade. Para já, a Liberta já ninguém lhe tira.
Entre o jogo aposicional e o jogo funcional
«O jogo do Diniz não é posicional no que entendemos em ter os jogadores com posições delimitadas no campo. O Fluminense coloca muitos jogadores perto da bola, na mesma zona do campo, para desenvolver uma jogada em que sai um golo do outro lado do campo» - as palavras são de Victor Canedo, jornalista que passou pela Globo e atualmente é criador de conteúdos digitais do Fluminense, em conversa com A BOLA.
Já no programa Bem, Amigos, da televisão brasileira SporTv, Diniz disse que o seu jogo é «aposiocional porque os jogadores migram de posição. É um jogo mais livre, a gente se aproxima de setores de campo e aí há trocas de posição».
O Fluminense também conta com jogadores experientes como o lateral ex-Real Madrid Marcelo e o avançado argentino Germán Cano, que nas últimas duas épocas fez 80 golos.
Victor Canedo explica a influência desses dois jogadores: «O Diniz gosta muito de criar superioridade numérica no lado da bola, então é normal ver os dois extremos e o Marcelo, que em tese é lateral esquerdo, aparecerem todos do mesmo lado do campo. Depois há o Cano que consegue finalizar só com um toque.»
O jogo de Diniz não é, no entanto, infalível – o Fluminense está no 8.º lugar do Brasileirão –, mas, para Canedo, «é alguém que está propondo algo diferente e está a conseguir fazê-lo na prática, o que já é de louvar num futebol brasileiro que cria muitas barreiras, por questão de calendário, de cultura, falta de treinos, demissão rápida de treinadores e uma enorme resistência ao que é novo».
Mas Diniz resistiu e protagonizou uma campanha exemplar na Libertadores. Ficou em 1º no grupo, onde ganhou por 5-1 ao River Plate e eliminou depois o Argentino Juniors, o Olimpia e o Internacional, sem nunca precisar de prolongamento ou do desempate por penáltis.
Na final da Libertadores, o Fluminense bateu o Boca Juniors, na sua casa, o Estádio Maracanã, onde esta época só perdeu por duas vezes em 32 jogos. Conseguiu-o no prolongamento e por 2-1.
É o jogo mais importante da carreira de Diniz e marca o início de um mês que poderá definir a sua carreira.